Mulher Aranha teve a ajuda de nosso Alice
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de março de 1986
Até agora ninguém se lembrou de destacar que há um curitibano - Mauro Alice - na equipe que ajudou a fazer de "O Beijo da Mulher Aranha" o grande filme do ano (pré-estréia amanhã; lançamento quinta-feira, 20, no Palace Itália).
Reconhecido como o grande mestre da montagem no Brasil, Mauro Alice passou quase seis meses em Los Angeles, entre 1984/85, trabalhando na edição final de "O Beijo da Mulher Aranha". E pelo próprio ritmo do filme, a sua linguagem em vários planos - real e fantasia - a montagem foi fundamental para que "O Beijo da Mulher Aranha" atingisse a dimensão de obra que além de conquistar o público também venha colecionando premiações internacionais - as quais poderá se acrescentar, na noite de 24, os Oscars de filme, direção, roteiro (Leonard Schrader) e ator (William Hurt), aos quais foi indicado pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Comenta-se, mesmo que até Mauro Alice chegou a merecer muitos votos para também concorrer ao Oscar pela montagem do filme, numa categoria das mais disputadas.
Engenheiro químico da turma de 1948 da Universidade Federal do Paraná, Mauro Alice acabou preferindo o cinema do que a solidez de uma carreira na área em que se formou. Radicado há mais de 30 anos em São Paulo, não perdeu, entretanto, seus vínculos com Curitiba, onde, pelo menos duas vezes por ano, vem rever parentes e os muitos amigos que aqui deixou. Há 8 anos, quando o empresário Julio Kruger faturava milhões de cruzeiros pela Guaíra, chegou a contratar Mauro Alice para aqui se fixar, dirigindo então elogiados documentários e filmes publicitários. Mas com a desativação da Guaíra - agora apenas atuando na área de vídeo - e melhores chances de trabalho em São Paulo, Mauro deixou novamente Curitiba.
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Quando o antigo Instituto Nacional do Cinema promovia a festa do "Coruja de Ouro", destinado a premiar os melhores de nosso cinema, chegou a ser premiado pela montagem de "O Anjo da Noite", um dos mais introspectivos filmes de Walter Hugo Khouri - cineasta, aliás, que recorre sempre ao seu trabalho para a edição dos filmes que dirige.
Mauro Alice tem estórias deliciosas sobre os bastidores do cinema, observador que é de detalhes e tipos humanos. E as quais poderia acrescentar agora um primoroso relato das dificuldades na finalização de "O Beijo da Mulher Aranha", que acompanhou por dentro. Inclusive deve-se ao seu talento, a dificílima tarefa de reduzir mais de 3 horas da metragem original aos 140 minutos da versão do filme estrelado por Hurt, Raul Julia e Sônia Braga que, nesta semana, chega finalmente ao público curitibano.
LEGENDA FOTO 1 - Mauro Alice: montagem de "O Beijo...".
LEGENDA FOTO 2 - Raul Julia e Sônia Braga: em "O Beijo da Mulher Aranha", estréia quinta-feira no Palace Itália.
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