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Aramis

Nas telas, um olhar feminino

Com exceção de duas estréias - "Os Três Fugitivos" e do frágil "Salto para a Glória" (Take it Easy), de Albert Magnoli (cujos créditos incluem "Purple Rain", com o cantor Prince), em exibição no Bristol - a semana continua com muitas fitas em continuidade e algumas reprises. Numa coincidência, filmes que têm um olhar feminino sobre diferentes aspectos, mostrando novas óticas da realização cinematográfica em relação ao ponto de vista da mulher. "Acusados" (Condor, 5 sessões), de Jonathan Kaplan - que valeu o Oscar de melhor atriz a Jodie Foster, é uma polêmica (embora bastante feminista) discussão da mulher violentada transformada de vítima a ré. Realizado com seriedade, com um bem enxugado roteiro de Tom Topor, a colocação da personagem Sarah Tobias, irresponsável e sexualmente liberal - mas nem por isto justificando-se o ataque que sofre por parte de três homens - contém elementos para muitas divagações e o filme justifica ser visto. Para comparar a interpretação de Jodie Foster, pode-se ver os trabalhos de duas outras atrizes que foram nominadas ao Oscar: Sigourney Weaver, que concorreu na categoria principal por sua interpretação da naturalista americana Dian Fossey (1932-1985) em "Nas Montanhas dos Gorilas" (agora em exibição no Cinema I) e, num papel totalmente diverso (no qual até se permitiu satirizar a personagem anterior), como a superexecutiva mau caráter Katherine Parker em "Uma Secretária de Futuro" (Working Girl), de Mike Nichols - que continua em cartaz no Plaza. A selva de Ruanda, na África, onde a idealista Dian Fossey - uma espécie de Chico Mendes de saias (ambos foram assassinados às vésperas do Natal e os criminosos continuam impunes) vai tentar salvar os últimos gorilas, ou a selva (de concreto) nova-iorquina, na qual a ingênua Tess McGill (Melaine Griffith, que também concorreu ao Oscar de melhor atriz), se vê enganada por uma executiva ambiciosa, mostram formas diferentes de disputa e interesses - ambos enfrentados pelas mulheres. É um prisma que aproxima, se o espectador assim entender, estes filmes indicados ao Oscar e que, dentro da temporada, estão entre os que obtiveram melhores bilheterias. Vampira bem humorada - Além da mulher-vítima, da mulher-idealista e da mulher-mau caráter, por que não a mulher-vamp? Não a vamp simbólica, sinônimo de "femme-fatale", mas a vampira assumida. Só que com graça e sátira, como faz a sensualíssima Grace Jones, negra, alta, belíssima - "Vamp... A Noite dos Vampiros" (São João, 5 sessões). Dentro da poluição de filmes de terror explícito, esta comédia para assustar (quem?) realizada por Richard Wenk pode surpreender. Seu roteiro é curioso: três universitários (Chris Makepeace, Gedde Watanabe e Robert Russler, todos new faces no cinema) descobrem que por trás do "After Dark Club" e de seus shows eróticos, há fatos estranhos, comandados pela incrível Katrina, líder de um grupo de vampiras. A partir de então, alterna sustos e comédias, num "terrir" que Ivan Cardoso adoraria ter feito - ele que já andou às voltas com "As Sete Vampiras" há alguns anos. Outras opções - No campo das estréias, "Salto para a Glória" - com uma dupla também desconhecia (Mitch Gaylord / Janet Jones), direção de Albert Magnoli - tem danças, angústias juvenis e casos de amor, numa fórmula para o público adolescente. Na área de terror, "Noite Alucinante - Parte I - Onde Tudo Começou", de Sam Raimi - medíocre apesar dos prêmios recebidos em festivais de filmes de terror, continua no Itália. A produção nacional está bem representada: "O Homem da Capa Preta" de Sérgio Rezende (Cine Luz), premiado em Gramado há dois anos, volta ao cartaz provando que, mesmo com o vídeo nas locadoras, continua a ter público. E o excelente "Terra para Rose", de Tetê de Moraes, o mais pungente documentário sobre a questão da terra realizado no Brasil (Ritz, 3ª semana) é visão obrigatória. Aos que apreciam checar transposições literárias, "Crônica de uma Morte Anunciada", de Francesco Rossi - sobre a novela de Garcia Marquez - é um bom exercício (Grof). "Mississipi em Chamas", de Alan Parker, continua no distante Cine Guarani e para a sessão da meia-noite de amanhã (Groff) está programado "Atrás daquela Porta", de Liliana Cavanni. LEGENDA FOTO - Grace Jones, cantriz, negra sensual, é "Vamp...", em exibição no São João.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
19/05/1989

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