Nídia, o corpo consumido
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de agosto de 1975
Para 8 milhões de espectadores, ela é o símbolo sexual de sonhos e desejos proibidos. Para os comerciantes do cinema, ela é sinônimo de ótimas bilheterias. Para os comerciantes do cinema, ela é sinônimo de ótimas bilheterias. Para os puritanos, ela é uma desavergonhada que vende seu corpo em imagens coloridas. Na verdade, ela é uma moça tímida, sensível assustada com o consumo de seu físico pela cruel indústria do show bussines, em que, no final, é apenas um produto comercial, explorada cruelmente. Nídia de Paula, fluminense de Lage do Muriaé, uma cidadezinha de dois mil habitantes na divisa com o Estado de Minas, 25 anos, treze filmes eróticos em apenas três anos de carreira, Sex symbol que tem sua imagem de mulher bonita oferecida em cenas maliciosas, out-doors, gigantescos, num consumo popular que até hoje rendeu milhões aos produtores, mas para ela não deu mais do que Cr$ 50 mil - insuficiente sequer para comprar um apartamento para sua mãe. Como Bebel, a personagem de um filme de Maurício Capovilla, Nídia de Paula começou como modelo de publicidade, aparecendo em seu corpo bronzeado e de linhas perfeitas em milhares de out-doors, anunciando o Copertone, na campanha que Mauro Salles veiculou em todo o pais. Depois veio o anúncio do Sabão Rio, também explorado seu físico privilegiado - e a partir de "Missão Matar" (1972 de Alberto Pieralisi), onde de mera figurante ganhou, graças à simpatia do astro Tarcísio Meira, uma pequena ponta, Nídia não parou mais de firmar. "Os Mansos" "A Sombra de Um Sorriso", "Um Virgem na Praça" "Como Evitar Um Desquite", "Um Varão Entre as Mulheres" e "O Trote dos Sádicos", foram papéis pequenos, em que não chegou a posar nua. Para ganhar o estrelato teve que se desinibir e tirar as roupas completamente: "As Moças Daquela Hora" (filme de episódios dirigido por Paulo Porto), "Ainda Agorro Essa Vizinha", "O Leito da mulher Amada", "O Supermanso", "Cada Um Dá O Que Tem" e "O Sensualista" a trouxeram tal como nasceu em sequências eróticas, raramente de bom gosto Filmes em que aparecia poucos minutos, realizados há três anos, agora em que ela é sucesso de bilheteria, vem sendo relançados - destacando seu nome como principal estrela, num engodo para o público, pois na verdade sua presença é mínima. "O Sensualista", produção de Alex Adamil (Paris Filmes), ainda inédito, é um exemplo disto: Nídia só concordou em fazer uma sequência de strip-tease, com menos de cinco minutos de projeção na tela, mas seu nome (e seu corpo) estarão nos cartazes e out-doors como o grande chamariz deste filme dirigido pelo ex-ator Egídio Eccio, que em 1968, foi quem acabou concluindo o atribulado "Maré Alta", produção do coronel Rubens Mendes Moraes.
Após uma permanência de tres meses na Europa e alguns sérios problemas de amor & dor, Nídia Maria de Paula - este é o seu nome no registro civil - está decidido a não se deixar consumir pela engrenagem do comercialismo cinematográfico. Tem recusado convites para fazer novos filmes eróticos, está tentanto ganhar a vida honestamente como modelo e manequim, aguardando chance de mostrar sua sensibilidade de atriz. Ela, que aos 8 anos, já fazia teatrinho infantil e, adolescente, tomou parte em peças como "A Exceção e a Regra", de Brecht, e "Picnick no Front" de Arrabal Sincera, extremamente honesta ao desabafar seus problemas, Nídia dá um depoimento sincero sobre uma fase de nosso cinema: "Só aceitei fazer filmes como "O Supermanso" ou "O Sensualismo por estar na pior, financeiramente " ... Ainda sem poder livrar-se totalmente desde esquema, sua vinda a Curitiba, na quinta-feira para badalar" Cada Um Dá O Que Tem"... (ela aparece nua no episódio "Uma Grande Vocação, de Silvio de Abreu) ainda foi ima consequência desta fase. Afinal, seu pai não fala com ela há um ano. E embora hoje seja espiritualista, aproximada da filosofia Rosa Cruz, sua formação católica foi total:
- Até os 18 anos eu era professora de catecismo em Lage do Muriaé.
LEGENDA FOTO - Nídia
Enviar novo comentário