No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de setembro de 1987
Marcelo Marchioro, ex-diretor do Teatro Guaíra, primeiro curitibano a se interessar pelo trabalho de Philip Glass (no ano passado, na Holanda, passou 5 horas num teatro de Amsterdã, assistindo "The Civil Wars"), estava eufórico na abertura do Free Jazz. Após a estréia de "O Tempo e a Vida de Carlos S. Carlos", texto e direção de Emílio Di Biase, no Teatro Anchieta, os dois conseguiram chegar a tempo ao Anhembi e aplaudir Glass.
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Através de um amigo comum, o jornalista João Cândido Galvão, da revista "Veja" - que conheceu Glass em Nova Iorque, em 1980 - compositor e músico, prometeu assistir "O Tempo e a Vida de Carlos S. Carlos", neste final de semana.
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O Free Jazz cresceu, naturalmente, em termos de público e participação a partir de ontem, sexta-feira. O espetáculo de quinta-feira foi desigual. Depois do forró de Dominguinhos, apresentou-se o grupo mais fraco que veio ao Brasil - o Spyro Gyra, que busca incrementar o Fussion, criado por Miles Davis para terminar com as barreiras entre Jazz e Rock. Em compensação, o encerramento foi com Sarah Vaughan, o nome maior do festival, que voltou a cantar na sexta-feira, após Art Blakey e Jazz Messengers - na noite aberta pelo brasileiro Nivaldo Ornelas e seu grupo.
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A apresentação deste sábado não deve terminar antes das 4 horas da manhã. Explica-se: Hermeto Pascoal, o bruxo dos sons, vai abrir a noite, seguida da Gil Evans Orchestra, com 24 integrantes - e que tem a presença de Airto Moreira na percussão. Airto e Hermeto (mais Heraldo Monte e Theo de Barros) formaram o histórico Quarteto Novo, nos anos 60. Gil, 75 anos, guru de jazz a quem Miles Davis deve os arranjos históricos de seus álbuns "Sketches of Spain", "In a Silent Way" e outros, é um declarado admirador de Hermeto e grande amigo de Airto - como contamos em nossa coluna de ontem. Claro que o som vai rolar por muitas horas, sendo imprevisível o que pode acontecer no Anhembi. Porque o último set tem The Chick Corea Elektric Band, que trouxe a mais pesada parafernália sonora do festival.
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Fita na cabeça lembrando um índio americano, Gil Evans é um dos superstars do Free Jazz que mais circula no Anhembi e, naturalmente, no Maksoud Plaza. Embora não goste muito de dar entrevistas, é facilmente contatado, assinando muitos autógrafos. Para domingo a partir das 14 horas, no "150", está previsto seu Workshop, com músicos e interessados. O espaço sofisticado do Maksoud deverá ficar totalmente lotado.
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As palestras que se realizaram paralelamente, à tarde, a partir das 16 horas, também foram interessantes. Um experiente organizador de festival, John Philips, falou quarta-feira sobre o "Jazz no Japão"; quinta-feira, Talaya Trigueiros, Kute FM, de Los Angeles, trouxe informações sobre o "Jazz no Rádio". E sexta-feira, a palestra foi bem técnica: "Tecnologia eletrônica da guitarra", com Warren Sirota, jornalista da revista "Guitar Player".
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Entre tantos aspectos que fazem o Free Jazz, nesta sua terceira edição, merecer admiração, é a sua organização impecável. As irmãs Monique e Sylvia montaram um esquema altamente profissional, com assessorias que atendem os vários setores, inclusive uma área dedicada a segurança - tem um controle firme, mas educado, a equipe mais requisitada hoje nos meios artísticos, a Fonseca's Gang.
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