No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de novembro de 1987
Alguns detalhes da histórica jam-session com o Traditional Jazz Band no Blue Note Jazz Clube, na quinta-feira da semana passada - que deveriam ter sido publicados na edição de domingo. Mas como a coluna foi dividida com um anúncio, aqui está o complemento que faltou.
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O empresário Antônio Waldi, dono do 505, revelou uma nova face de seu talento comercial: o de leiloeiro. Como Sizão ofereceu dez discos do elepê com a trilha sonora do filme "Eros" (81, de Walter Hugo Khouri), que está sendo reeditado inaugurando a etiqueta do TJB, os mesmos foram leiloados em benefício do Blue Note. Com apenas seis cópias arrematadas, a caixa do clube foi reforçada em Cz$ 22 mil. Apesar do êxito, Waldi não pensa em pedir seu registro na Junta Comercial como leiloeiro.
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Reeditando a trilha sonora de "Eros" - gravada há seis anos para o filme de Khouri (um dos grandes fãs do Traditional, e que já os incluiu em três de seus filmes), o grupo cria a própria etiqueta, "para deixar de encher a barriga dos gravadores" diz Sizão, anunciando que o décimo elepê do grupo, já gravado, está sendo mixado nos EUA.
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O primeiro elepê do TJB saiu em 1969 pela extinta Codil, cinco anos depois do grupo ter sido formado. O segundo só saiu em 1974, em produção independente, depois que o conjunto, então ainda liderado pelo clarinetista Tito Martino (hoje, felizmente radicado na Suíça) havia feito uma excursão pelos EUA, inclusive com participação no New Heritage Festival , em New Orleans.
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Em 1975, pela Poligram, o TJB gravou "A Era de Ouro do Dixieland", o mais comercial álbum do grupo. Depois vieram dois discos no Estúdio Eldorado, a trilha de "Eros", e o "Sweet Chariot" - somente com negro spirituals, patrocinado por uma entidade adventista. O último disco do TJB e a trilha sonora do filme "Eu" (1987, de Walter Hugo Khouri), com distribuição do Estúdio Eldorado. "De agora em diante só faremos discos em nossa etiqueta" diz Eduardo Burgni, o Dudu - único do grupo original que permanece há 20 anos. Alias, Dudu recordava aos amigos, a primeira vez que o Traditional se apresentou em Curitiba, no Paiol; na noite de 12 de agosto de 1972, quando, na platéia um dos mais entusiastas a aplaudir o grupo era o então prefeito Jaime Lerner.
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Entre as muitas mulheres bonitas que, no 505, vibravam com a noite de jazz, Cristina Moro, a morena sensual das artes plásticas, ex-Momento/Arte, agora próspera industrial de jóias, que com uma linha de produtos sofisticados está registrando mais um original nome para suas empresas - Aliagem. Formada em restauração de afrescos em Florença - cidade na qual morou por quatro anos, viajando em média três vezes por ano a Europa (eventualmente faz concessões e vai fazer compras na 5ª Avenida, em Nova Iorque), a bela Cristina ficou tão entusiasmada com o pianista Callia Jr., do Traditional, que decidiu: vai tirar seu Steinway da garagem e voltar aos teclados pois, em sua infância, como moça de família tradicional e de muitos bilhões, fez o curso de piano. Só que as viagens internacionais, as artes plásticas e algumas paixões dilacerantes, a fizeram abandonar os teclados - aos quais agora pretende voltar "com um balanço jazzístico". Um dos estimuladores pelo seu retorno é o vice-presidente do Blue Note, Caetano Rodrigues (e sua esposa, Liesle), seus vizinhos.
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Outra presença feminina, deslumbrante, enfeitando o jam-session do 505: a escultural Mariana Pacheco, morena paulista, 1,80, atriz, que preenchendo totalmente a "Receita de Mulher" de Vinícius de Moraes, desmancha corações nos meios artísticos da cidade. Estuda teatro, já participou das "falações poéticas", vai estrelar uma nova montagem de "Viuva, porém honesta", de Nelson Rodrigues e quer aprender tudo sobre jazz. Mauro Silka, colunista de automobilismo, vai tentar ensina-la.
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Pianista clássica, recém-chegada de Foz do Iguaçu, onde fez concertos com patrocínio de Itaipu e preparando-se para lançar seu novo livro sobre didática dos teclados, Suzy Queiroz - irmã do vice-governador Ary Queiroz - também entusiasta do jazz. Escoltada por Paulo Oscar Mueller, empresário do ramo de presentes e jazzmaníaco furioso, Suzy lamentava não ter se lançado até hoje a jazz, ficando com os clássicos. "Mas nunca é tarde para começar", aconselhava sua amiga Margarida Sansone, colunista da "Gazeta do Povo", de passagem também pela noite jazzística.
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Enquanto o presidente do Blue Note, Eduardo Guy Manoel, registrava toda a noite em vídeo, o simpático Lincoln Félix, fotógrafo em ascensão na cidade, operava nada menos que 180 imagens para os arquivos do clube do qual é diretor.
LEGENDA FOTO: Traditional Jazz Band: uma noite da melhor música em Curitiba
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