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Aramis

A noite dos Desgravados

Estamos aqui Para cantar pra vocês Este canto do Mapa do Sul do País. Você, vem irmão, Junte a nós uma voz, Cante a nossa canção De chegar no Brasil. A I Mostra de Compositores Paranaenses (Teatro do Paiol, hoje última apresentação, 21 horas) poderia também chamar-se "A Noite dos Desgravados". Pois com exceção de Paulinho Vítola, 27 anos, poeta, compositor, publicitário, que escreveu o texto e dirigiu o espetáculo, nenhum dos múltiplos talentos que ali mostram, em quase três horas, belas músicas conseguiram, até agora, ter suas músicas gravadas. E mesmo Paulinho só viu editadas num compacto-duplo, de circulação dirigida, os quatro principais temas de Cidade Sem Portas e num compacto-simples, de uma etiqueta quase fantasma (Orange), uma pálida gravação de "Vestido Branco" (em parceria com Lápis, nas vozes do extinto Bittem 4). Com este espetáculo de bom gosto e caprichado, o que se deve creditar ao esmero de Vítola, é feita uma amostragem para o público do chamado MAPA - Movimento Atuação Paiol, destinado a "veicular nacionalmente o trabalho de compositores do Paraná". As intenções são boas e a idéia não é nova. Mas o caminho, para chegar ao esquema comercial das gravadoras, é longo e pedregoso, e o próprio Paulinho, cartógrafo deste projeto, tem plena consciência disso. O que não deixa de ser lamentável, ouvindo-se músicas de grande criatividade, como "Eu Procuro Você", de Renato Pospissil, 22 anos, que até agora só conseguiu mostrar suas composições em festivais de circuito fechado, Gerson Fisbein, 17 anos, e João Gilberto Tatára, 28 anos. Com um roteiro inteligente, apresentado pelo correto ator Reinaldo Camargo, ilustrado com bons slides (muitos de autoria de Mário Kremer e Jack Pires), a I Mostra de Compositores Paranaenses, infelizmente com uma curta temporada de fim de semana, ultrapassou as expectativas. Jovens talentosos, de várias tendências e formações - do canto denso de José Roberto Oliva, 21 anos [às] vozes perfeitas do Opus 4 (José, Sérgio e Fábio Molteni, mais Amauri Lustosa), uma mostra que neste Paraná de todas as gentes, abaixo do "Paralelo 24" cantado por Paulinho em sua música-lamúria, já há material para, no mínimo, um bom elepê. Melhores instrumentistas do que vocalistas, Beatriz Rocha (que junto com os manos Geraldo e Luiz Antonio forma o surpreendente conjunto Toioba) e Celso Renato Loch (27 anos, ex-garoto prodígio do Clube Mirim M-5) também cantam suas músicas, assim como o bom letrista Carlinhos, do grupo Ogum. É claro que há nesta primeira mostra muitas ausências, entre as quais o bom Lápis, Braulio Prado, talento maior da música que, infelizmente, abandonou o teclado por uma carreira de advogado e RP e muitos outros que ainda estão para ser "desentocados" de sua modéstia, humildade e som domiciliar. Os abraços que Paulinho, grande idealizador do projeto, está recebendo são merecidos. Muitos merecidos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
06/04/1975

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