A noite dos Desgravados
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de abril de 1975
Estamos aqui
Para cantar pra vocês
Este canto do Mapa do
Sul do País.
Você, vem irmão,
Junte a nós uma voz,
Cante a nossa canção
De chegar no Brasil.
A I Mostra de Compositores Paranaenses (Teatro do Paiol, hoje última apresentação, 21 horas) poderia também chamar-se "A Noite dos Desgravados". Pois com exceção de Paulinho Vítola, 27 anos, poeta, compositor, publicitário, que escreveu o texto e dirigiu o espetáculo, nenhum dos múltiplos talentos que ali mostram, em quase três horas, belas músicas conseguiram, até agora, ter suas músicas gravadas. E mesmo Paulinho só viu editadas num compacto-duplo, de circulação dirigida, os quatro principais temas de Cidade Sem Portas e num compacto-simples, de uma etiqueta quase fantasma (Orange), uma pálida gravação de "Vestido Branco" (em parceria com Lápis, nas vozes do extinto Bittem 4). Com este espetáculo de bom gosto e caprichado, o que se deve creditar ao esmero de Vítola, é feita uma amostragem para o público do chamado MAPA - Movimento Atuação Paiol, destinado a "veicular nacionalmente o trabalho de compositores do Paraná". As intenções são boas e a idéia não é nova. Mas o caminho, para chegar ao esquema comercial das gravadoras, é longo e pedregoso, e o próprio Paulinho, cartógrafo deste projeto, tem plena consciência disso. O que não deixa de ser lamentável, ouvindo-se músicas de grande criatividade, como "Eu Procuro Você", de Renato Pospissil, 22 anos, que até agora só conseguiu mostrar suas composições em festivais de circuito fechado, Gerson Fisbein, 17 anos, e João Gilberto Tatára, 28 anos.
Com um roteiro inteligente, apresentado pelo correto ator Reinaldo Camargo, ilustrado com bons slides (muitos de autoria de Mário Kremer e Jack Pires), a I Mostra de Compositores Paranaenses, infelizmente com uma curta temporada de fim de semana, ultrapassou as expectativas. Jovens talentosos, de várias tendências e formações - do canto denso de José Roberto Oliva, 21 anos [às] vozes perfeitas do Opus 4 (José, Sérgio e Fábio Molteni, mais Amauri Lustosa), uma mostra que neste Paraná de todas as gentes, abaixo do "Paralelo 24" cantado por Paulinho em sua música-lamúria, já há material para, no mínimo, um bom elepê. Melhores instrumentistas do que vocalistas, Beatriz Rocha (que junto com os manos Geraldo e Luiz Antonio forma o surpreendente conjunto Toioba) e Celso Renato Loch (27 anos, ex-garoto prodígio do Clube Mirim M-5) também cantam suas músicas, assim como o bom letrista Carlinhos, do grupo Ogum. É claro que há nesta primeira mostra muitas ausências, entre as quais o bom Lápis, Braulio Prado, talento maior da música que, infelizmente, abandonou o teclado por uma carreira de advogado e RP e muitos outros que ainda estão para ser "desentocados" de sua modéstia, humildade e som domiciliar. Os abraços que Paulinho, grande idealizador do projeto, está recebendo são merecidos. Muitos merecidos.
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