Optimun! Um álbum com som curitibano
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de outubro de 1990
Para que o ano não termine sem que praticamente nada de importante tenha ganho a forma de disco em termos de música popular, dois fatos alvissareiros: após quase cinco anos de gestação, o combativo Hilton Barcelos, gaúcho de Porto Alegre, mas há mais de 30 em Curitiba, afinal conseguiu ver pronto o seu "Arquétipos", um projeto pessoal, feito com suor & personalidade.
Sem uma gestação tão difícil graças ao fato de ter um "pai" mecenas, o engenheiro-poeta-homem da noite Sérgio Bittencourt Martins, 34 anos completados dia 26 de agosto, "Optimun in Habbeas Coppus" está na reta final, para um lançamento muito badalado nos próximos dias.
Poeta inspirado por doses do melhor scotch, simpático e estimado na noite curitibana a qual trouxe maior alegria desde outubro de 1988 quando investiu seus recursos de engenheiro-construtor ("Monte Castelo") para fazer de um casarão em ruínas na esquina das ruas Dr. Murici e Saldanha Marinho, um ponto de encontros para quem gosta da noite, ao som, sempre que possível, de boa música, Serginho decidiu que os talentos musicais que passam por sua casa mereciam um disco. Assim convidou seu amigo Arcy Neves, 32 anos, hoje advogado e administrador de empresas, um dos quatro Metralhas que, voltando ao campo de batalha musical (re)encontraram um público fiel (e ampliado), para auxiliá-lo na produção de um disco que mostre, coletivamente, o trabalho de gente que, profissional ou amadorísticamente, com maior ou menor intensidade, vem se apresentando em sua casa.
Gravado no Audisom, com bons cuidados técnicos, arranjos competentes e, sobretudo, procurando dar uma visão diversificada da música feita por paranaenses, "Optimun In Habbeas Coppus" constitui, em si, o roteiro para um show coletivo que, aliás, deve acontecer em vários palcos - em Curitiba e cidades vizinhas - para que também se aplauda ao vivo a música gravada.
Dentro da pobreza musical - fonográfica do Paraná - mais um ano termina e não tivemos nem uma dezena de discos/fitas com o pessoal da terra (só no Rio Grande do Sul, passaram de 200 as produções com artistas locais), o projeto bancado por Sérgio Bittencourt funciona como janela para artistas de várias gerações. Por exemplo, Os Metralhas, com seu repertório de hits de Lennon/McCartney, mostram o som que aqui faziam nos anos 60/70 - e cuja permanência os levou há, desde 1988, quando o grupo foi reestruturado, a terem mais de 50 apresentações sempre com sucesso - embora a imagem de Paulo Hilário, Arcy Alfredi Arruda Amaral (hoje médico), e Vitório dos Santos - esteja aproximando-os mais de executivos de meia-idade do que roqueiros.
Bráulio Prado, 47 anos a serem completados no próximo dia 10 de dezembro, cantor desde os 3 - quando vestido e cantando ao estilo tirolês de Bob Nelson, era ídolo do Clube Mirim M-5, na "Voz Nativa da Terra dos Pinheirais" (Rádio Guairacá, que saudades!), ótimo pianista, mostrando que a bela voz continua a mesma, homenageia seu parceiro e amigo de muitas noitadas, Lápis (Palminor Ferreira Rodrigues, 1943-1978) com uma nova leitura de "Vestido Branco". Pedro Luís, 45 anos, outro veterano que há quase 30 anos já fazia dois compactos e depois, com o nome artístico de Chris McClayton/Cristiano, tentou escaladas nacionais, dá a "Curitiba", ufanista composição de Paulo Hilário, uma interpretação alegre, tentando que a mesma seja uma espécie de "New York, New York", ao enaltecer generosamente a nossa cidade. Três excelentes instrumentistas, contratados do Habbeas Coppus - Hildebrando (piano), Boldrine (Baixo) e Tiquinho (bateria) dão o toque jazzístico com "Periscópio", enquanto o promotor Joaquim Tramujas, tradicionalista feroz rende-se a beleza de Gershwin para interpretar "Summertime". Reinaldinho Godinho, um dos mais ternos compositores paranaenses, infelizmente figura musical rara na noite, foi desentocado de seu ninho em Santa Felicidade, para interpretar "Mulata Absoluta", uma das parcerias que Paulo Leminski (1944-1989) deixou com Moraes Moreira. Da nova geração, Marcelo interpreta "A Hora é Essa" dos tempos em que Heitor Valente, mais boêmio e menos yuppie como nos dias atuais, compunha etilicamente com o carioca César Costa Filho. Isabel (da Silva Ferreira, 26 anos), voz-revelação dos últimos meses no Habbeas, com muita bossa interpreta "Compaixão", síntese do talento de dois Gersons bons caráteres - o Fisbein e o Biantinez.
Pimenta é o intérprete e parceiro de Serginho em "Bacos Parceiros" e para mostrar que não foi apenas o mecenas, o produtor demonstra seus méritos de declamador ao encerrar o disco com uma homenagem ao poeta que mais curte, o lusitano Fernando Pessoa (1888-1935) - ao som de "Misty" (Errol Garner) que Saul tira na surdina de seu dourado pistão. Ótimos músicos participaram nas gravações - Bráulio, Scarante (guitarra), Boldrine (baixo), Fernando (bateria), Anselmo (sax/trombone) e Saul.
Paulo Hilário, da National Propaganda, está cuidando da arte da capa e encarte e os dois mil discos, "de uma tiragem que esperamos seja a primeira" já chegam na próxima semana, diz Arcy Neves. Serginho, otimista, promete continuidade: "Se houver retorno logo teremos o "Optimun In Habbeas Coppus - II". Tomara!
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