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Aramis

O cão do Jardim Social e a árvore para Salete

Histórias do Natal curitibano. Talvez um dia apareça um Charles Dickens tupiniquim para perpetuar, misturando ficção e realidade, estórias & histórias no Natal ecológico que Curitiba desejou inovar. Por enquanto, neste 25 de dezembro, ficam apenas anotações singelas, para marcar a data. xxx Manhã de domingo, 23 de dezembro. Como faz todos os fins de semana, o advogado René Dotti acorda às 6 horas da manhã e sai para uma caminhada pelas ruas do Jardim Social. A prática deste exercício matinal é que lhe garante, passados os 50 anos, excelente forma física e disposição para dias estafantes - como secretário da Cultura e, "nas horas vagas", supervisionar causas especiais de seu famoso escritório de advocacia. René, sempre solícito e atencioso, nota que um enorme cão começa a segui-lo. Intrigado, pensa que o animal pertence a algum morador do bairro e não se importa. Mas o animal aproxima-se e mostra-se carinhoso. René indaga a alguns moradores a quem pertence o animal e ninguém sabe. Ao voltar para sua mansão no privilegiado ponto da Avenida Nossa Senhora da Luz do qual descortina uma das mais belas vistas panorâmicas da cidade, René não está mais só. O cão o acompanha e não mostra disposição de sair. Sente-se abandonado e decidiu "adotá-lo" como seu novo dono. O que fazer! René - que em sua generosidade de kardecista atuante, que sempre faz generosas contribuições a várias instituições assistenciais, decide também colaborar, ao menos provisoriamente, com a Sociedade Protetora dos Animais - aliás, tão abandonada pela nossa Prefeitura que só sobrevive graças a um grupo de idealistas liderados pela querida Ingerberg "Humel Humel" Rust. Assim, na mansão de René, há mais um cão. Que recebeu atenção necessária: foi levado a um veterinário para ser examinado, ganhou banho com perfumes e ali permanece - com a simpatia da esposa do advogado, a bela Roserita e suas duas filhas. Claro que, tão logo apareça o "legítimo proprietário" o animal será devolvido. Caso contrário, formalmente, estará adotado pela família Dotti. xxx Favela da Vila Pinto. Uma semana antes do Natal, uma associação beneficente promove uma festa para alegrar as crianças do bairro. Entre centenas de crianças - pobres, maltrapilhas, subnutridas - uma delas se destaca pela tristeza no olhar. Quietinha, tímida. Uma das senhoras que promove a festa a procura para perguntar o que ela gostaria de ganhar do Papai Noel. A menina, tímida, demora até a dizer o seu nome - Salete do Rocio - e só com muita insistência revela seu sonho maior: gostaria de ter uma verde árvore de Natal. Um pedido singelo, mas que traz um problema: havia vários brinquedos para as crianças mas nenhuma árvore de Natal. Ofereceram outras opções à menina Salete mas ela recusou. Queria porque queria uma árvore de Natal. Assim, a solução foi negociada: "Papai Noel" voltaria trazendo a árvore. Mas levar apenas um pinheirinho não adiantaria. Além do mais, a venda destas árvores estão controladas. Surge então a colaboração de um comerciante, dono de uma peixaria, que tocado pela singeleza do pedido, faz mais do que simplesmente financiar a compra de uma bela árvore de Natal: a complementa com peças luminosas e mais um presente extra. Salete teve, assim, o seu verdejante Natal.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
25/12/1990

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