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Aramis

O caso sem (muita) classe de Melwin

LEGENDA FOTO 1 - Glenda e Segal, nos traços do caricaturista americano Hirshfeld. Roteirita, produtor e por último diretor, Melvin Frank, americano de Chicago, aos 60 anos obtem seu primeiro momento de glória como realizador: a comédia "Um Toque de Classe" (cine Rivoli) teve algumas nominations para o Oscar-74 e valeu à inglesa Glenda Jackson seu segundo boneco dourado em menos de 10 anos de carreira cinematográfica. Durante muitos anos, Melvin Frank formou dupla com Norman Panam, inicialmente como roteirista: "My favorite blonde", 1942, de Sidney Landfield; "It had to be you", 1947, de Don Hartman e Rudolph Maté e o famoso "Natal Branco" (White Christmas") que Michael Curtiz (1888-1962) dirigiu há 20 anos, com músicas de Irving Berlin (Israel Balin, Siberia-1888, nos EUA desde 1893). Lançando-se a direção, juntos fizeram a partir de 1950 algumas comédias incosequentes, entre as quais "Cabeça de Pau" (Knock on wood, 54) e uma tentativa de reeditar a série "The road to...", que durante anos havia garantido populariade à dupla Bob Hope-Bing Crosby. Finalmente diretor solista a partir de 1958 ("The Trap"), Melvin Frank, entre outros "pecados", cometeu uma adaptação musical das histórias de "Ferdinando" ("Li'l Abner", de all Capp) em 1960, que até hoje os quadrinhologos não lhe perdoam. Mas em compensação, há nove anos, garantiu o tutu para Richard Lester realizar uma das suas melhores comédias - "Um Escravo das Arábias em Roma" ( A funny thing happened in the way to the Forum", 65), canto de cisne do inesquecível Buster Keaton (1896-1969). Perante tal currículo, era natural uma certa reserva em relação a este "A Touch of Class", em que pese a garantia de boa interpretação do casal central - a premiada Glenda e o seguro George Segal, que ainda há 8 dias vimos na incrível criação do antológico "Como Livrar-me de Mamãe"desperdiçado, criminosamente, num lançamento obscuro no cine Excelsior. E apesar de toda entusiástica boa vontade, "Um Toque de Classe"é frustrante, em que pese as boas idéias do roteiro - desenvolvido pelo próprio Frank em parceria com Jack Rose, e a interpretação do casal. No caso de Glenda, apesar de toda a nossa admiração que ela merece e o fato de desconhecermos os filmes que valeram as nominations das outras candidatas (derrotadas), a sua escolha parece discutível. Por favor, entendam: não que ela não esteja bem na interpretação de Vioki Alessio, mas porque o tipo do papel era para ela tirar de letra, experiente e talentosa como é. A possibilidade de identificação do problema com as platéias urbanas, principalmente das classes média e superior - um homem de meia idade que se apaixona por uma mulher independente (desquitada, dois filhos), mas que não deseja abandonar a (rica) esposa e o lar - faz com que o filme motive uma atenção de circunspectos esposos e aflitas esposas, muitas, talvez, identificando-se com o problema (da leg'tima ou da filial, conforme o caso). Os diálogos inteligentes e sarcásticos das primeiras seqüências vão perdendo o ritmo de chicote proporcionalmente ao crescimento do affair, para chegar, no final, quase ao dramalhão. Também imperdoáveis algumas seqüências de pastelão como a briga de travesseiros e abajures no hotel. Em compensação, algumas referências cinematográficas passam quase despercebidas: a citação do "The Funny Thing Happened in the Way To The Forum" quando Vicki reclama a Steve, na penúltima seqüência, de tê-lo visto saindo do teatro com a "matris" Gloria (Hildegard Keil) ou a lacrimogênica seqüência na televisão de um clássico do mesmo gênero dramático o sensível "Desencanto" (Brief Encounter), 1945, de David Lean, com Trevor Howard e Ingrid Bergman também vivendo um romance proibido. A publicidade da 20th Century Fox procura, explorando o filão nostálgico, lançar Glenda Jackson-George sega, como um novo "casal" como foram, marcantemente; Myrna Loy William Powell, Fred Astaire-Ginger Rogers e Spencer Tracy-Katharine Hepburn, citando ainda Rock Hudson-Dorys Day este último apesar do sucesso de algumas comédias aparentemente sofisticadas ("Confidências à Meia-Noite", "Volta Meu amor") de forma alguma marcaram "tipos". E o mesmo acontece com Glenda-Segal: mesmo com a natural simpatia do público mais benevolo para com o seu "caso" (mas qual a esposa ou marido, que entenderia idêntica situação no seu universo diário?), dentro de 3 meses ou umano, só mesmo os cinemaníacos de melhor, memória se lembrariam da dupla. A não ser que Melvin Frank, incentivado pelo sucesso, os reuna novamente para um insistente - e possivelmente terrível - replay, mas totalmente dispensável. Aas canções de George Farrie e Sammy Cahn, aproveitadas na trilha sonora de John Cameron são agradáveis e a fotografia de Austin Dempster, infelizmente, desperdiça a oportunidade de fazer melhor promoção turística do litoral da Espanha. LEGENDA FOTO 1 - Glenda: Oscar merecido ??
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
04/05/1974

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