O centro de convenções que Curitiba precisava
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de janeiro de 1987
A Secretaria da Indústria e Comércio conduziu as negociações que possibilitaram a compra do cine Vitória e sua transformação futura num centro de convenções - reivindicação que há mais de 15 anos vem sendo feita por vários segmentos. Apesar de toda a preocupação do secretário Fernando Miranda em fazer o mais transparente dos negócios, nomeando uma comissão com a participação de representantes de todos os setores interessados, sobraram farpas, críticas e mesmo acusações - estas devidamente respondidas com farta documentação.
Independente da discussão do acerto (ou não) do local para um centro de convenções, agora a questão é irreversível. O Estado já é dono do imóvel que, logicamente, entrará como parte do valor necessário para a constituição da empresa de economia mista a ser criada neste primeiro trimestre. A Embratur participará com até 40% e a iniciativa privada (hoteleiros, empresas de turismo, demais interessados) também terão presença acionária.
O local é central e embora existam problemas de estacionamento e expansão, há soluções possíveis. Surge, inclusive, a idéia de um aproveitamento futuro do antigo Palácio do Governo - hoje Secretaria da Justiça - ser integrado através de uma passarela sobre a Rua Rio Branco. Outra opção, mais cedo ou mais tarde: o prédio do antigo Hotel Johnscher, hoje pertencente ao rico comerciante Carlos da Costa Coelho, também virá para o Estado - já que é tombado, sua estrutura está com problemas e dificilmente aparecerá outro interessado. Só que, até agora, Coelho não quis fazer negócio: insiste em pedir Cz$ 8.000.000,00 pelo prédio de 610,84 metros quadrados, cujo valor avaliado pelo Estado é de Cz$ 4,5 milhões - chegando ao máximo, em Cz$ 5,6 milhões.
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Enquanto em Foz do Iguaçu, finalmente foi constituída a companhia de empresa que agilizará as obras do sonhado Centro de Convenções naquele pólo turístico, o Centro de Cultura e Turismo de Curitiba - nome oficial do espaço - deverá ter um programa de reforma e adaptações que torne possível sua inauguração ainda em 1987. Para tanto, o escritório de arquitetura Luís Forte Neto já vem trabalhando num projeto há quase um ano.
Sujeito a muitas modificações, a começar pelo próprio fato de o Hotel Johnscher (643 metros quadrados, área edificada de 1.272 m²) não ter entrado nesta primeira fase dos negócios - as modificações para que o cine Vitória se transforme num centro de convenções serão múltiplas.
Com uma área edificada de 5.930 metros quadrados, o atual cine Vitória será totalmente mudado em sua parte interna para possibilitar a implantação de um programa básico: o principal será o Plenário (1.870 metros quadrados) - grande auditório (900 pessoas), balcão (opcional - 360 pessoas); cabinas de projeção e tradução simultânea (3), sala para conferencistas, "foyer", "hall" e palco.
1.060 metros quadrados serão reservados para três pequenos auditórios - cada um com capacidade para 160 lugares, equipados com palcos, cabinas de projeção e tradução simultânea - destinados a seminários, debates, reuniões em grupos e convenções menores.
Como funções complementares haverá parlatórios (135 m²), com sete salas destinadas a conversas e pequenas reuniões; um cinema de 315 metros quadrados (260 lugares), bomboniére, sanitários e mais 395 metros destinados a restaurante e bar. No total, haverá uma área construída de 7.295 metros e mais mil metros de área descoberta - sobre um espaço físico real de 3.050,09 metros quadrados - pelo qual o governo do Estado pagou, no final do ano passado, exatamente Cz$ 28.378.380,00.
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Há um ano, as obras necessárias para a transformação do cine Vitória num centro de convenções eram estimadas em Cz$ 13.836.000,00. Apesar do Plano Cruzado, hoje até o próprio secretário Fernando Miranda, da Indústria e Comércio, admite que com menos de Cz$ 40 milhões será impossível executar o projeto.
O estudo elaborado pelo arquiteto Forte Neto, há um ano, chegou a fazer otimistas previsões de receita e despesa. Por exemplo, para o primeiro ano de funcionamento estabeleceu o faturamento em Cz$ 57.907.000,00 que subiria para Cz$ 58.095.000,00 no segundo e atingiria Cz$ 64.383.000,00 no terceiro. Como despesas operacionais (pessoal, encargos sociais, divulgações e promoções, seguros, manutenção etc.) as previsões são de Cz$ 16.900.000,00 nos três primeiros anos. Como se vê uma projeção mais do que furada, já que não foram considerados reajustes salariais e os próprios índices de inflação.
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O estudo sobre o futuro Centro de Convenções desce a detalhes mínimos, estabelecendo previsões de receitas de prestação e taxas de serviços, locações das instalações, receitas de luvas (cabinas telefônicas, correios e telégrafos, artesanato, tabacaria etc.).
Também em relação aos investimentos a serem feitos o estudo vai a detalhes: tipo de material a ser usado em cada setor, móveis, fiação, eletricidade, sistema hidráulico, decoração etc.
Os secretário Fernando Miranda tem uma série de argumentos fortes que justificam a implantação do Centro de Convenções. De princípio, lembra a valorização que trará ao centro da cidade, pela proximidade dos hotéis e comércio de suporte - beneficiados naturais em qualquer convenção. Ao contrário de centros de convenções que se localizam distantes do centro (como no Recife, Fortaleza e Salvador), transformando-se em elefantes brancos, o de Curitiba deverá animar e reciclar uma área da cidade cujo comércio tem decaído nas últimas décadas. Os velhos casarões da Barão do Rio Branco - que já foram, no passado, valorizados pontos comerciais - poderão ser recuperados para lojas mais sofisticadas e até o prédio do ecologista João José Bigarella, que há 25 anos abriga o boêmio Bar Palácio (hoje um dos restaurantes mais caros do País, considerando suas características) também deverá estar livre em breve. Afinal, o milionário dom Pepe, dono do Palácio, construiu um prédio na Rua André de Barros para dar ao folclórico restaurante das madrugadas curitibanas sua definitiva sede própria.
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