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Aramis

O fim do SamJazz, um bom conjunto musical

A decisão do SamJazz Quintet em encerrar atividades, após 18 anos de atuação, justifica que se procure saber as razões que levam a se desfazer, inesperadamente, um grupo instrumental dos mais gabaritados, em termos artísticos. Nós, que particularmente vimos o nascimento do SamJazz, como o trio que, na primavera de 1966, vencia o I Festival de Jazz do Santa Mônica Clube de Campo e ali se iniciava profissionalmente, acompanhamos o conjunto, nesta década e meia, em suas diferentes formações e estilos, mas sempre se caracterizando pela seriedade com que o líder do grupo, Hilton Ronald Alice, procurou manter o conjunto. xxx É preferível o encerramento de uma carreira no auge, deixando boa imagem, do que um final melancólico. Foi partindo deste raciocínio que, já no início do ano, Hilton e seus companheiros de conjunto decidiram cumprir os contratos que havia e não assumir novas responsabilidades, para, agora, no segundo semestre, o SamJazz desfazer-se. A explicação oficial registrada pelo colunista Cláudio Manoel da Costa, primeiro a noticiar o fim do SamJazz, foi a de que as responsabilidade de cada um vinham tornando cada vez mais difícil a seqüência de seu trabalho no conjunto. A começar pelo próprio Hilton Alice, 40 anos, advogado, professor na Escola de Música e Belas Artes, Assessor na Assembléia Legislativa e titular de movimentada banca de advocacia. Paulo Chaves, 33 anos, estuda Direito na Católica, é professor de um curso pré-vestibular, atua como produtor musical no estúdio Sir e até há pouco era disc-jockey na Caiobá-FM. Osnildo Vilain, guitarrista, é funcionário da Caixa Econômica Federal do Paraná. Nelson Gonçalvez, baixista, 37 anos, é professor de Inglês e Carlos Freitas, baterista, é engenheiro de gravação do Sir. xxx Cada componente do SamJazz era, assim, obrigado a sacrificar duramente seu tempo, contando as horas dedicadas ao trabalho comum, à família, ao lazer, aos ensaios e às apresentações. Ao contrário de muitos grupos o SamJazz sempre se esmerou com um repertório de primeira categoria e a busca de bons arranjos, em trabalho que, entretanto na hora da contratação, não era devidamente reconhecido. Assim, o cachê do grupo igualava-se ao de conjuntos de nível profissional inferior-, fator desgastante para quem vê a música como arte. Constituído em sistemas de cooperativista, com participação igualitária dos cinco membros, o SamJazz, em termos financeiros, nunca possibilitou que seus componentes vivessem exclusivamente de sua atuação, levando-os, assim, a recorrer a outra atividades. Aliás, das centenas de músicos registrados À OMB-Secção do Paraná, pode-se contar nos dedos os que conseguem ter a vida equilibrada, financeiramente, apenas com seus rendimentos músicos. Os que vivem exclusivamente de sua atividade são aqueles que não tiveram chance de atuar como em outros campos de trabalho, para reforçar o orçamento doméstico. Excluindo, é claro, os que fazem parte das bandas militares, assim mesmo limitados aos soldos dos quartéis, a alguns magros extras, conseguidos com trabalho noturno, e, nos últimos anos em sessões de gravações nos estúdios. xxx Há o caso de músicos que enriqueceram, como o italiano Beppi, pistonista que, ao longo de mais de 30 anos de atividades profissionais, montou uma estrutura empresarial que lhe ensejou independência financeira. Mas é um caso isolado, já que, via de regra, os conjuntos e orquestras dependem de contratos de clubes, que, por ocasião dos grandes bailes, preferem pagar Cr$ 2 a Cr$ 4 milhões para formações musicais do eixo Rio-São Paulo, ao invés de chegar aos Cr$ 800 mil do cachê máximo que os grupos musicais de Curitiba obtêm. As novas tecnologias, a música gravada e a importação de ritmos substituíram a música ao vivo dos salões, e não foi sem razão que há mais de 10 anos, um dos mais conhecidos líderes de orquestra da cidade, Genésio Ramalho, aposentou as baquetas e preferiu a solidez de seus proventos como escrivão de um cartório na Praça Generoso Marques. Osval Siqueira, pistonista, aposentado da Aeronáutica (como datiloscopista), reúne sua orquestra quando consegue contratos, mas sem manter ajustes fixos. Grupos como Aquarius, Reflexo, Nova América (ex-Eclipse), Sombacana e Megatons sobrevivem graças ao empresariamento de seus líderes, mediante esquema financeiro diverso do que o SamJazz adotava. O mercado musical em Curitiba, como em muitas outras cidades brasileiras, comporta estudos de maior profundidade, analisando-se as reduções das casas que mantém música ao vivo, a modificação no comportamento das diretorias dos clubes e, principalmente, a substituição da música ao vivo pela música gravada. xxx Em 18 anos de existência, o SamJazz gravou cinco elepês: quatro pela continental e um independente. Dos discos gravados em São Paulo, a gravadora fez várias montagens, lançou um deles no México e extraiu uma dezena de compactos. Do trio original (Hilton, no piano; Jõao Chiminazzo Neto, na bateria, hoje próspero publicitário; e Neto Morozowicz, baixo e flauta, na época e hoje o músico Curitibano de maior prestígio no mercado erudito nacional), o SamJazz experimentou muitas mudanças. Transformou-se em quinteto quando o guitarrista Célio Malgueiro e o cantor Wilson Baldo foram contratados e, a partir de 1968, sucederam-se substituições: o baterista Rubinho, o saxofonista Orlando Comandulli, o pistonista Edson, os cantores Elizabeth e Reinaldinho (este, também guitarrista) passaram pelo grupo, que num período chegou a ser octeto. xxx Em paz e clima altamente profissional, os atuais componentes do grupo decidiram encerrá-lo. Hilton Alice, titular dos direitos sobre o nome SamJazz, tem um esquema para animar festas, casamentos etc. LEGENDA FOTO - Hilton: o sonho acabou.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
02/08/1984

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