Afinal, Fernanda chega ao Guaíra
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de agosto de 1984
Verinha Walflores, uma elétrica e correta empresária artística, tem razões para estar orgulhosa da produção que traz, amanhã, ao Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Afinal, antes que Vera conseguisse acertar os detalhes para a rápida temporada de "Ás Lágrimas Amargas de Petra Von kant", em Curitiba muitos tentaram contratar o espetáculo, esbarrando nas condições impostas pela produção desse espetáculo, que há mais de dois anos tem casas lotadas no Rio, e por último, em São Paulo.
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Os ingressos para as quatro apresentações de "Lágrimas Amargas de Petra Von kant" (amanhã e sábado, às 21 horas, e domingo, às 18 e 21 horas) estão se esgotando rapidamente, apesar dos preços idênticos aos cobrados no Teatro dos 4, no Rio, onde a peça permaneceu meses em cartaz: Cr$ 10, Cr$ 8, e Cr$ 6 mil (2o. balcão). No elenco, há duas substituições da montagem original, Marina Helou e Márcia Real, mas o papéis básicos continuam de Fernanda Montenegro e Renata Sorrah. Ana Ventura (Gaby) e joyce de Oliveira (Valéria) fazem as personagens complementares.
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O sucesso que "As Lágrimas amargas de Petra Von Kant "faz há tempo merecia até interpretações maiores. Afinal, o time que Werner Fassbinder (1946-1982) escreveu e dirigiu, com Margit Carstensen, não chegou sequer a ter lançamento comercial no Brasil, limitando-se a exibições culturais patrocinadas pelo Goethe Institut. Entretanto, a exemplo de ouro argumento que escreveu, originalmente para o cinema - "Apenas uma Mulher de Negócios", "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant" transformar-se-ia em peça do maior impacto, versando tema que marcou a maioria dos 41 filmes realizados pelo diretor alemão: o homossexualismo. Se, em "Querelle", Fassbinder colocava, com violência e ternura o homossexualismo masculino, buscando transpor em imagens perfeitas o romance de Jean Genet, em "As Lágrimas mas..."o cenário e as personagens são mais delicados: Seis mulheres num ambiente sofisticado, em torno da rica, poderosa, mas frustrada e solitária Petra Von Kant. Uma peça que, embora tenha o clima huis clos de um teatro sério e profundo, adquiriu uma comunicação ampla graças à direção e cenografia de Celso Nunes. Para o público, entretanto, o importante é a presença de Fernanda Montenegro, sem favor a melhor atriz brasileira. Sua popularidade cresceu muito, após ter feito telenovelas. É positivo que o idiotizado espectador(a) que se acostumou com a imagem quase caricata de Fernanda em "A Guerra dos Sexos", possa agora aplaudi-la numa peça de dimensão de "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant" - tão notável no teatro, como foi sua interpretação no cinema, em "Eles Não Usam Black Tie".
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É importante conhecer o pensamento do diretor Celso Nunes, para se entender melhor a dimensão dessa peça, que amanhã estréia no Guaíra. Por exemplo, falando ao crítico Flávio Martinho Celso, lembrou um tema presente na obra de Fassbinder: a solidão.
"O tema existia na "Mulher de Negócios" e reaparece na "Petra". Fassbinder aborda o problema de forma quase metafísica, filosófica, para nem falar religiosa. Nesse sentido, sua obra é muito semelhante à de Ingmar Bergman(..). Como o Bergman de "Gritos e Sussurros", de "O Silêncio", de "Face a Face", de "Persona", trata-se da feminilidade desnudada, mostrada por dentro".
LEGENDA FOTO - Fernada Montenegro
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