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Aramis

Mensagens de poesia & otimismo

Reflexo dos tempos bicudos, foi-se a época dos luxuosos cartões de Boas Festas. Generosas cestas-de-natal e presentes - como bebidas importadas - nem pensar! A não ser para pessoas jurídicas com endereço determinado por interesses das caixas registradoras e não dos corações - como seria de se esperar no Natal. Até os calendários e, saudosa memória, almanaques desapareceram. Só mesmo grandes empresas ou instituições voltam-se a financiar obras-de-arte - livros, discos ou projetos especias - capazes de adquirirem um grande significado nesta época de, teoricamente, festas & presentes. A opção filantrópica por cartões da UNICEF ou da Associação dos Artistas Sem Mãos, duas entre outras instituições que fornecem anualmente mensagens singelas e emotivas, com rendas destinadas a causas nobres, substitui a personalização em cartões de Natal, com sofisticações que os custos atuais não estimulam. Na área pública, com toda razão, há muito que despesas neste item estão proibidas e poucos são os donos do poder que se dispõe, as suas expensas, fazer chegar - mesmo aos círculos que os interessam - palavras de amor, amizade e confiança ao término de mais um ano. Entretanto, no universo de cada um, sempre é possível encontrar algumas mensagens originais, criativas e de custos reduzidos. Um exemplo disto é o que faz anualmente o advogado Francisco Souto Neto, assessor da área cultural do Banestado - que deve ao seu entusiasmo uma série de realizações. No ano passado, Chico Souto montou um cartão no qual ele e sua mãe, dona Edith, apareciam ao lado de estrelas de Hollywood dos anos 40/50. Este ano, Souto criou um cartão (apenas 100 cópias) no qual também coloca seu lado bem humorado: ele e dona Edith aparecem na capa da "Paris Match", com várias referências familiares: desde a prima Mara, pianista, até a homenagem póstuma a Quincas, o caõzinho cuja morte, aos 16 anos, no final de novembro, mereceu outro cartão bem humorado de Souto. Já o jornalista e relações públicas Creso de Moraes repete este ano o familiar cartão de Natal: ao lado de seus cinco filhos, ele e Christiane mostram como a família está crescendo tendo por cenário o Parque São Lourenço - vizinho de sua mansão. Os monarquiestas gaúchos, que sonham com a volta do rei ao poder, apela para uma colorida foto do herdeiro do trono, príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança ilustrando uma mensagem da Juventude Monárquica do Brasil. A poesia é sempre uma opção inteligente. O Bamerindus foi buscar na "Oração a Santa Clara" do pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) a inspiração para a belíssima mensagem lançada no filme institucional que as redes de televisão nos passaram a transmitir na noite de 17 de dezembro - e que reproduzida nos simples cartões do grupo, levam as palavras do poeta a um grande número de pessoas. O filme poderá valer mais uma premiação para Sérgio Reis e sua equipe da Umuarama e o poema de Manuel Bandeira, pelo que contem em significado - tanto como mensagem de fim-de-ano como esperança para dias melhores do novo governo, merece transcrição. Santa Clara, clareai Esses ares. Dai-nos ventos regulares, De feição. Esses mares, estes ares Clareai. Santa Clara, dai-nos sol. Se baixar a cerração, Alumiai Meus olhos na cerração. Esses montes e horizontes Clareai. Santa Clara, no mau tempo Sustentai Nossas asas. A salva de árvores, casas E, penedos, nossas asas Governai. Santa Clara, clareai. Afastai Todo risco. Por amor de S. Francisco. Vosso mestre, nosso pai, Santa Clara, todo risco Dissipai. Santa Clara, clareai O deputado e prefeito (em exercício) Algacy Tulio soube encontrar na obra de nossa poeta maior, Helena Kolody, as palavras certas para a sua mensagem. Foram tombando na lama Os frutos deteriorados. O humo prepara em silêncio Surpresas felizes. Já se anunciai O imperceptível rumor de sementes germinando. Adensa-se um tempo de alerta. Convergem os ventos da esperança dos longes desconhecidos. A professora Birgit Muhlhaus, diretora do Goethe Institut/Instituto Cultural Brasileiro Germânico, naturalmente encontrou num texto do patrono da instituição, Johann Wolfgang van Goethe (1749-1832), escrito em Lauchstedt, a 1º de setembro de 1805, a mensagem de fim-de-ano, transcrita no original e em tradução de Paulo Quintela Coimbra. Se os olhos não fossem sol, Jamais o sol veríamos; Se em nós não estivesse a própria força de Deus, Como é que o Divino sentiríamos? Como boa empresa mineira, Andrade Gutierrez veio de poesia e culinária em sua mensagem: um vídeo ("Inconfidências Culinárias") no qual o mestre-cuca Edgard de Melo apresenta 14 delícias da cozinha típica das alterosas, produção cuidadosa e da VT3, se constitui num verdadeiro banquete visual para abrir o apetite de qualquer mortal. E a mensagem no cartão de Boas Festas, traz como epígrafe uma frase de Guimarães Rosa (1908-1967) - "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente, aprende", completa por um belo texto. O que temos de aprender é falar e ouvir, refletir, descobrir o que fazer, tomar decisões, fazer o que é preciso ser feito. Se aprendemos a lição, Podemos alimentar a esperança de descobrir um mundo melhor, nosso e de todos nós. Se o Goethe Institut optou, naturalmente, por palavras de seu patrono, a Associação de Cultura Franco Brasileira foi buscar em Andréyves Portnoff uma frase para reflexões: Quando dois homens trocam uma maçã por outra, continuarão a possuir uma mação cada um. Quando dois homens trocam uma idéia por outra, cada um possuirá duas idéias. A vereadora Nely Almeida preferiu uma mensagem visual: numa ilustração em que aparece de braços abertos, fala na retribuição dos milhares de votos recebidos de seus amigos em 1988. O deputado Airton Cordeiro, num cartão simples, mostra que é um bom redator, com uma mensagem otimista e confiante no futuro. Juca de Oliveira, da Companhia Brasileira de Repertório, aproveita o mote de seu grande sucesso teatral - "Meno Male", e é telegráfico: "Que Papai Noel nos traga um Presidente que faça do Brasil o país dos nossos sonhos". De todas as mensagens recebidas, a mais emotiva e pessoal foi do compositor Reinaldo Godinho: Como já havia feito em anos anteriores Reinaldinho, paranaense de Siqueira Campos, um compositor terno e espiritualista em suas criações, fez um mini-cassete, com tiragem mínima, colocando em sua voz e violão as músicas que falam de encontros entre as pessoas, amor, entendimento, sinceridade e esperança. Está na hora de uma grande empresa buscar o talento de Reinaldinho musical que ali fez - e buscar uma gravação em elepê, com suas músicas tão marcantes - paranaenses em sua gênese, universais em seu significado. LEGENDA FOTO 1 - Família Moraes: clima pastoral. LEGENDA FOTO 2 - Chico e dona Edith: mensagem original. LEGENDA GRAVURA - Vereadora Nely: agradecendo os votos recebidos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/12/1989

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