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Aramis

Música Paranaense

O lp do SamJazz Quintet (Continental, 1-07-405-059, novembro/75), lançado há 2 semanas com grande estardalhaço, é bem representativo do que acontece com conjuntos instrumentais vocais no Brasil. Só agora, em seu 4º lp, o grupo de Hilton Alice pode incluir seis composições de autores paranaenses. Mas a apresentação do lp foi feita de forma a impossibilitar qualquer identificação dos integrantes do conjunto - só constando o nome dos arranjadores (e integrantes do grupo) Hilton Alice (instrumental) e Célio Malgueiro (vocal), depois de muita luta junto ao coordenador geral Wilson Miranda. A Continental está na sua: quer que o lp venda nacionalmente e não lhe interessa destaques regionais. Com um nome estrangeiro, estilo dançável, o Samjazz Quintet pode acontecer - e o fato de fazer 4 lps em menos de 8 anos de carreira regular já é significativo. Embora, seus discos anteriores - e mesmo esse - muito pouco tenham a ver com música brasileira. Particularmente nos sentimos a vontade para falar do Samjazz. Quando o Santa Mônica Clube de Campo tinha um presidente (e seu fundador admirável), o inesquecível Joffre Cabral e Silva (1914-1968), que se preocupava em realizar eventos artística e culturalmente significativos, organizamos lá, em 1967, a I Jamsession do Paraná (que foi também a única). Concorreram três grupos, dos quais o vencedor foi o então Samjazz Trio, recém-nascido e do qual fazia parte Hilton Alice ao plano, João Chiminazzo Neto na bateria (hoje ele é próspero publicitário, sócio da PMN) e Norton Morozowicz na flauta e baixo (hoje 1º flautista da Orquestra Sinfônica Nacional). Além do Samjazz Trio ganhar o principal prêmio, mais um especial para Norton como solista, o Santa Mônica acabou contratando o conjunto e desde então o grupo nunca mais deixou o clube. Só que de trio cresceu para quarteto e quinteto, tendo sofrido várias transformações. De integrantes e de estilo pois o jazz e o samba sofisticado de 1967, ficaram apenas na memória - já que o público que freqüenta as reuniões dançantes do "maior da América Latina" não iria jamais aceitar improvisações e propostas musicais avançadas. E ninguém mais pode condenar a acomodação comercial do Samjazz. Afinal, são músicos profissionais, que necessitam sobreviver num mercado de trabalho mínimo. Pessoalmente, sempre prestigiamos o seu trabalho - em especial do líder Hilton Alice e ficamos satisfeitos em ver um novo lp do grupo. Seis faixas são sucessos internacionais, totalmente descaraterizados - e que sinceramente já nos originais são discutíveis em termos artísticos: "only Yesterday" (Carpenters), "My Eyes Adored You"m (Frankie Valli), "V "Bela Senz'Anima" (Cassella - Luberti - Cocciante), "Natalie" (Umberto Balsamo"), "I Don't Like To Sleep Alone" (Paul Anka) e "Take My Heart "(Katelby - Peretti - Crestore - Weiss). Agora vamos aos autores paranaenses! Do bom crioulo Lápis (Palmilor Rodrigues, 34 anos), há anos em busca de seu lugar ao sol, as duas melhores faixas: "Onde Ela Mora" e "Amor Na Manhã de Sol". Do bom guitarrista Celi e Malgueiro, em parceria com o estudante de engenharia, Renato Pospissil, o suave "Talvez", valorizado por um bonito arranjo, com participação de cordas; do jovem e trêfego José Roberto Bastos Oliva, "Quarta-Feira", onde sente-se a influência (jamais negada pelo autor), de Ivan Lins. Agora, lamentáveis sobre todos os sentidos o fato do bom crooner do grupo, Paulo Chaves, como compositor de duas faixas, aceitar letras em ingles do sr. Marshal Gonçalves: "Cry Baby Cry" e "Only I Knw". Nos parece realmente um contra-senso que um grupo instrumental-vocal, lutando para conseguir gravar composições de autores paranaenses, desperdice duas faixas, com músicas com letra em inglês. Entendemos esta descaracterização, esta falta de brasilidade em repteis musicais como Terry Winter ou Norman McLarem, mas em relação a Chaves e Gonçalves achamos realmente um equívoco. Evidentemente, que deve haver comerciais que expliquem tal fato, mas isso se enquadra naquele velho refrão: explica mas não justifica. Esperamos que o lp do Samjazz Quintet venda bastante. Venda o suficiente para que a Continental, em breve, dê condições ao bom Hilton Alice e seu rapazes de fazerem um novo lp. Desta vez apenas com músicas brasileiras (e não pretendemos que sejam apenas de autores paranaenses, muito pelo contrário), com letras em português. Afinal precisamos nos orgulhar de nosso País, de nossa língua, de nossa cultura. A nossa música é linda e o português é uma língua musical. Que o diga cem anos da melhor MPB.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
27
30/11/1975

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