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Aramis

O samba de Paulinho no dia que não viu o Papa

A histórica visita de João II ao Brasil marcou também fonograficamente o evento. Antecedendo a chegada do Sumo Pontífice houve uma corrida das gravadoras em lançar discos que pudessem capitalizar o espontâneo << marketing papal >>. assim a Companhia Industrial de Discos, da família Zockerman, que há mais de um ano havia obtido os direitos para aqui editar o elepê em que o ainda cardeal Wojtila interpretava canções folclóricas polonesas, não só reeditou o disco, como fez um segundo volume. A Sigla/Som Livre montou uma espécie de << programa papal >>, a Polygram reuniu as músicas mais religiosas do Fischer Choir, a WEA também produziu um álbum biográfico do Papa (que, inexplicavelmente, não chegou a ter maior divulgação no Sul) enquanto outras gravações também apareceram. Se até a adaptação que Rubens Costa e Henrição fizeram (e por sugestão da cantora Carmen Costa), em 1942 da valsa mexicana << Cielito Lindo >>, como nome de << Está Chegando a Hora >>, foi muito cantada pelo povo brasileiro, nas manifestações de estima ao Sumo Pontífice, coube aos autores de << abenção João de Deus >> (música: Moacir Geraldo Maciel/letra: Péricles de Barros) um faturamento especial - já que esta canção foi a que mais se ouvir nos 12 dias da maratona episcopal. Agora começaram a aparecer os álbuns-documentários da visita propriamente dita. O << Jornal do Brasil >> já anunciou que foi produzido um disco intitulado << Obrigado, João de Deus >>, registrando os momentos marcantes da passagem de João Paulo II à várias capitais. E esta semana deverá ser iniciada a prensagem do álbum-duplo << João Paulo II no Paraná >>, produção idealizada por Cleto de Assis, secretário da Comunicação Social, que sintetiza m pouco mais de 100 minutos, a visita do Papa à Curitiba , nos dias 5 e 6 de julho. De mais de 12 horas de gravações, feitas pela Rede Estadual de Rádio, coordenada pela Rádio Estadual do Paraná, na transmissão oficial, o produtor executivo César Fonseca - que anteriormente havia já co-realizado (com Marcelo marchioro, hoje diretor de arte e programação da FTG, o lp com as músicas de << O Contestado >>) montou um trabalho destinado a permanecer como importante documento para a nossa história. Desde a chegada do avião da FAB transportando o Sumo Pontífice, às 16 horas do dia 5, no aeroporto Afonso Penam até a sua partida, todos os instantes da visita do Papa foram documentados - - e agora, serão editados num álbum cuja venda reverterá em benefícios de obras sociais. A respeito desta produção, obviamente, voltaremos a fazer registro mais pormenorizado. *** Por outro lado, a visita do Papa também inspira a compositores populares. A presença de João Paulo II na favela do Vidigal, no Rio, já está registrada num belo samba de Marcão (amigo do cineasta-compositor Sérgio Ricardo, que o vai lançar como ator no papel-título de << Zelão >>, seu próximo filme) e também ganhou um samba-de-breque do curitibano Paulo Vítola. Poeta, letrista e compositor de extrema sensibilidade, além de premiado publicitário, Vitola tem uma obra expressiva, nos últimos 5 anos dividida com Marinho Galera, com o qual já produziu mais de 100 canções para os espetáculos << Diário de Bordo >> (1976), << Curitiba Velha de Guerra >> (1978) e << Curitiba, Nossa Tribo, Salve Salve >> (1980), afora o melhor disco (<< Onze Cantos >>, produção independente, 1979) já realizado no Paraná. *** Paulinho Vitola, 37 anos, embora prefira fazer apenas as letras para que Marinho coloque música, também, toda violão o suficiente para harmonizar sonoramente suas idéias. E foi assim que fez sozinho a deliciosa << O Dia em que eu não vi o Papa >>, um samba-de-breque, inclusive com uma << parada >>, no melhor estilo dos << clássicos >> de Moreira da Silva. de momento, não há projetos de gravação deste samba, mas que se não é o primeiro - é ao menos uma das primeiras músicas inspiradas pela visita de João Paulo II, descompromissada e, na sua maneira, bem representativa da presença em Curitiba. A primeira audição de << o Dia em que não vi o Papa >> foi feita por Paulinho a um pequeno grupo de amigos, na noite de sábado, na residência do Jornalista Jota Pedro. E o entusiasmo foi grande. Aqui vai a letra da bem humorada visão de Vitola sobre o que poderia ter justificado a ausência de um curitibano na << missa das Etnias >> , no primeiro domingo de julho, quando um milhão de pessoas foram ver o Papa na Praça N.S. de Salete, defronte o Palácio Iguaçu. *** Eu acordei às nove de domingo Tava chove não chove Quando caiu um pingo eu disse: vou! mas nem que tenha de vestir aquela capa (de gabarito eu vou pra ver o Papa /ora se vou Quem se previne nunca se resfria disse com sabedoria, uma vez, a minha avó dei uma olhada na cara do dia e resolvi me enrolar no meu surrado cachecol esse pano cor-de-rosa combinando com a capa esperava por honrosa ocasião nada melhor do que a vinda de um Papa (eu pensei) E tava certo de ter toda a razão. -II- Mas acontece que em casa de pobre quem descobre uma saida nessa vida /vai sacar que é contramão fui apanhar os agasalhos pra sair mas o armário tava cheio de um cabide vázio e bem no meio aumentando mais o frio eu encontrei dependurado esse bilhete de Nair << Polaco, me desculpe eu pegar a sua capa eu precisava dela pra apreciar o Papa >> fiquei chateado, sai desagasalhado engoli mais um /traçado e fui atrás de infeliz se ela pintasse por meu lado era provável que /eu tivesse esfolado ou quebrado o seu nariz o cachecol ficou assim arruinado e a capa amarela já não dá mais pra sair é ela mesma sim senhor, seu Delegado a mulher do véu bordado tem o nome de Nair.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
29/07/1980

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