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Aramis

O samba melhor com Beth Carvalho

Elizabeth Santos Leal de Carvalho - artisticamente, apenas Beth Carvalho, carioca do bairro de Gamboa (5 de maio de 1946) se constitui num exemplo dos mais saudáveis e estimulantes para quem ama e defende a música brasileira. Apesar de ter iniciado sua carreira artística há 10 anos passados, cantando no programa "Um Instante Maestro" de Flávio Cavalcanti, na TV - Rio e gravando um compacto simples na RCA Victor ( "Por Quem Morreu de Amor"), ala só viria se tornar aquilo que se pode classificar de "um cartaz" há três anos, depois de ter voltado-se, de corpo e alma, aos sambas simples, de Nelson Cavaquinho e outros mestres dos morros cariocas:" Canto Por Um Novo Dia" , (Tapecar, LP X-19, 1973), com sambas de Mano Décio, Jorge Pessanha, Carlos Elia, Nelson Ferreira, Darcy da Mangueira, Gisa Nogueira e, naturalmente Nelson Cavaquinho - Guilherme de Brito, fez com que Beth merecesse uma atenção especial, conseguindo um reconhecimento junto a crítica - e um êxito junto ao público que a primeira fase de sua carreira, (quando se integrou aos últimos remanescentes da Bossa Nova) não lhe havia dado. "Pra Seu Governo" (Tapecar LP X 22, 1974) e "Pandeiro e Viola" (Tapecar, X -33, 1975), somente confirmaram o que Beth havia mostrado em 1973: a mais absoluta perfeição em interpretação de excelentes instrumentistas - mais em arranjo simples, com a autenticidade da grande música brasileira. Apesar de se constituir numa das grandes vendedoras de discos da etiqueta de Manolo, Beth passou para a RCA Victor, que a tem agora como a grande nome para enfrentar Clara Nunes (cujo novo elepe a Odeon lançou há 10 dias). Para estréia de Beth em sua etiqueta, o produtor Rildo Hora, felizmente, soube observar o mesmo esquema de simplicidade e despojamento que tanto valorizou as gravações anteriores da sambista: embora os maestros Ivan Paulo e Orlando Silveira (cordas) tenham feito os arranjos e para a orquestra formada para sustentar as 12 faixas, o mais admirável continua a ser os instrumentistas populares (mas extraordinariamente competentes) que acompanham Beth, de seu grupo Fina Flor do Samba (Juca, Ovidio, Ruy, Joel e Alceu), reforçado pelos violões de Rosinha de Valença, Manoel da Conceição e mestre Horondino, o "Dino" Sete Cordas. O resultado é que "Mundo Melhor (RCA Victor, 103.01777, agosto/76), repete o que aconteceu com os três discos anteriores de Beta: uma gravação do mais alto nível com músicas maravilhosas - a maioria inédita ou, no mínimo, pouco conhecida. De Nelson do Cavaquinho - Guilherme de Brito, Beta escolheu "Quero Alegria", que Embora já conhecida de algumas outras interpretações (inclusive da feita pôr Emílio Santiago, em 1975, em seu lp na CID), tem em sua voz um encanto novo. De Ismael Silva, um samba bem ao seu estilo - "Com a vida que pediste a Deus" e do grande Cartola, talvez a melhor faixa (embora seja difícil indicar o que é melhor neste disco), "As Rosas Não falam", com a poesia pura e autentica do grande mestre da mangueira ("Queixo-me às rosas / Mas que bobagem, as rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti / Devias vir para ver os meus olhos tristonhos / E que sabe sonhavas os meus sonhos por fim"). Mas não são apenas músicas da "santíssima trindade do samba" (Cavaquinho, Cartola e Ismael) que fazem de "Mundo Melhor" um dos discos do ano: "Antes ela do que eu" (Paulinho Soares), "Se Você Quiser" (Gracia do Salgueiro), "Volta por morro" (Martinha da Vila), "Cavaquinho camarada" (Ruy Quarens, com uma homenagem a Waldir Azevedo, através da inclusão de "Brasileirinho"), "Te Segura" (Wilson Moreira e Neizinho), "Salário Mínimo" (Alvarenga), "Meu Escudo" (Delcio Carvalho - Noca) e "Divina é a música" (Osório Lima") são outras faixas maravilhosas. Para encerrar, uma regravação de um dos mais belos sambas do Pixinguinha, com letra de Vinicios de Moraes (que, amorosamente, também fez o belo texto de contracapa) - "Mundo Melhor". Os cuidados da produção foram até a capa, entregue a competência de Ziraldo. Ao mesmo tempo que " Mundo Melhor'" é a possibilidade de sentir a sambista-76, com a maior dignidade, a Odeom reedita um elepe (Imperial, SIMP 30252, agosto-76), com 12 das músicas que Beth gravou naquele selo, entre 1967/72, época em que ainda não havia definido-se inteiramente pelo samba - mas já era uma vocalista segura, da maior dignidade. Beth ficou conhecida do público que acompanhava os festivais, defendendo " Andança" (Danilo Caymmi/ Edmundo Souto/ Paulinho Tapajós), que venceu o FIC em 1968. Mas antes já havia feito teatro (com Carlos Elias e o Trio ABC), participado do movimento " Música Nossa" e transado artisticamente com os melhores nomes da Emepebe. Em 1967 gravou " Meu Tamborim" (Cesar Costa Filho Ronaldo Monteiro de Souza), iniciando uma carreira de cantora de festivais e que o levou até a Grécia, onde defendeu " Rumo Norte" (Edmundo Souto/ Paulinho Tapajós), na Olimpíada Mundial de Canção, alcançando um honroso 4 lugar. Beth fez também show com Marcos Valle e Milton Nascimento, Zé Rodrix etc. - num ecletismo válido, mas que se fundiria, finalmente, na década de 70 apenas no samba. Como acentuou o lúcido Luis Augusto Xavier, disc-review do " Diário do Paraná", Beth Carvalho é uma cantora que sempre gravou apenas músicas de qualidade, não fazendo concessões comerciais. E a reedição de suas gravações na Odeom (por onde saiu um elepe, " Andança" e vários compactos) é uma oportunidade de sentir esta linha admirável - o que faz para quem ainda não possuia os registros da primeira fase de Beth, esta reedição se constituia em excelente oportunidade. Faixas: " Só Quero Ver" (Edmundo Souto/ Paulinho Tapajós), " Domingo Antigo" (Arnoldo Medeiros da Fonseca/ Arthur Verocai), " Fechei a Porta" (Sebastião Mota/ Ferreira dos Santos), " Essa Passou" Z(Carlos Lyra/ Chico Buarque), " Maria Aninha" (Fred Falcão/ Paulinho Tapajós), " Andança", " Estrela do Mar" (Marino Pinto/ Paulo Soledade), " Carnaval" (Carlos Elias/ Nelson Lins de Barros), " Samba do Perdão" (Baden/ Paulo Cesar Pinheiro)"? " Meu Tamborim" (Cesar Costa/ Ronaldo Monteiro), " Nunca" (Lupicinio Rodrigues), " Berenice" (Celso Henrique Paschoal) e " Rio Grande do Sul" na Festa do Preto Fôrro" (Nilo Mendes/ Dario Marciano), samba-enredo da Unidos de São Carlos, gravado em 1971 - numa época em que Beth já começava a se definir pelo grande caminho de vocalista essencialmente verde-amarela.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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12/09/1976

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