O sonho das imagens na infância de Roman
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de setembro de 1988
Filho de judeus poloneses, sofrendo os horores da perseguição da Polônia invadida, separado da família (sua irmã, Annette, sobreviveu a Auschwitz), Polanski encontrou no fascínio do cinema uma forma de fugir, no período pós-guerra, do mundo miserável que enfrentava. Em sua autobiografia "Roman" (páginas 49/50), recorda que com um amigo, Piotr Winowski, "nós alimentávamos mutuamente nossas fantasias, estimulávamos um ao outro a cultivar, de maneira crescente, nossa paixão comum por cinema (...)" Por essa época filmes estrangeiros estavam inundando a Polônia, após um hiato de cinco anos de guerra: "Winoswki e eu passamos a ir mais e mais assiduamente ao cinema, às vezes a duas sessões por dia. Nossos gostos voltaram-se primeiro para as histórias de aventura do gênero capa e espada - vimos "Robin Hood" várias vezes. Filmes bons sempre atraíram grande público. Quando tínhamos dinheiro, comprávamos as entradas de cambistas, eventualmente nos tornando nós mesmos cambistas para custearmos duas entradas para uma próxima exibição.
Passamos ambos a colecionar programas distribuídos nas salas de projeção contendo fotografias de cenas de filmes. Já que raramente podíamos pagar programas e entradas, nós os procurávamos em latas de lixo atrás dos cinemas. Durante uma dessas expedições encontramos alguns fotogramas de filmes descobertos. Esta descoberta casual nos fez procurar mais e nós começamos a colecionar recortes avidamente. Ninguém mais foi notificado dessa atividade, nem convidado a participar dela. Afinal de contas, quem haveria de entender que, remexendo numa lata de lixo e achando fragmentos de celulóide, fosse como reter um pouco da essência de cada filme, como se agarrar num sonho?"
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