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Aramis

O Tamba & Os Cariocas

Quando o Tamba Trio surgiu, a vida musical brasileira vivia um momento iluminado: João Gilberto, Sérgio Ricardo, Carlinhos Lyra, Sylvia Telles, entre outros, já tinham gravado seus primeiros elepês, produzidos por Aloysio de Oliveira, os grupos instrumentais eram cada vez mais prestigiados e se vivia uma fase de euforia. Respirava-se criatividade por todos os poros. Era, enfim, um tempo (muito) feliz. O Tamba Trio começou no Bottle's, um dos históricos endereços do Beco das Garrafas, ponto de reunião de fãs de jazz e da melhor MPB. Lá, com casas lotadas, três jovens idealistas começaram a modificar o conceito da música-instrumental-vocal; Luiz Eça, no piano, Helcio Milito, percussão (bateria, tamba - instrumento que inventou) e Bebeto, no baixo, flauta - todos também fazendo os vocais. Das apresentações do Tamba Trio no Bottle's, em princípios de 61, houve uma rápida explosão: a convite da Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil em julho de 1962 o grupo foi, pela primeira vez, aos EUA, fazendo uma série de apresentações. E, nos primeiros dias de 63, saia o primeiro lp ("Tamba Trio", p. 632.129, L), que causaria uma verdadeira revolução em todos os meios musicais. Com arranjos excelentes e personalissímos, Luizinho, Helcio e Bebeto sacudiam as estruturas e modificavam a própria Bossa Nova. Logo depois, em agosto de 1972, no Teatro do Paiol, tivemos a alegria de patrocinar o primeiro show na volta do Tamba chegou a ser quarteto. Dez anos depois, em agosto de 1972, no Teatro Paiol, tivemos a alegria de patrocinar o primeiro show na volta do Tamba Trio original - Luizinho, Helcio e Bebeto, numa noite de emoção, em que chegaram às lágrimas. Um Tamba bem mais amadurecido, com equipamento eletrônico, que, então empresados por Gaby Leib, reiniciava há 4 anos uma nova tentativa - infelizmente não compreendida em toda sua extensão pelo público. Nestes 4 anos em que o Tamba está novamente unido, apesar de alguns concertos de repercussão universitária não aconteceu a mesma explosão de 12 anos passados - quando o trio chegou a figurar na lista dos mais vendidos. Dois elepês foram feitos neste período (RCA Victor, 1973 e 1975), ambos do mais absoluto nível artístico. Trabalhando bissextamente - Bebeto vem se dedicando mais a aviação (embora tenha acabado de gravar um lp-solo, como cantor e instrumentista, na Tapecar), Helcio Milito é ativo produtor fonográfico e Luizinho é arranjador e músico dos mais requisitados (com o saxofonista victor Assis Brasil fez uma longa temporada no Mikono's, e talvez venha fazer um concerto hoje na categoria de "grupos de prestígio". Seu público pode não ser o maior em nosso País, mas, sem dúvida, é o mais refinado - capaz de curtir cada um de seus elepes, novos ou antigos, cada uma de suas apresentações. Assim, possibilitando a toda uma (nova) geração conhecer o histórico elepê de lançamento do Tamba Trio, 14 anos depois, a Phonogram lançou em sua coleção "Edição Histórica" (volume 14, 6479525, 1975) este álbum realmente antológico. Não só para os que ainda não possuiam o disco - há muito fora de catálogo e valorizadíssimo - mas também para aqueles que tendo o original, desejam possuir uma segunda cópia, perfeita, pois este é um documento que necessita ser preservado. Mas não precisa ser dito. As músicas do mágico momento de 14 anos passados, agora novamente ao alcance de todos são: "Tamba" (Luiz Eça), "Batida Diferente" (Maurício Einhorn-Druval Ferreira), "Influência do Jazz"(Carlos Lyra), "Quem Quiser Encontrar o Amor" (Carlos Lyra-Geraldo Vandré), "Alegria de Viver" (Luiz Eça), "O Barquinho (Roberto Menescal-Ronaldo Boscoli), "Minha Saudade" (João Donato) "Nós e o Mar" (Boscoli-Menescal), "Samba Novo"(Durval Ferreira), "O Amor Que Acabou" (Chico Feitosa-Luiz Fernando Freire), "Mania de Snobismo" (Durval Ferreira-Newton Chaves), "Batucada" (Murilo A. Pessoa), "Ali Se Eu Pudesse"(Ronaldo Boscoli-Roberto Menescal) e "Samba de Uma Nota Só" (A. C. Jobim-Newton Mendonça). Em uma última fase, o grupo vocal Os Cariocas, organizado no Rio, em 1945, pelos irmãos Ismael Netto e Severino Araujo, gravou na Philips, entre 1963/67, uma série de elepes fundamentais ("Arte/Vozes", "A Bossa dos Cariocas", "A Grande Bossa dos Cariocas" e "Os Cariocas de 400 Bossas). Com a morte de Ismael Netto, em 1956, a substituída pelo mineiro Luiz Roberto, hoje baixista profissional. Então, com Vadeco, Emanuel Barbosa Furtado), Badera, Severino Netto (que substitui a Ismael como líder e arranjador do grupo) e Luiz Roberto, Os Cariocas se destacaram no áureo período da Bossa Nova, como o grande grupo vocal. seus discos e shows, dos mais alguns em Curitiba, nos bons tempos em que o Santa Mônica Clube de Campo tinha um grande presidente (Joffre Cabral e Silva), fizeram com que o conjunto merecesse uma consagração. Apesar do êxito divergências diversas fizeram com que, em maio de 1967, em Buenos Aires, após um programa de televisão, o grupo fosse desfeito, perdendo assim o Brasil o melhor grupo vocal de todos os tempos. É imensa a fonografia d' Os em suas várias fases, principalmente na Continental, CBS e Philips. Os melhores registros da fase da Continental foram reeditados por J.L. Ferreti, na coleção "Ídolos da MPB". Os da CBS, infelizmente, continuam a esperar de que a multinacional gravadora, tenha um diretor sensível, que não se preocupe apenas com os Robertos Carlos dos lucros e, contrate um produtor competente, para orientar as reedições de seu imenso e marcante acervo. E, da fase final, na Philips, nacoleção "Autógrafos de Sucesso", por onde já apareceram lps dedicados a Tom Jobim, MPB-4, Edu Lobo, Vinícus de Moraes, Swingle Singers, Aphrodites Child, Evaldo Braga, Tim Maia e Cate Stevens, temos uma montagem com faixas de diferentes LPs d' Os Cariocas. Evidentemente, que cada um dos discos do grupo merece ser reeditado integralmente, tão perfeito é o trabalho. Mas, de qualquer forma, o reaparecimento de um lp deste conjunto, 9 anos após o seu desaparecimento, é sempre estimulante a quem ama a melhor MPB. E, não há ninguém de bom senso que não reconheça Os Cariocas como o melhor grupo vocal que o Brasil já teve. Faixas: "Devagar com a Louça" (Haroldo Barbosa - Luis Reis), "Vivo Sonhando" (Antonio Carlos Jobim), "Só Tinha de ser Com Você" (Jobim/Aloysio de Oliveira), "Telefone" (Roberto Menescal-Ronaldo Bôscoli), "Samba de Verão"(Marcos - Paulo Sergio Valle), "Também Quem Mandou" (Carlos Lyra - Vinícius de Moraes); "Samba do Avião (Jobim), "Pra Que Chorar" (Braden-Vinícius), "Garota de Ipanema"(Jobim-Vinícius), "Rio"(Menescal-Bôscoli); "Só Danço Samba" (Jobim - Vinícius); "Inútil Paisagem" (Jobim-Aloysio de Oliveira), "O Amor em Paz"(Jobim-Vinícius) e "Ela é Carioca" (Jobim-Vinícius).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
31
30/05/1976

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