O trio que toca com o som de todo corpo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de agosto de 1980
Mais uma vez é o Goethe Institut quem traz a Curitiba, um espetáculo único: dia 20, no auditório da Reitoria. O Trio Ex Voco, estará mostrando um trabalho esperimental, polêmico, na área da música, para os ouvintes habituados à música tradicional, o Ex-Voco provocará um soco. Quando o grupo apresenta no seu programa composições como "In den Schwanz gebissen" ("Mordido na cauda"), "Nies-Scherzo" ("Scherzo de espirro"), "Sprechblasen" ("Bolhas de linguagem") ou "Husten-Scherzo" ("Herzo de tosse") e pronunciam séries de sílabas aparentemente impossíveis como "FRS RSP OGRIBM GWASSAD" com espantosa habilidade, estamos frente a produções fonéticas provenientes de bocas e autofalantes que constituem uma antítese quase impossível de superar em relação aos concertos habitualmente apresentados. Embora os cantores profissionais de concerto se dediquem também à canção trovadoresca não acompanhada do século XII e ao "belo som" tradicional, o seu trabalho cênico dá, antes, relevo à demonstração das possibilidades abertas pela emancipação da voz humana, nas últimas décadas. Quem observar as muitas partituras gráficas dedicadas ao trio por vários compositores, crê tratarem-se de desenhos confusos de uma criança: círculos, linhas, pontos, curvas, triângulos, setas, restos de palavras e letras desgarradas, formam uma escrita secreta, só decifrável após longo e apurado estudo. Apenas alguém iniciado nesta arte será capaz de ler nestes signos uma música que tende para revido e não só exige dos seus intérpretes um domínio perfeito da articulação, da respiração do grito, mas que também põe à prova o seu dom de improvisar. Não só regulamenta os movimentos dos lábios, da língua, mas também as modificações do espaço bocal e da pressão respiratória; prescrevem-se não só gemidos, gritos, arfares, estetores, suspiros, balbúcios e sussuros, mas também o inspirar e expirar, o cantar de boca fechada e a respiração por entre-dentes enquanto se canta.
~Requisitos importantes das representações e marcadas por um espírito de humor próprio da farsa política. Há aparelhos eletrônicos, como sintetizadores e gravadores, que ajudam um técnico de acústica a fazer do trio um quarteto, empregando esses aparelhos como "prolongamento" da voz humana.
Criado em 1972, a partir da Schola Contorum de Stutgart, o Trio Ex Voco, como os 3 Mosqueteiros são quatro: Hanna Aurbacher, 50 anos; Theophil Maier, 49; Ewald Liska, 43 e Hans-Jorg Bauer (o técnico de acústica), 47 anos. No auditório da Reitoria, mostrarão um programa absolutamente único, com peças de Max Bense, Ladislau Novak, Raoul Hausman, Luciano Berio, John Cage, Antonin Artaut, (1896-1948), Filippo Tomasso Marinetti(1876-1944), Hugo Ball (1886-1927), Pierre Albert-Birot (1885-1970), Klaus Stahmer, Giacomo Balla (1871-1958), Maurice Lemaitre, Bob Cobbing, Kurt Schwitters (1887-1948) e o brasileiro Augusto de Campos. Enfim, um espetáculo que as vanguardas vão curtir.
LEGENDA FOTO 1 - Todos os sons humanos no trio alemão.
Enviar novo comentário