Observatório
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de abril de 1980
Pela primeira vez Edu Lobo vem a Curitiba sem violão, mas em compensação, na [tranqüila] companhia de sua (bela) esposa, Wanda Sá, namorada de infância, mãe de seus 3 filhos, e que, há 17 anos, gravava um único mas inesquecível elepê, marcante da Bossa Nova, com o título da música que melhor se adaptou à voz macia e agradável: "Vagamente". O casal Lobo assiste amanhã a apresentação especial que o Balé Guaíra faz de "Sinfonia 3" e "Petruchka", de Stravinski, no Guaíra, e conversa longamente com o maitre Carlos [Trincheiras] e a sua assistente Loraci Setragni. No domingo, quando retornar ao Rio, Edu já terá definidos os contornos para o grande projeto que há tempos sonhava e, graças à intervenção de Araken Távora, um jornalista sempre preocupado em aproximar as pessoas, possivelmente tenha estréia nacional em Curitiba: a criação de um grande espetáculo de balé, com tema brasileiro. Compositor que nunca esqueceu as raízes nordestinas de seu pai. Fernando Lobo, e que após os anos que passou estudando música em Los Angeles, voltou e compôs a (na época) incompreendida "Missa", Edu, hoje aos 37 anos, uma dezena de elepês e mais de cem músicas, tem uma obra em constante evolução: de "Arrastão", seu primeiro sucesso, parceria com Vinícius de Moraes, a trilha sonora de filmes como "O Caso do Zé Bigorna", de Anselmo Duarte, tem buscado sempre uma linguagem musical mais ampla, aberta. E compor um balé há muito o tentava. Sabendo do crescimento do Balé Guaíra, hoje já reconhecido entre os melhores do País, falou de sua idéia ao seu amigo Araken Távora, que contou ao governador Ney Braga. Na semana passada, em sua casa, no Rio de Janeiro, Marcelo Marchioro, diretor de arte e programação da FTG, e Edu trocaram idéias e, neste fim de semana, o que até agora é apenas projeto, pode começar a tomar corpo. Carlos Triencheiras, 43 anos, 27 de balé, ex-integrante do balé Gulbenkian, há um ano dirigindo o Balé Guaíra, está interessadíssimo em fazer um trabalho de raízes brasileiras. E embora,, há alguns anos, a Fundação Teatro Guaíra tenha promovido um concurso de peças para balé, entre autores brasileiros - inclusive com premiações - a disposição de Edu Lobo em se integrar neste projeto não deve - e nem pode - ser desprezada. Muito pelo contrário!.
Nos 8 anos de existência do Teatro do Paiol, raras vezes um espetáculo ali apresentado teve mais de um bis. Mesmo nos melhores momentos, a informalidade do espaço e a imediata iluminação encerrando a apresentação, faz com que o público se levante e o artista se retire. Por isso, tem um significado muito grande o fato do recital de apresentação do duo Norton Morozowicz (flauta) - Homero Magalhães (piano), na noite de terça-feira, ter sido aplaudido, em pé, por mais de um minuto, e merecido dois números extras: o dificílimo "Fantasia Pastoral Húngara" de Franz Doppler e um dos três "Episódios" de Henrique de Curitiba.
Henrique de Curitiba é Henrique Morozowicz, filho mais velho do professor Thadeo Morozowicz, que faz pós-graduação em composição na Cornel University, no Estado de Nova Iorque, e tem composto bastante. Várias de suas peças têm sido mostradas a músicos americanos que já se interessaram em incluí-las em seus repertórios. Assim, Morozowicz está contribuindo - até na adoção de seu pseudônimo artístico - para divulgar a nossa cidade, merecendo, portanto, que tenha o apoio para continuar nos Estados Unidos, pelo tempo necessário e concluir seu curso. Ontem à tarde, Norton e Homero retornaram ao Rio, já que ambos têm compromissos: o flautista, com a Sinfônica Brasileira, em plena temporada de 40º aniversário e Homero, como diretor da Proarte, uma das mais conceituadas escolas de músicas do País. Homero voltou a tocar, em público, após anos dedicando-se apenas ao magistério e, feliz, já confirmava as duas próximas apresentações do duo, uma das quais na Sala Cecília Meireles, que tem direção do violonista Turíbio Santos.
No recital de terça-feira no Paiol - com bom público, apesar do frio e de não saber o local que mais atraía os apreciadores de música erudita - houve um momento de brasileira emoção: a execução de "Primeiro Amor", uma das mais belas valsas de Patápio Silva, com difícil solo de flauta. Que Norton fez, é claro, sem dificuldade.
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