Observatório
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de abril de 1980
Se a morte, esta implacável inimiga que leva os muito bons e os muito ternos, não tivesse roubado de nosso mundo, a 17 de fevereiro de 1973, a figura de Pixinguinha, Alfredo da Rocha Viana Filho, teria completado na quarta-feira, 23 de abril, 82 anos. Além de Hermínio Bello de Carvalho, parceiro e amigo do autor de "Carinhoso", idealizador do "Projeto Pixinguinha", quem também se lembrou da data foi o compositor Cláudio Ribeiro, que em boa hora Circe Lambrajo, coordenadora de ação cultural da Secretaria de Cultura, incorporou a equipe do "Acorde", que reúne vários eventos na área de música popular. E mesmo com atraso de três dias, Pixinguinha deve ser lembrado hoje, com a instalação oficial do "Projeto Arco-da-Velha", feliz título que o sempre imaginativo Heitor Valente deu grupo de choro (e outros gêneros) que a SCE manterá, para apresentações regulares. Assim, após uma missa em memória ao "São Pixinga", ao entardecer, na Igreja Bom Jesus, o conjunto "Arco-da-Velha", formado por Janguito do Rosário (cavaquinho), Alaor (flauta), Nilo (88violão de 7 cordas), Bento (bandolim) e Edmundo (percussão) estará se apresentando em praça pública. Domingo, o "Arco-da-Velha" estará em Rio Negrinho, SC, participando das comemorações do centenário de fundação daquela cidade. E, por sugestão de Cláudio Ribeiro, no repertório está "Flor Amorosa", historicamente o primeiro choro conhecido, que Joaquim Antonio da Silva Calado (11.7.1848 - 20.3.1880) compôs há mais de 100 anos e que, em 1880, recebeu a letra de Catulo da Paixão Cearense (31.1.1866 - 10.5.1946). Portanto, o "Arco-da-Velha" não poderia começar suas atividades com melhores - e mais gratas efemérides. E as homenagens a Pixinguinha prosseguirão: nos dias 28 e 29, no Guaíra, Paulinho da [Viola], em seu magnífico recital "Zumbido", junto com Copinha (flauta), Cesar (violão), Hercules (bateria) e Dinho (baixo) estará solando "A Vida é um dos mais difíceis (e belos) choros do mestre Pixinga.
Realmente o bom humor é uma constante no "Les Ballets Trockadero de Monte Carlo" (Teatro Guaíra, hoje, 21 horas; amanhã, 17 e 21 horas). Este grupo criado há 6 anos, buscando satirizar os estilos convencionais de dança, escolas e coreografias tradicionais, conquistou rapidamente uma projeção internacional pela inovação que trouxe à arte da dança. Assim como o norte-americano Spike Jones fez na música orquestral, criando verdadeiros "22happenings" sonoros a partir dos anos 50 - e que na Argentina tem nos Les Luthiers (que já estiveram no Guaíra, há 2 anos, fazendo uma memorável apresentação) uma espécie de discípulos, os 11 bailarinos, 2 técnicos e um diretor que, agora, percorrem o Brasil - e em Curitiba apresentam dois programas diferentes, conseguem chegar mesmo àquela faixa de público que não se entusiasma pela dança. Mas assim como um bom jazzista tem que conhecer muito bem a música para poder improvisar com perfeição, a competência dos integrantes do "Trockadero" é indiscutível, e tanto é que os dois programas incluem peças das mais difíceis, como "O Lago dos Cisnes", "Le Corsaire", "Don Quixote", "Les Sylphides", "Raymonda's Wedding" etc. E, es aqui mais uma prova do humor com que o grupo se apresenta. Da Anastasia Romanoff, se diz que "juntou-se ao Trockadero numa excursão, aparecendo envolta num enigma, complementado por um fecho-éclair". Já de Doris Vidanya, outra das solistas do grupo, "tornou-se órfã com a idade de 3 anos quando sua mãe - uma bailarina de duvidosa distinção - impalou-se no arco do 1º violinista, após uma série de altamente incontroláveis "fouette voyage". De Zamarina Zamarkova, a definição é a seguinte: "as frágeis e espirituais qualidades deste mimoso elfo assemelham-se a um souflet de limão delicadamente inclinado a borda de um colapso total. Seus adoráveis extra-alongados tendões exaltam uma doçura infantil que traem na sua verdadeira idade".
LEGENDA : a dança com humor.
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