Observatório
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de dezembro de 1980
O festival "Todos os Cantos", que se realizou na semana passada, pretendeu revelar novos talentos da MP paranaense. Entretanto, é bom lembrar que a atual sensação na vanguarda musical é um londrinense. Arrigo Barnabé, que após alguns anos de ostracismo em sua cidade, começa a explodir em termos nacionais: produziu um elepê independente "Clara Crocodilo") e faz um show em São Paulo que entusiasmou a muitos, como o [irriquieto] Nelson Motta, de "O Globo", sempre deslumbrado com as ditas vanguardas. Diz Motta a respeito: "Arrigo Barnabé é o criador de música mais original que (ou)vi da Tropicália para cá. Sua linguagem é absolutamente chocante - em todos os sentidos que vem ganhando essa expressão. Um choque estético, cultural, elétrico - absolutamente indicado para todos que estão de saco cheio dessa toda mesma coisa que, com pequenas nuances, vem se repetindo entre nós, mesmo entre nossos mais talentosos autores. Não se trata, com Arrigo, de alguma novidade apenas: é a mais radical ruptura com a linguagem musical e poética estabelecida como "moderna" - e, no entanto, por mais diversos que sejam os ritmos e estilos, é sempre linear - no sentido de uma letra e um arranjo. Arrigo não canta, nesse sentido. Fala, narra, berra, urra, locuta, eletrocuta - e isso é o que provoca parte da ruptura supracitada. O mais corre por conta dos pequenos motivos musicais, riffs, refrões, cintilação, que são - esses sim - afinada e precisamente cantados (como antigamente) por três garotas, sob uma massa sonora de arrepiar, assustadora: os arranjos mistura Bartok, Stravinsky, Stevie Wonder, Rolling Stones e o escambau - através de dois teclados, três demenciais sopros, guitarra, baixo e bateria".
Mais uma prova (se preciso fosse) dos tempos (cada vez mais) bicudos que estamos vivendo: até há algum tempo, nenhum brasileiro da classe média admitiria a "vergonha" de pedir num restaurante que o garçom depositasse as sobras da comida num vasilhame térmico. Quando muito se pediam os ossos "para levar para o cachorro, em casa". Pois agora, seguindo exemplo europeu, em pelo menos seis restaurantes conhecidos da cidade fregueses tradicionais não deixam de, terminada uma refeição, e [constatada] a sobre de uma grande parte do prato solicitado, pedir a sua colocação numa vasilha térmica - que custa Cr$ 10,00 a unidade. No Rio de Janeiro e São Paulo este hábito já é mais antigo, embora lá, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e, principalmente, Europa, os restaurantes sirvam porções menores. No Paraná, onde a fartura (diria-se até exagero) nos pratos, faz a delícia dos turistas, as sobras são maiores e, portanto, se poderia até adotar o slogan: "Vá ao restaurante hoje e garanta sua comida em casa amanhã". Até em Santa Felicidade, paraíso pantagruélico já se observou famílias deixando dois dos restaurantes com marmitas debaixo dos braços, num domingo à tarde. É a hora de economizar e evitar desperdícios!
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