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Aramis

Os Baianos Independentes - Wesley, o homem que produz os sucessos da Bahia para o Brasil

Em setembro, a moça já era a musa do verão-91 em Salvador: seu primeiro elepê-solo ("Maravilha, Maravilhê", Estúdios WR/Eldorado) nem bem chegava às lojas e já estava sendo executado nas emissoras de rádio. Agora conforme o "Jornal do Brasil" registrou em reportagem em seu Caderno B. Daniela Mercury começa a obter repercussão nacional. As emissoras de Salvador, há mais de 5 meses vêm divulgando esta baiana jovem, bonita e cujo "Swing da Cor" (Luciano Gomes) diz "Te curupaco kioiô/eu sou Muzenza larauê..." - que, neste Carnaval de 92 deve explodir nacionalmente. Quem está profundamente feliz de ver o deslanche de Daniela é um jovem produtor baiano que há três anos já acreditava no seu charme quando ela, ainda uma adolescente, se destacava na Companhia Clic, um quinteto jovem que, entre os dias 25 de maio e 28 de junho de 1989, nos Estúdios WR, em 24 canais, fez seu primeiro LP. Wesley Rangel, 40 anos, ligado a área musical desde os 20, dono do maior e melhor estúdio do Nordeste - e o mais bem equipado fora do eixo Rio-São Paulo - é hoje um produtor do qual se valem praticamente todas as grandes gravadoras do país. Embora tenha sua própria etiqueta - o Nosso Som -, na qual produz e edita alguns artistas, os modernos três estúdios instalados basicamente para produções de artistas baianos - e outros Estados - que tem seus discos industrializados e distribuídos por gravadoras como Polygram, Continental, EMI-Odeon, Estúdio Eldorado, entre outros. - "Operamos, naturalmente - e, na época das eleições, campanhas políticas, em todo o Nordeste, mas temos pelo menos 45% de nosso faturamento na produção musical de artistas que são editados por selos nacionais" - explica. AS BOAS SAFRAS Desde que o pioneiro João Silva criou ainda na metade dos anos 60 e pequeno mas atuante JS Discos - pelos quais saíram os primeiros discos de Antônio Carlos & Jocafi e, especialmente, o histórico "Lunik 9" com Maria Creuza - que Salvador não tinha um produtor fonográfico de tanta visão artística-empresarial como Wesley Rangel, que somente nos últimos oito anos já gravou mais de 300 artistas, que somados alcançaram mais de 5 milhões de cópias vendidas por inúmeras etiquetas. Só o selo Nova República, que outro baiano de grande visão, o produtor Roberto Sant'Ana, fundou há 4 anos - e que lançou, entre outros, o hoje superstar Luís Carlos - fez discos com 11 artistas nos estúdios WR. Nomes famosos da moderna música baiana - como Gerônimo, Sarajane, Lazzo, Missinho, Luís Caldas etc. - ao lado das bandas e blocos que, nestes últimos anos, tem se projetado inclusive internacionalmente - podem ser encontrados normalmente nos corredores e estúdios do WR, no bairro da Canela, em cujos espaços já nasceram centenas de composições. - "O pessoal sente-se bem por aqui, pois não há aquele clima apenas empresarial. Por isto a produção flui em alto astral, com todo o sabor baiano". Em seu arquivo, "no qual nem estão todos os discos que já ajudei a fazer, direta ou indiretamente", encontram-se preciosidades que, infelizmente, muitas vezes ficaram restritas a vendas na Bahia. É o caso do elepê-solo de Riachão (Clementino Rodrigues), um dos grandes compositores de Salvador, formando ao lado de Pamela e Batatinha, um triunvirato do melhor samba baiano, para muitos comparáveis a Nelson do Cavaquinho, Cartola e Carlos Cachaça. "Sonho de Malandro" (1989), de Riachão, foi produzido com ajuda do Banco de Desenvolvimento da Bahia, da qual é funcionário e assim teve uma distribuição restrita. Outro grande compositor de Salvador, este mais conhecido devido suas parcerias com o carioca Roberto Ribeiro, é Ederaldo Gentil, de quem, Wesley produziu o belo "Identidade". O Troféu Caymmi - espécie de Prêmio Sharp da Música regional - tem sido registrado há cinco anos, em alguns produzidos pela etiqueta Nosso Som, com produção nos Estúdios WR. Também álbuns coletivos, como "Os Melhores Sambas de Roda da Bahia" - com diferentes grupos (muitos dos quais de ótimo nível), ou seleções como "Bahia Romântica", na qual ao lado de "Você é Linda" (Caetano Veloso), e Carlos Pita ("Jaguaribê"), ouvem-se vozes ainda não divulgadas no Sul como Marilda Santana, Selma Maria, Lui Muritiba e, especialmente Ricardo Chaves, este aliás, desde 1987, com elepê-solo ("Era Matéria"), que apesar de ser distribuído pela RCA não passou das fronteiras da Bahia. Guimarães é outro compositor-intérprete, baiano de Itauçu, que cantando músicas de intensa brasilidade (e baianidade) merecia ser conhecido, pois seu LP "Pedaços do Brejo" - dedicado ao lugarejo em que nasceu (Vila Agrícola de Nossa Senhora do Alívio do Brejo Grande) traz composições interessantes. Em outra linha, Wesley também produz um elepê com um sofisticado pianista, Paulo Gondim, revelando composições do próprio solista e de sua mãe, a concertista e compositora Maria de Lourdes Gondim. O REGISTRO CULTURAL Um dos trabalhos de que Wesley se orgulha é o álbum duplo "Choros, Dobrados, Valsas & Outros Retratos", produzido em 1985, em homenagem ao maestro e compositor Almiro Adeodato de Oliveira, então com 82 anos mas em plena forma. Nome dos mais respeitados da música baiana, com uma obra imensa, o maestro Almiro teve nos dois elepês deste belo álbum uma espécie de revisão de sua obra, desde "Mocidade Risonha" (1945) e "Paisagem Sertaneja" (1942) até composições recentes - como o tema dedicado ao clarinetista Paulo Moura (em participação especial) que mostravam sua contemporaneidade. Com a inclusão de emocionantes depoimentos do próprio homenageado e numa afetiva participação de cantoras como Edna de Oliveira, Marle Oliveira, Edy Oliveira, (estas duas, suas filhas), dos músicos da Oficina de Frevos e Dobrados e da Banda do Corpo de Bombeiros da Cidade de Salvador e dezenas de vozes de artistas baianos que o tem como nome reverencial da mais autêntica e melhor produção musical baiana. Para 1992, Wesley tem previsto a edição de algumas produções através de sua etiqueta Nosso Som (não confundir com O Som da Gente, de São Paulo) de artistas populares "que merecem ser ouvidos e prestigiados". É o caso da dupla "Chuleiros de Piritiba", a Banda Rumbaiana, Timbauva e, especialmente, o grupo instrumental "Os Ingênuos" para uma produção que teve como convidados especiais grandes nomes do choro como o violinista Rafael Rabello, clarinetista Paulo Moura, acordeonista Orlando Silveira, além de virtuoses de Salvador, como o trompetista Joaté e trombonista Fred Dantas. Com estúdios ultrabem equipados, empregando 30 pessoas diretamente - "indiretamente são mais de 100 famílias que atingimos" - Wesley também já entrou na era do CD, com a edição com primeiro elepê digital de Edson Gomes. Otimista, apesar dos tempos coloridos, diz: a Bahia é música e acredito em nossos artistas. LEGENDA FOTO 1 - Wesley Rangel, produtor fonográfico em Salvador, dono do melhor estúdio fora do eixo Rio-São Paulo, já ajudou a realizar mais de 300 discos, inclusive de nomes hoje internacionais. LEGENDA FOTO 2 - Daniela Mercury, a nova musa do carnaval baiano, gravou nos estúdios WR o disco lançado pelo Estúdio Eldorado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
19/01/1992

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