Os espaços de Marcia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de novembro de 1975
Curitiba acaba de perder a doação de um criativo e belo monumento para a Praça Garibaldi: a artista Márcia Simões havia proposto oferecer à cidade uma "pedra alada", trabalho desenvolvido sobre uma rocha de várias toneladas, que viria a se constituir num novo ponto de atração do Setor Histórico-tradicional. Entretanto, a artista encontrou tanta indiferença e desinteresse dos órgãos municipais, responsáveis pela cultura e paisagismo, que acabou desistindo da oferta - limitando, assim, sua proposta a uma maqueta do monumento, colocada nos fundos da galeria Acaiaca.
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No marasmo mercantil em que se encontra o mercado plástico paranaense, com interesses em escalada nas múltiplas mostras simultâneas que estão sendo promovidas, a exposição "De Pássaros, Homens e Anjos", que Marcia inaugurou terça-feira, na Acaiaca, é um estimulante sopro de vigor criativo. A exemplo de seu marido, o talentoso Ivens de Jesus Fontoura, Márcia não se preocupa em "pintar para enriquecer", meta que parece ter tomado conta de muitos de nossos artistas. Embora suas telas sejam belíssimas - com leveza e originalidade, agradáveis à vista e à sensibilidade - toda sua exposição é uma proposta inteligente, racional - programada de forma a dar ao visitante uma visão didática de seu trabalho & suas idéias. (Exemplo de exposição que deveria acontecer em museus e entidades culturais). Utilizando apenas temas ligados ao espaço - dos super-heróis das histórias-em-quadrinhos aos clássicos da pintura, através de mais de 300 slides coloridos (que deveriam ser projetados na Praça Garibaldi, se tivesse havido colaboração oficial) - a exposição de Márcia se constitui, sem dúvida, no mais importante evento no campo das artes neste comercial ano que chega ao fim. Seus 17 quadros se integram a toda uma proposta visual - que merece ser vista por quem realmente se interessa pela Arte - e não busca apenas a badalação e o dinheiro fácil em nome da pintura.
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