Os espelhos líricos da suave Jacqueline
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de março de 1991
No ano passado, quando Jacqueline Andréa Glaser lançou seu primeiro livro ("Encantamentos", Editora Lítero Técnica), aqui escrevíamos: "Entre tantas mulheres que buscam a poesia, Jacqueline tem o vigor da juventude e a saudável inquietação de buscar respostas a tantas questões. Se da multiplicidade de suas indagações resulta uma poesia desigual, há a sinceridade, a espontaneidade e o idealismo - méritos que fazem este seu livro de estréia destacar-se entre publicações de (ditas) poetisas que pouco têm a acrescentar".
Agora, mais amadurecida, Jacqueline traz um novo feixe de sensibilidade colocada em forma de letras num livro que mereceu simpática apresentação de nossa poeta maior, Helena Kolody, a quem, com toda razão, a obra é dedicada com um poema de abertura:
"A Helena Kolody / que quando
O mundo me tapava / de coisas reais / e feias
Me disse: "Sonho sempre e alto..."
Era tudo / de que eu precisava
E só ela, poeticamente, viu".
Pessoalmente, dizemos a propósito deste seu novo livro, em palavras também incluídas como modesta apresentação.
No desafio da folha em branco, Jacqueline Andréa faz o seu caminho. Cada letra, como uma pedra, forma uma ponte de entendimentos, paz e sobretudo, reflexões em torno das coisas da vida. Na própria juventude, estampa, entretanto, uma (precoce) maturidade, capaz de propor palavras-idéias, frases-pensamentos que ficam na retina do leitor de maior sensibilidade.
Não um simples jogo de palavras - embora jogando muito bem com os seus efeitos - Jacqueline traz em sua linguagem minimalista uma comunicação enxuta, branca e inédita.
"Desde o parto
Parto
Repartida
Para a partida".
Em sua generosidade jovem, de quem aprendeu a ver o mundo com olhos de amanhã.
"O cinza
Virou cinza.
Depois que queimou
O que era
De outra cor".
xxx
Helena Kolody, poeta maior, diz com sua sabedoria lírica após a leitura dos textos de Jacqueline:
- "Há em seus versos um desejo intenso de expandir-se em múltiplas direções (derramar-se com as ondas do mar) e impregnar com seu impulso vital os seteres em torno. Sua alma de artista vibra no fervor de realizar-se, de libertar suas energias, para depois repousar, serenamente, na feliz plenitude do ser".
Diz mais Helena:
- "Em certos momentos, aflora o prazer de jogar que existe na arte. Por exemplo, "Tempo" é um pingue-pongue de palavras. Debruçada sobre si mesma, no anseio de conhecer-se, Jacqueline analisará Jacqueline no espelho dos versos".
LEGENDA FOTO - Jacqueline Andréa, autografando amanhã na galeria de arte do Banestado, seu segundo livro de poesias: "Espelhos".
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