Helena Kolody, sempre com a emoção da poesia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de março de 1988
Nos últimos meses ela tem sido requisitada para entrevistas, depoimentos, mesas redondas. São jovens que a querem ouvir, jornalistas que a procuram, estudantes que se debruçam sobre seus poemas em trabalhos escolares ou simples leitores que, emocionados pela beleza de suas palavras impressas, buscam a autora. A todos, atende com a maior habilidade, simpatia e generosidade.
Helena Kolody, 76 anos, paranaense de Cruz Machado, filha de pais ucranianos -, Miguel (1881-1941) e dona Vitoria (1892-1975), tem, em vida, um reconhecimento da obra que faz a mais importante poeta do Paraná - uma das grandes do Brasil. Comparada a Cecília Meireles (1901-1964) - aliás, sua maior admiração, dona Helena é toda ternura e emoção. Segunda-feira a tarde, por mais de duas horas, dona Helena gravou um longo depoimento para a série Memória Paranaense, que a Umuarama vem realizando, graças a iniciativa do publicitário e diretor de marketing Sérgio Reis. Entrevistada por um grupo de jornalistas, Helena falou mais de sua vivência como professora - função que exerceu por mais de 30 anos, no Instituto de Educação do Paraná, ali formando várias gerações.
Com muito humor e cordialidade, mostrando uma memória prodigiosa, a poeta Helena discorreu sobre sua infância em Cruz Machado, relembrou a Curitiba de sua juventude - quando morava na Rua Itupava, "fora do perímetro urbano, nos anos 20" e na qual havia até um fantasma camarada, na verdade um cidadão que curtia suas bebedeiras vestindo-se com um alvo lençol e assustando, na escura via ("não havia uma única lâmpada na Itupava") os transeuntes retardatários.
A paixão pelos livros, as primeiras leituras - "nas páginas da revista "O Olho da Rua" eu aprendi muito do Paraná", disse, referindo-se a respeito da irônica publicação que conheceu na biblioteca da família Marcel Leite - dona Helena é o exemplo maior da intelectual autodidata e poeta por vocação.
Simples e modesta assusta-se com o reconhecimento profissional de seu trabalho. Quando o editor Roberto Gomes, da Criar, a procurou há dois anos, para publicar "Sempre Palavra", surpreendeu-se:
- Pela primeira vez não precisei pagar para publicar meus livros.
Surpresa maior ainda quando, há alguns meses, recebeu, "pela primeira vez em minha vida", Cz$ 1.500,00 pela publicação de um de seus textos no "Nicolau", mensário editado pela Secretaria da Cultura.
Há 47 anos gastou quinhentos contos de réis para publicar "Paisagem Interior", seu primeiro livro.
- Era uma homenagem ao papai que, infelizmente, morreu antes do livro sair. Apesar de sua morte - o livro sairia em seu aniversário, em novembro, e ele morreu do coração, em setembro, e foi publicado como homenagem póstuma.
Em 1945, o segundo livro, "Música Submersa", mas o terceiro só apareceria seis anos depois. Trabalhando lentamente, sem pressa - a sua "Trilogia" só sairia em 1959, como separata de "Um Século" de Poesia Paranaense, "e graças aos esforços de Leonor Castellano" - referindo-se a admirável intelectual e animadora cultural, uma das fundadoras do Centro Paranaense Feminino de Cultura e que há 30 anos preocupava-se em reunir toda a produção intelectual das mulheres paranaenses. Generosa, dona Helena faz questão de lembrar muitas poetas e que não tiveram, até agora, "o reconhecimento merecido". Entre elas, Graciele Salmon, falecida há dois anos, "que deixou também uma obra marcante, profunda". Lembra-se também de Laura Santos, uma poeta negra, de imensa sensibilidade.
- Mereceria ser lembrada neste ano, quando se comemora os cem anos da libertação dos escravos.
LEGENDA FOTO - Helena: a poesia, os pássaros, a vida
Enviar novo comentário