Os inimigos dos Queirolos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de maio de 1977
Como Napoleão, o bravo Lafayete Queirolo, 43 anos de tradição circense, está temeroso de um inimigo cruel: o General Inverno. Os batalhões precursores do glacial inimigo já começaram a chegar e provocar as primeiras baixas no palco de batalhas: o circo Chic Chic, até o dia 14 no bairro do Capão da Imbuía. Na cobertura plástica, colorida e simpática do circo que renasceu após 10 anos, parece ser difícil resistir ao amigo que, em rajadas covardes atinge os soldados - isso é, espectadores e artistas. Resultado: começa haver deserções do público e o próprio Lafayete não sabe como enfrentá-lo
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Outro aliado do General Inverno é a inflação, que corrói os orçamentos domésticos da gente humilde que ainda troca a massificante televisão pelos espetáculos vivos, bem humorados e saudáveis da família Quetrolo e seus amigos. O frio e a falta de dinheiro estão, afinal, assustando os espectadores do Circo Chic Chic, que foi reinaugurado (no ano passado) no parque do Barigüi, passou pela Vila Hauer e está agora no Capão da Imbuía. Lafayete não sabe, agora, onde levará o circo: se A Campo Largo - praça atraente, mas que pela distância onerará o deslocamento diário dos artistas, ou se ao Bairro Alto. O que Lafayete e seu irmão Sérgio, diretores do circo, gostariam de fazer, seria oferecer espetáculos ainda com ingressos mais reduzidos Cr$ 7,00,, Cr$ 10,00 e Cr$ 15,00), mais infelizmente, o custo de produção de cada espetáculo é alto: há cachês (que variam de Cr$ 50,00 a Cr$ 150,00) para cada participante, despesas com iluminação, limpeza e aluguel do terreno pois apenas de toda a simpatia que o circo possa ter, até agora Lafayete não encontrou ninguém que se dispusesse a permitir a sua instalação, por curto período, sem exigir um alto aluguel. A solução seria a Fundação Cultural, beneficiada com gordos orçamentos e generosas subvenções da Funarte, economizasse em algumas promoções supérfluas (como por exemplo, o curso de criação de pássaros, ontem denunciado na coluna de Carlos Jung) e desse aos Queirolos, pessoas de tanta tradição em nossa vida artística, uma regular ajuda. Com isso, seus espetáculos, realmente populares, poderiam ser levados a uma imensa faixa da população, que vivendo com mínimos orçamentos, não dispõe as vezes nem de Cr$ 10,00 para assistir as comédias e dramas, que nos fins de semana, são montadas no Circo Chic Chic.
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Boa vontade, Lafayete e Sérgio Queirolo encontram sempre. O advogado José Augusto Costa, que assumiu a chefia da Censura Federal no Paraná, há 2 meses, mesmo advertindo-os da necessidade de se enquadrarem dentro da legislação para o circo poder continuar a funcionar (censura dos textos, registro profissional dos atores/atrizes etc.), mostrou-se compreensivo com as dificuldades enfrentadas. E, assim, enquanto Lafayete regulariza a situação, o circo continua a funcionar. Embora com pequeno público - afastado pelo frio e, principalmente, pela falta de condições financeiras. Os irmãos Queirolos são mais do que artistas: fazem parte da cidade e merecem toda atenção. A Fundação Cultural tem obrigação moral de ajudá-los em tudo que necessitem.
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