Lucília, uma escritora
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de maio de 1977
Durante 25 anos dona Lucília foi apenas dedicada esposa de um grande fazendeiro e mãe de cinco filhos. Mas sempre gostou de ler e escrever e, pouco a pouco, foi fazendo uma obra que até novembro de 1968 permanecia inédita. Depois que publicou, por insistência de seus filhos, "Rei do Mundo" (agora já em 3ª edição, pela Record). Não teve mais condições de continuar a esconder os seus livros: já publicou oito, tem mais dois no prelo e começa agora a trabalhar em seu 11º romance.
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Lucília Junqueira, filha de um advogado mineiro e de uma paulista quatrocentona, cresceu numa fazendo de café na Triângulo Mineiro. Só depois que os tempos duros do crak da bolsa e da revolução de 1932 passaram, a família Junqueira voltou para São Paulo. Mas desta vivência do Interior - ao qual, ela voltaria, ao casar com o fazendeiro Arnaldo Almeida Prado, de Orlândia, no Norte de São Paulo - a faria, reunir estórias deliciosas, colhendo material e conhecendo tipos que viriam provar seus contos, novelas e romances. "O Rei do Mundo", seu primeiro livro - a história de um pobre menino de fazenda e seu maior amigo, o cavalo Trapézio - tece um grande sucesso: foi adotado como leitura interpretativa na maioria dos colégios paulistas. E Lucília passou a ser chamada para falar sobre literatura. Paralelamente começou a publicar outros livros: "Uma Rua Como Aquela"(Record, 1972, já em 7º edição), a história de uma rua qualquer de São Paulo e seus moradores, onde procurou pôr "um mínimo de descrições e um máximo de diálogos", como lhe haviam pedido os jovens dos colégios que visitara. O livro conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura de 1971. Então Lucília resolveu escrever para a infância e com "Lili do Rio Roncador" (ainda inédito), ganhou o Prêmio Governador do Estado - 73. Em 1974 lançou pelos Melhoramentos, um romance para a juventude: "No Verão, a primavera". Em 1975, outro livro para adolescentes: "A Terra é Azul" (Brasiliense), ao qual se seguiu "Depois do Aguaceiro" (Melhoramentos), "O balão amarelo" (Brasiliense) e "Rio de Contas"( Melhoramentos), com duas "novelas de amor". No prelo, mais dois livros: "O Ype Floresce Em Agosto" (Editora Globo, Porto Alegre) e "Antes Que O Sol Apareça"(Brasiliense), este um romance sobre os boias-frias. Para escrevê-lo, Lucília entrevistou demoradamente um ex-boia fria, que ganhou Cr$ 4 milhões na Loteria Esportiva e pôde de coração aberto, falar sobre o assunto. Seu próximo livro será "Viver em Paz", a história de um imigrante japonês.
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Em novembro do ano passado, Lucília veio a Curitiba para fazer palestras sobre a literatura infanto-juvenil. Em 4 dias esteve em 27 colégios. Agora, passou mais cinco dias aqui, prestigiando a Feira Intercolegial do Livro e falando a alunos de vários estabelecimento de ensino. Lucília é uma das poucas escritoras brasileiras que, por sua conta, percorre o Brasil, acompanhado o lançamento de seus livros. Aqui, assessorada pelo casal Paulo-Rose Hermann, ele representante da Melhoramentos, contribuiu para mostrar a mais algumas centenas de crianças a importância da boa leitura e, atimisticamente, mostra que nem tudo vai tão mal assim. Ao menos nos seus livros.
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