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Polêmica é com Calluf

Se há uma coisa que Emir Calluf, 56 anos, ex-padre, hoje psicólogo, professor afastado da Pontifícia Universidade Católica do Paraná desde o seu rompimento com a Igreja, aprecia é a polêmica. Quando ainda era sacerdote, já se caracterizava pelo seu espírito polemista, radical, capaz de tomar as posições mais discutíveis, mas que sempre defendeu com unhas e dentes. Desde ataques públicos à atriz Leila Diniz poucas semanas após a sua morte, num acidente de avião - chamando-a de prostituta, em artigo da maior repercussão publicado no extinto "Diário do Paraná", até críticas rudes a figuras proeminentes da Igreja, fazem de Emir Calluf uma personalidade política e ideologicamente das mais discutidas, odiadas (e até amadas) em nossa comunidade. Hoje dedicando-se à sua clínica psicológica (Rua Jaime Reis, 100) e a escrever artigos e livros, enquanto não volta a ter o seu espaço na rádio e na televisão (ele que foi um dos pioneiros comentaristas religiosos no vídeo paranaense), Emir Calluf lamenta que seus últimos textos não tenham provocado "a repercussão que gostaria". - "A Igreja é inteligente e sabe evitar polêmicas" - admite, ao comentar o fato de que mesmo um artigo virulento, como sua análise do homossexualismo na Igreja (publicada há três semanas, em O Estado do Paraná) não provocou os comentários que, no passado, artigos "bem mais suaves", motivaram. xxx Enquanto aguarda editor para sua obra mais densa - "Dois Mil Anos De Ilusão", mas que pelo volume (mil páginas) admite que "dificilmente será publicada", Emir Calluf edita, por sua conta, um novo livro, lançamento previsto para o dia 28 de abril: "A Esquerdização Do Clero - Um Estudo Psicanalítico" (Potencial, 84 páginas, preço a ser definido). Independente da venda avulsa deste seu novo livro - "Nem sei quantos já publiquei, acho que uns 10 ou 12" - Calluf vai enviá-lo a deputados federais, senadores, bispos, figuras de destaque da Igreja, "enfim a todos os que possam interessar, formar opinião a respeito". Tendo há muito perdido a fé na Igreja Católica e acreditando na necessidade de levantar questões que até há pouco eram tabus, Emir Calluf não deixa, entretanto, de ser anticomunista e denunciar a esquerdização da Igreja. Por isto mesmo, virou agora sua metralhadora giratória para a progressão do esquerdismo no clero, fazendo, à luz de seus conhecimentos de psicanálise, um estudo objetivo, corajoso, "sem meias palavras". Ao longo das 84 páginas, Emir Calluf não cita nenhum nome de padre ou bispo, evitando, assim, qualquer aspecto que pudesse justificar processo ou resposta pessoal. Entretanto, é duríssimo em suas colocações e posições críticas a todos aqueles que na Igreja, deram "uma violenta guinada para a esquerda: uma adesão cega e emocional e uma defesa intransigente de teses e medidas não apenas populistas e demagógicas, mas abertamente comunizantes e mesmo comunistas". Emir Calluf, curitibano, filho de um emigrante libanês que fez fortuna no comércio, vários cursos no Exterior, há muito que é uma persona non grata para a Igreja - especialmente na Arquidiocese de Curitiba. Casado há 9 anos com a Sra. Munira, paulista, ex-técnica em computação da Avon, dois filhos, Amanda, 6 anos e Emir Filho, 8, vivendo numa mansão na Avenida Nossa Senhora da Luz, Emir Calluf considera-se, hoje, apenas um cidadão normal, psicólogo, atendendo uma movimentada clínica e que defende seus pontos de vista, "de uma forma clara e sincera, de acordo com o que penso". Quando lhe indagam, se não teme represálias maiores da Igreja, como sua excomunhão, comenta: - "Isto nunca me preocupou. E, além do mais, o que significaria isto para mim?" O PSICÓLOGO EMIR ANALISA A ESQUERDA - Em "A Esquerdização Do Clero", que tem como subtítulo "Um Estudo Psicanalítico", Emir Calluf se propõe a "psicanalizar as possíveis causas, decerto todas reais, ativas e entremisturadas" que, em seu entendimento, levaram padres e bispos a posições que classifica de comunistas. Em síntese, eis as causas da esquerdização da Igreja. 1. Um altruísmo desnorteado: uma intenção amiúde séria de ajudar o próximo, sem entretanto o menor discernimento na escolha e uso dos meios, os quais por isto mesmo acabam impedindo a obtenção do fim. 2. Alienação interior e exterior, que incapacita os eclesiásticos para enfrentarem a realidade e se adentrarem nela. 3. Perda de fé no cristianismo e consequentemente busca doutra ideologia com que substituí-lo. 4. Complexo de inferioridade, não só por causa das origens humildes, como sobretudo pela irrealidade que a maneira de viver deles os faz sentir. 5. Formação deficiente e basicamente emotiva, que os torna intelectualmente despreparados e vulneráveis diante doutras ideologias. 6. Educação autoritária e repressiva, por cuja causa estão psiquicamente estruturados para a adoção e defesa de regimes ditatoriais. 7. Supercompensação afetiva, oriunda da castração afetivo-sexual, a qual os predispõe a doutrinas e ações que mais depressa e facilmente os promovam. 8. Oportunismo e carreirismo, reação natural à despersonalização com que conseguiram a posição que atualmente ocupam. São estas as razões, no entender do psicólogo Emir Calluf, que "explicam a adesão de homens supostamente espirituais e anunciadores duma medida salvífica, a uma ideologia economicamente antiquada, psiquicamente bárbara e socialmente falida". xxx A linguagem de Emir Calluf é dura. Por exemplo, para ele a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não passa de "um atroz partido político" e os seus documentos refletem "as arengas odientas de certos padres e antístites avermelhados, nos quais reencontramos os mesmíssimos chavões, as idênticas teses surradas, as iguais afirmações infundadas, arrotadas por qualquer estudantezinho medíocre doutrinado pelos comunistas. Aliás, papagueiam hoje os documentos e explicações marxistas, com a mesma feliz leviandade com que ontem decoravam e recitavam, sem entendê-los, trechos e comentários religiosos". Calluf gira sua metralhadora crítica para aquilo que classifica de boa vida dos esquerdistas da Igreja. Assim, na página 17 indaga: - "Algum de nós já viu um bispo vermelho andar de ônibus, enfrentar filas no INAMPS, morar em habitações populares, ganhar o pão com o trabalho das próprias mãos?" Para Calluf, ex-religioso, que chegou a entrar na ordem dos Jesuítas (mas deixando-a depois), a oposição do clero romano à limitação da natalidade é "mais uma sintonia com o comunismo internacional, para o qual, quanto pior tanto melhor: quanto mais se aguçarem os conflitos provocados pela superpopulação, quanto mais se alastrar a miséria nascida desta, quanto mais, portanto, se incapacitarem governos democráticos bastante para permitirem a reprodução descontrolada mas não o suficiente para esclarecerem a população sobre a procriação responsável - tanto mais fácil a anarquia que permitirá a derrubada do poder e a mudança do sistema social". xxx Um dos capítulos mais agressivos do livro de Emir Calluf é no qual ele atribui as origens humildes de padres e bispos a tendência dos mesmos buscarem as teses de esquerda. Criticando o fato dos religiosos, mesmo quando vindos de famílias extremamente pobres, terem "uma vida imensamente mais cômoda do que aquela que teriam nos lugares de nascença", diz que estes "no fundo sabem que, apesar de toda a conversa sobre vocação e evangelização, trocaram o dever natural de evoluir como homem, pela situação cômoda de abdicar da própria hombridade: à inferioridade originária acresce aquela provocada por um regime de total submissão intelectual, afetiva e social". Assim, conclui que há um "desrecalque da inferioridade" nas posições políticas à esquerda tomadas pelos religiosos. Sem dúvida, só este aspecto de seu livro, pode motivar amplas polêmicas, bastando para tanto, que alguém se disponha a contrargumentar. Coisa, aliás, que Calluf espera que venha a acontecer. xxx Outro capítulo ("Formação Deficiente", a partir da página 49) no qual a sua metralhadora dispara balas de aço: a precária formação religiosa. Diz Calluf que "nos seminários reina a maior das mediocridades: tanto a filosofia quanto a teologia tem consistido mais em decorarem teses pré-fabricadas, a fim de passarem em exames, pois à Igreja desinteressam pensadores críticos e originais, deseja é repetidores literais da doutrina; e a pretensa espiritualidade de homens isolados do mundo, da sociedade e da família tem constituído mais num esforço sistemático de repressão afetivo-sexual". Os padres, quando saem dos seminários, diz Calluf, "dispõem, quando muito, duma porção de idéias piedosas, de mitos e lendas, de crendices e regras, que vai transmitir na espécie de sermões que os incultos agüentam, os cultos simplesmente não toleram". Frisa: - "Basta qualquer um de nós submeter-se ao suplício de, em domingos sucessivos, ouvir as arengas clericais em diversas igrejas, para nos convencermos de que de fato os padres nada mais têm a transmitir".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
12/04/1987

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