Produção Alternativa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de maio de 1979
Entre as muitas - e gratas - surpresas proporcionadas pelo Encontro de Produção Cultural Alternativa/MPB, encerrado domingo, no miniauditório glauco Flores de Sá Brito, esteve o show que reuniu diferentes intérpretes: desde o pianista Antônio Adolfo - que na semana passada, já havia dividido o belo "Faces", no Paiol, com Alayde Costa e Sidney Miller - até a dupla Lucinha (Lucia Helena Carvalho e Silva, matogrossense de Cuiabá) e Luli (Heloísa Lorusco Borges da Fonseca, carioca), Claudia Versiani, uma das velas vozes reveladas no Projeto Vitrine, coordenado por Maurício Tapajós também se apresentou, com seu marido - o violinista e compositor Cláudio Jorge (que sexta-feira volta à cidade, desta vez acompanhando o grupo de Sivuca, para temporada no Paiol), o CURITIBANO José Roberto Oliva, Chris e Christina e até o pianista Gebran Sabbag acabaram participando da improvisada, mas quente mostra que encerrou esta promoção da Secretaria de Cultura e Esportes, desenvolvida através do Museu da Imagem e do Som. Ao lado dos espetáculos musicais - que se estenderam por 5 noites - houve a parte mais importante - qual seja a discussão dos diferentes aspectos que cercam a produção de discos alternativos, por compositores, instrumentistas ou intérpretes que não se dispõem a aceitar o esquema das grandes gravadoras. Divergências, naturalmente, surgiram, mas, ao final, num documento a ser divulgado nacionalmente, ficaram várias propostas em relação à produção e divulgação, tais como troca de discos entre os produtores independentes, a proposta do arquiteto Sergio Prado, de São Paulo, para a formação de um Banco do Disco, considerações da necessidade dos discos alternativos colocados à venda apresentarem boa qualidade técnica de gravação, execução, prensagem e acabamento - aliás, um dos aspectos mais importantes, principalmente sentindo-se que, a cada dia a indústria fonográfica brasileira apresenta lançamentos mais maciços, com excelente acabamento (capa duplas, encartes, gravações em estúdios de 16 canais, etc.). Infelizmente, os poucos produtores de discos alternativos, tanto do Rio de Janeiro como de Curitiba, não puderam participar de todas as reuniões. Francisco Mario, engenheiro eletrônico, irmão do humorista Henfil e que fez um elepê dos mais elogiados ("Terra"), trouxe uma valiosa contribuição, com dados objetivos - mas no domingo, antes da aprovação do documento final, teve que retornar ao Rio. De Curitiba, Osmar Wilson Jenichem, que vem procurando se estruturar no esquema de produção alternativa no Paraná, assim como o baiano Edil Pacheco - único representante do Norte / Nordeste, procurará implantar um trabalho semelhante em Salvador.
Franck Ackler, um dos mais competentes técnicos de gravação ao vivo, responsável pela produção de quase uma centena de elepês - especialmente na área erudita, chegou apenas no último dia, mas sua voz foi positiva e corajosa, e lutou pela criação imediata de uma Associação Brasileira de Produtores Fonográfico Independentes, proposta, infelizmente, não aprovada. Em compensação, no prazo máximo de 90 dias, uma comissão formada por Danilo Caymmi, a dupla Luli e Lucinha, Heitor Valente, Francisco Mário, Guy Joseph e Edil Pacheco, deverá apresentar estudos a este respeito - como uma das formas de aglutinação de todos os que se dispõem a ampliar as faixas de mercado. Realizada desprentesiosamente, sem outras intenções a não ser de abrir uma série de encontros da produção cultural alternativa - que deverá prosseguir com outros eventos (editorial, imprensa, arquitetura, etc.), esta promoção movimentou expressivas áreas, trouxe vida ao auditório do MIS - cuja equipe mostrou grande eficiência, sob coordenação do seu diretor, Marcelo Marchioro - e mostrou que havendo entusiasmo e boa vontade, muito se pode fazer para abrir novas faixas de produção cultural - e, principalmente, fazer com que o talento de jovens criadores cheguem às faixas mais amplas dos públicos interessados.
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