Quem é, afinal, mr. Ovits, o mais poderoso dos agentes de Hollywood
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de junho de 1992
A divulgação na página de domingo sobre as 100 pessoas mais poderosas na Hollywood dos anos 90, conforme o levantamento da revista "Premiére", em sua edição de maio, fez com que mesmo os mais atualizados cinéfilos ficassem surpresos com o nome do homem que, entretanto pela primeira vez neste power poll da indústria do entretenimento visual, conseguiu o primeiro lugar: o superagente Michael S. Ovitz.
Afinal, numa indústria em que o charme e a forma caminham junto com o sucesso e a fortuna, o fato de não apenas mais de 60% dos poderosos em 1992 estarem entre anônimos (para o público) produtores, advogados e agentes, e o primeiro lugar de uma lista de executivos de primeiro nível ser um homem que o próprio "The New York Times" classifica de "Hollywood agent" fez com que a curiosidade aumente.
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Assim, considerando vários telefonemas que recebemos, de leitores e principalmente amigos que desejam saber algo mais sobre quem é este poderoso mr. Ovitz, recorremos a uma das raras reportagens publicadas a seu respeito na imprensa brasileira - "As leis do agente menos secreto de Hollywood" ("O Estado de São Paulo, 27 de julho de 1989, Caderno 2) para trazer alguns dados possíveis. Elaborada por L. J. Davis, da "The New York Times Magazine", a reportagem ocupou toda uma página, com alguns dados sobre Michael Ovitz, seu perfil de executivo e explicando a forma como sua agência age. No primeiro parágrafo, Davis já explica porque em executivo tão poderoso é tão pouco conhecido fora do circuito que o interessa: "Hollywood, uma cidade que não espera e deixa para falar de si mesmo, fecha-se em copas quando se trata de comentar as atividades de Michael S. Ovitz, presidente da Creative Artista Agency (CAA). Entre os que simplesmente não falam se incluem várias das mais poderosas e respeitadas personalidades da comunidade cinematográfica".
Apesar disso, Ovitz, 42 anos (Hoje com 45, n.c.), é o assunto preferido na cidade. No ano passado (1988) sua agência obteve rendimentos estimados em US$ 65 milhões. Os 65 agentes, da CAA - a maioria entre 20 e 30 anos - se reúnem literalmente ao amanhecer e trabalham o dia inteiro para 146 diretores (entre os quais Sir Richard Attenborough[,] Sidney Pollack, Barry Levinson, Martin Scorcese e Oliver Stone), 134 atores [(] incluindo Robert Reedford, Paul Newman, Dustin Hoffman, Gene Hackman, Kevin Costner, Bill Murray, Barbra Streissand, Cher, Sean Connery e Robin Williams) e pelo menos 288 escritores (por exemplo, Chris Columbus, Mark Kasdan, Stephen King e Gore Vidal). Além disso a CAA representa gente como Michael Jackson, Madonna e Prince".
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Até mesmo numa profissão em que a regra de ouro reza que o agente não se deve promover a custa de cliente, a preocupação do Ovitz com descrição é fora do comum. Ele trabalha sempre no sentido de suprimir qualquer informação sobre sua agência. Ovitz é uma das pouquíssimas pessoas no mundo que possuem todas as fotos que tiraram dele.
Graduado pela Universidade of California Los Angeles - a famosa UCLA em 1968, Ovitz começou na agência William Morris - até hoje a maior concorrente na área. Apesar das chances oferecidas, Ovitz e três colegas - Ron Meyer, Michael Rosenfeld, William Haber e Rowland Perkins, decidiram em janeiro de 1975 instalar sua própria agência, com uma nova filosofia. Instalaram-se num pequeno escritório no Wilshire Wolper, trouxeram móveis de casa e suas mulheres se revezavam como recepcionistas.
Em uma semana, Ovitz vendeu três "pacotes" artísticos, significando US$ 30 mil por semana para a CAA. Que não parou, desde então de crescer.
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Conforme revelou "The New York Times Magazine", o sucesso de Ovitz foi ter apostado na forma do chamado "pacote". Assim, a sua agência, representando atores, diretores e roteiristas, negocia com as produtoras - de cinema e tv - a responsabilidade da escolha do elenco de um filme, um show, um seriado ou uma grande produção, indicando o diretor e roteirista. Por acreditar que o talento faz parte do negócio, a agência não cobra a comissão usual de 10% do montante recebido por seus clientes. Em compensação, recebe o equivalente a 5% do dinheiro pago pela pela rede à produtora do show, seriado ou filme; 5% da metade do lucro, se tanto, a produtora recebe da rede e 15% dos produtos bruto basicamente vendas, menos os custos não recolhidos pela rede. Apliquem-se os orçamentos que ultrapassam US$ 30 milhões e se tem uma idéia do que fatura a CAA. Os adversários, acusam que ela inflacionou os salários de seus contratados. Há [3?] anos um salário de US$ 3 a Cr$ milhões era coisa raríssima. Hoje é quase regra geral e superstars - como Arnold Schwarzenegger (o 10º da lista dos mais poderosos) faturou mais de US$ 10 milhões para atuar em "O Exterminador do Futuro II" - 10% do orçamento (US$ 100 milhões) deste filme, até o momento, o mais caro já feito no mundo.
Embora discretamente, a CAA evite a palavra "pacote", o poder que exerce é imenso. Assim, em 1988, durante a greve de roteiristas, teve papel importante para que ao menos 4 filmes em rodagem na época - "Rain Man", "Os Fantasmas Contra-Atacam", "Gêmeos" e "Mississipi em Chamas" (que envolviam orçamentos de US$ 360 milhões), com clientes da agência, fossem concluídos. Em "Rain Man", Ovitz foi praticamente o homem decisivo: indicou Dustin Hoffman (que durante anos não tinha agente) para o papel que lhe valeria o Oscar (o que foi mencionado pelo astro, agradecendo a Ovitz em seu discurso na Academia), praticamente lançou o até então desconhecido Tom Cruise no grande papel e mediou substituições de quatro diretores e roteiristas, até que o filme fosse concluido. Pouquíssimos Tycoons, da era do poder absoluto dos grandes estúdios - a partir dos anos 20 - reuniram tal poder. E Ovitz não é produtor e nem investe seu dinheiro. Apenas negocia. E como sabe negociar!
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Em fins de 1979, a CAA, com US$ 90,2 milhões de rendimento anual, já era a terceira maior agência em Hollywood - depois da Morris e da ICM. Hoje, é a primeira e sua nova sede, inaugurada há 3 anos, é um prédio na Wlshire Avenue esquina com a Little Santa Mônica Boulevard, projeto do arquiteto I. M. Pei - um chinês famosíssimo - e com um imenso mural de Roy Lichtenstein, 69 anos, um dos mais notáveis artistas plásticos americanos. No mínimo, um prédio que já figura no roteiro de visitas para cinéfilos atentos que passam por Los Angeles.
LEGENDA FOTO - Arnold Schwarzenegger.
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