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As realizações alemãs e seus temas inquietos

Enquanto no Cine Groff é possível apreciar a nova produção sueca e na sala FUNARTE a obra de vanguarda de Hans Richter merece uma exposição individual, no auditório do Instituto Goethe (Rua Duque de Caxias, 4) realiza-se a "Retrospectiva de Diretoras Alemãs". Esta mostra inclui-se dentro do projeto "A Mulher na Sociedade", que por sua própria abrangência conduz a um interesse mútuo sobre as discussões em torno da mulher, que neste meio tempo, tanto no Brasil como na Alemanha, atingiram todas as áreas da vida pública e privada. Assim, paralelamente a exposição de livros alemães, encontro de autores, mesas redondas, seminário sobre "Contracultura e Alternativa versus Direito e Constituição", com especialistas alemães e brasileiros, inclui-se a retrospectiva de filmes, realizados por cineastas da República Federal da Alemanha. Em complemento a projeção dos filmes, de cineastas alemães, na Cinemateca do Museu Guido Viaro, a partir do dia 10, haverá o ciclo "A Mulher Vista Pela Mulher", com curtas, médias e longa-metragens de cineastas brasileiras. No encerramento, será projetado "Mulheres Da Terra", Marlene França - premiado no Festival de Cinema de Brasília e que, agora, concorre na categoria de média-metragem no XV Festival do Cinema Brasileiro, em Gramado, a partir da próxima segunda-feira, 27. Marlene França também atriz e realizadora de um contundente documentário sobre o Frei Tito, estará em Curitiba no dia 16 de maio, para um debate após a projeção de "Mulheres Da Terra". OS FILMES DAS ALEMÃS - Dois filmes abordando aspectos da realidade da mulher alemã, realizados por Juta Bruckner, 41 anos - que há 4 já esteve em Curitiba - abriram na terça-feira, 21, a Retrospectiva: "Faça O Certo Sem Temer A Ninguém", 1975 e "Anos De Fome Num País Rico", 1979. Ontem, foram projetados "O Poder Dos Homens E A Paciência Da Mulheres", 1978, de Cristina Perincioli e "Uma Personalidade Totalmente Reprimida", 1978, de Helke Sander. Para hoje, a programação é a seguinte: Às 15 horas, "Não Me Venha Falar Em Destino", 1979, preto e branco, 117 minutos, de Helga Reidemeister. O filme aborda a vida de Irene Rekowitz, mãe de quatro filhos, que pede o divórcio após 20 anos de casamento e fica com os dois filhos menores. Compreendendo as condições e os mecanismos do cotidiano, ela reconhece que é preciso se defender para transformar e melhorar a própria situação. No filme ela fala de maneira autocrítica e aberta dos problemas que enfrenta com a família e sobre suas tentativas para superá-los. Às 20h30min, será projetado "Sete Vidas Tem O Gato", 90 minutos, colorido, com legendas em português. A direção é de Ula Stockel. Cinco mulheres que querem romper com suas condições de dependência. Todas procuram a felicidade e pensam estar no caminho certo. Na realidade, todas elas estão bem adaptadas as suas condições de vida, tendo em comum o fato de nunca terem recebido uma formação profissional e de não acreditarem muito na solidariedade entre mulheres. GERTRUD BAER, UMA PIONEIRA - Para amanhã, último dia da retrospectiva, estão programados dois filmes, ambos do maior interesse! Às 15 horas será exibido "Gertrud Baer - Uma Vida Pela Igualdade De Direitos Da Mulher, Para A Paz E A Liberdade", preto e branco, 45 minutos, 1977, legendas em português. A direção é de Michaela Belger. Gertrud Baer, nascida em 1890, fala sobre sua vida. Atuante no movimento feminista desde sua juventude, ainda adolescente ingressou na Associação para o Direito da Mulher ao Voto, em Hamburgo. Após a fundação da Liga Internacional das Mulheres para a Paz e a Liberdade (em 1915, em Den Haag), esta mulher, paralelamente à sua atividade como professora, dedicou grande parte de seu tempo ao trabalho político feminino. A narrativa desta mulher sobre o "movimento feminista radical-burguês" da Alemanha entre 1900 e 1945, sobre as atividades políticas das mulheres na Liga Internacional de Mulheres para a Paz e a Liberdade e sobre sua atividade como professora, em nenhum aspecto se apresenta como senil, saudosista ou mesmo possível de sorrisos complacentes. Ao contrário, com seu engajamento na causa do movimento feminista até a velhice, Gertrud Baer demonstra quanto trabalho e radicalismo as mulheres de sua geração eram forçadas a investir em prol de direitos que atualmente são óbvios. ALEMANHA, PÁLIDA MÃE - Um dos mais belos filmes sobre os reflexos do nazismo e da II Guerra numa família alemã foi realizado há 7 anos pela sensível cineasta Helma Sanders-Brahms: "Alemanha, Pálida Mãe". Exibido já em circuito comercial e reprisado em sessões especiais, este emocionante drama encerra às 10h30min de amanhã, no auditório do Goethe, a retrospectiva. Helma Sanders-Brahms conta a história de Lene e de sua filha, a própria Helma Sanders-Brahms, uma moça que casa na época do nazismo, dá à luz a sua filha em meio ao alarme antiaéreo e tem que sobreviver sem ajuda de ninguém, já que o marido luta no front. "Alemanha, Pálida Mãe" foi o primeiro filme a falar de mães e crianças na guerra sem recorrer aos clichês. Ao mesmo tempo trata-se de um filme de resistência, como escreveu o crítico Olav Munzberg: - "Resistência não no sentido de uma consciente resposta política ou armada, mas da recusa máxima possível de todas as formas de colaboração com a violência ou de pseudoparticipação, em favor da realização do seu desejo elementar de vida, no sentido do amor, da vida e da criança. A resistência é física e consiste em agarrar-se às necessidades elementares da própria vida contra formas de distorção, deformação ou extinção pelo nazismo".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
15
23/04/1987

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