Sir Ney ganha livro mas morre nas tiras
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de março de 1990
Os quadrinhos como documento: alguns dias da mudança do governo, a Icone Editora colocou nas bancas "Sir Ney - que rei fui eu" do desenhista Novaes. Em 57 páginas, foram reunidas as satíricas tiras que Novaes, 36 anos, vinha publicando na "Folha da Tarde", desde o dia 8 de setembro de 1986.
Propositadamente, calcado em "O Reizinho" de O. Soglow, Novaes desenvolveu no personagem Sir Ney uma visão crítica, com muito humor do presidente José Sarney e que, embora com tempo de vida curta - sua morte ocorreu no dia 15 deste mês, naturalmente! - vale como uma experiência interessante na aproximação dos quadrinhos diários a crônica do quotidiano.
Assim, como "Álbum de figurinhas & figurões" de Dante Mendonça, nosso colega de redação, é um livro-documento, em charges, de personalidades políticas - e visões bem humoradas do dia-a-dia político - Novaes, em seu Sir Ney procurou capturar os fatos que conduziram a vida política nestes últimos 4 anos. A sua reunião em forma de livro-álbum dá uma permanência às tiras que, se não tivessem esta edição, se perderiam na rapidez com que uma publicação diária é consumida.
xxx
Entrando com organização e relações públicas no crescente mercado de quadrinhos para adultos, a Icone já programou outro volume satírico, a sair dentro de algumas semanas: "Caras & Caretas: os rocks de Nerso Gonçalves".
Já numa linha de aventuras de ação, o editor Wagner Veneziani Costa revela o trabalho de Mozart Couto, com o álbum "O Vigilante". Mozart começou há 11 anos, justamente publicando suas primeiras histórias em revistas de quadrinhos que Faruk El-Khatib editava através da Grafipar. Sua primeira HQ foi "Presente de Aniversário" e durante o (curto) criativo período em que El-Khatib tentou implantar na Rua Jordânia, às margens da BR-116, um centro nacional de quadrinhos, Mozart Couto - como tantos outros artistas vindos de várias partes do país - tiveram suas primeiras oportunidades. Posteriormente, com a concordata da Grafipar, Mozart passou a colaborar com a editora D-Arte, ali criando o personagem "Hakan", voltando-se a linha erótica e terror - gêneros em que a editora curitibana havia canalizado a maioria de suas revistas. Em seus trabalhos, Mozart sempre procurou um universo de viagens, sonhos e pesadelos, com toques de sinceridade e humanismo. "O Viajante" - que a Icone Editora inclui na coleção "Quadrinhos Fantásticos" - é definido pelo editor Wolney Almeida de Souza como "mais que um sonho, uma pequena fonte de energia imaginária que flui para o papel com soberbo brilhantismo". Diz ainda o editor, que tanto no roteiro como no desenho usa sua arte como canal de comunicação com o mundo. "Através de 'O Viajante' procura desvendar a eterna busca da humanidade por seu passado, futuro e razão de existir".
LEGENDA FOTO - "Sir Ney", criação do desenhista Novaes: agora em livro com o fim do personagem-inspiração.
Enviar novo comentário