Suspense requintado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1988
A abertura é uma visão aérea de Nova Iorque. Assim como a câmara Panavision de Robert Wise focaliza Manhattan em "West Side Story" ("Amor, Sublime Amor", 1961), mas também numa enquadração que lembra a introdução - só que esta da Los Angeles dos anos 2.000 - de "Blade Runner - O Caçador de Andróides" - do mesmo Riddley Scott que agora mergulha num thriller chic, tão requintado como seus trabalhos anteriores.
"Perigo na Noite" (Someone to Watch Over Me) tem o requinte que fez com que em uma década o ex-publicitário Riddley Scott se tornasse um diretor cultuado pelos que buscam um cinema esteticamente perfeito. Do mergulho na história - com a adaptação de um conto de Joseph Conrad em "Os Duelistas", passando pelo terror espacial ("Allien"), e realizando o mais apaixonante science fiction dos últimos anos ("Blade Runner"), Scott dá uma nova mostra de deslumbre visual neste thriller ambientado na Nova Iorque cosmopolita e selvagem.
O roteiro (Howard Franklin) pode não provocar o "frisson" que o público fanatizado por obras anteriores de Scott esperava (uma das razões para explicar o seu relativo fracasso comercial), mas o seu "timing", a precisão das seqüências, a trama bem urdida - faz com que seu suspense nada fique a dever a um Hitchcook na melhor fase.
Mike Keegan (Tom Berenger), um detetive nova-iorquino, encarregado de proteger uma rica dondoca, Claire Gregory (Mimi Rogers), testemunha do assassinato de um amigo, pelo psicopata Joey Venza (Andreas Katsulas), envolve-se afetivamente com a atraente mulher - apesar de seu amor pela esposa, Ellie (Lorraine Bracco, uma sósia de Betty Faria) e do filho de 9 anos. A trama tem um desenvolvimento equilibrado, com um final ao estilo de "Atração Fatal" - mas ao inverso e sem a canalhice do filme de Adrian Lyne. Ao longo dos 114 minutos de projeção a fotografia de Steven Poster é um deslumbre, com o aproveitamento tanto dos cenários criados por Jim Bissell para o superapartamento de Claire, como as ruas de Nova Iorque. A trilha sonora de Michael Kamen está entre as mais belas do ano - do aproveitamento do standard que, em 5 diferentes versões (inclusive na voz de Sting) dá o título original ao filme (e muito mais apropriado do que o idiota nome que a Columbia encontrou para o Brasil). Interpretações seguras, com tudo aquilo que o público tradicional espera de um filme de suspense, seria de se esperar que "Perigo na Noite" fosse um êxito. Não é. Tanto é que tem hoje e amanhã suas últimas projeções no Cine Astor.
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