A frase é antiga mas não se pode deixar de usar: filho de peixe, peixinho é. Realmente, Paulo Tapajós (Gomes, Rio de Janeiro, 67 anos a serem complatados em outubro) não poderia deixar de ter uma família mais musical. Último dos grandes modinheiros brasileiros, diretor artístico da Rádio Nacional em diferentes períodos nos 35 anos em que ali atuou, produtor fonográfico e radiofônico, hoje na presidência da Associação de Pesquisadores da MPB, Paulo e Norma (sua companheira querida de tantos anos) viram seu filhos serem bem sucedidos nos caminhos musicais. Maurício, o primogenito, 37 anos e Paulinho, 35 anos, como compositor e Dorinha, 30 anos, como cantora - integrando o Quarteto em Cy há 7 anos. Agora, quando aparece numa produção independente (Sacy) o primeiro lp de Maurício como interprete (<< Olha aí >>), temos, finalmente, o 3º elepe de Paulinho, << Amigos e Parceiros >>, gravado inicialmente para a ISAEC, de Porto Alegre, mas que devido aquela fábrica gaúcha ter encerrado suas atividades, está sendo comercializada pela Crazy, pequena etiqueta de São Paulo que, finalmente, passa a dar atenção ao mercado regional, através do representante José Maria de Oliveira. Maurício Tapajós é uma figura humana extraordinária: excelente amigo, consciente profissional (é arquiteto atuante, ou melhor, até há pouco), líder da classe (foi uma das fortalezas da Sombrás, na luta pelos direitos autorais) tem uma obra das mais ricas, com parceiros que vão de HerminioBello de Carvaljo (seu compadre e amigo dos mais queridos) a João Nogueira. << Olha Aí >> é uma espécie de mostra do que Maurício tem feito ao longo dos últimos 17 anos, desde que se lançou como compositor (em 1963, com Antônio Carlos de Brito - o Cacaso, tinha seu << Carro de Boi >> gravado por Os Cariocas) até os dias atuais, com músicas inéditas como as parcerias com Paulo Cesar Pinheiro (<< Rotina de Lra >>, << Sem Pena de Mim >> e << Filha da Vizinha >>). Com Paulo Pinheiro são ainda << Tô Voltando >>, << Resta Sobre o Mar >> (do qual participa Guinga) e << Pesadelo/de Repente >>. Com Herminio, << Mudando de Conversa >> - um dos maiores sucessos de sua carreira e com João Nogueira, a deliciosa << Dama da Noite >>. Com Aldir Blanc, << Querelas do Brasil >>, lançado há 3 anos pelo Quarteto em Cy. Dizer que Maurício seja um cantor não é correto: é um autor, seguro violonista e intérprete afinado. Seu disco vale como documento da obra de um grande brasileiro. Arquiteto como o irmão Maurício, Paulinho tem mostrado sempre um estilo mais romantico: << Cantiga por Luciana >> (parceria com Edmundo Souto) vencia em 1969 o IV FIC e, anteriormente, com << Andanças >> (com Souto e Danilo Caymmi) também se destacou no festival anterior. Há 6 anos, o lp que fez na RGE passou desapercebido, mas, em compensação, no ano passado, seu disco na ISAEC, esteve na lista dos melhores do ano. Pouco depois de sair aquele disco, Paulinho gravava um novo lp, << Amigos e Parceiros >>, cujo lançamento coincidiu com a decisão da ÌSAEC em suspender suas produções artísticas. O material era de tão bom nível que seria lamentável que o mesmo permanecesse inédito. Por isso é estimulante que a Crazy, pequena etiqueta paulista, até agora sem maior presença no mercado, tenha decidido a comprar o tape e lançá-lo. E, finalmente, o representante regional, José Maria, está tendo tempo para divulgá-lo. É um disco terno e romantíco, como caracteriza a obra de Paulinho, que sempre gostou de temas familiares: por exemplo, ao menos duas das faixas são em decorrência do nascimento de seu primeiro filho, Bruno: << Coisas de Mãe >> e << O Choro do Bruno >> (este um chorinho em parceria com Abel Ferreira, que dá uma participação especial no clarinete). A lista de << Amigos e Parceiros >> é imensa e mostra o quanto é estimado este Tapajós: << Seja o Que Deus Quiser >> (com Ivan Lins, também presente vocalmente). << Afinal o Meu Violão >> (c/Edmundo Souto e Beth Carvalho, participação de vania Carvalho); << No Tempo dos Quintais >>, uma obra-prima em parceria com Sivuca, que já incluímos entre as 10 melhores músicas de 79, tem nesta gravação do autor, a presença de Sivuca e do pai Paulo Tapajós; << As Portas do Meu Sorriso>, com Raimundo Fagner; << Abel e Caim >>, com o mano Maurício (e participação especial de Raul de Barros; << Fábula >>, com Toquinho; << Nos Cabarés >> , com Carlinhos vergueiro; << Minimas >>, parceria com Luiz Fernando Verissimo e Maurício, ficou só em sua voz, mas << Amigas >>, parceria com Roberto Menescal, foi dividido com a mana Dorinha. Finalmente , << cantor de Boite >>, parceria com Arthur Verocai. Um disco rico em presenças, terno, suave e bonito. Um elepe indispensável a quem sabe curtir os bons momentos de nossas MPB e seus talentos. FOTO LEGENDA1- Paulinho Tapajós FOTO LEGENDA2- Maurício Tapajós

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Jornal da Música

Página: 1

Data: 22/06/1980

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