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Aramis

Um Brasil musical de todos os cantos

Se ao longo dos 11 painéis nos quais, muitas vezes de forma pessimista, pesquisadores e estudiosos da cultura popular como o polêmico J. Ramos Tinhorão, o carioca Ary Vasconcelos, o produtor Pelão (João Carlos Botezelli), o animador cultural (e poeta) Hermínio Bello de Carvalho, o pesquisador potiguar Grácio Barbalho, o modinheiro e pesquisador Paulo Tapajós - entre outros -, mostravam a preocupação pela descaracterização da linguagem musical, por outro lado, houve momentos de otimização e de que nem tudo está perdido. Embora, "seriamente ameaçado" - como observou, com precisão, Chico de Assis, 53 anos, dramaturgo, compositor e, nos últimos meses, um dos produtores do "Som Brasil". Quase uma centena de jovens viajaram mais de 2 mil quilômetros, em ônibus para, sem receber qualquer cachê, apresentarem nas noites do seminário, belos espetáculos de dança folclórica de seus Estados. Assim, o grupo Tropeiros da Borborema, de Campina Grande na Paraíba, liderado pelo professor de Educação Física Gerson Broto, 32 anos e formado por 20 jovens (12 rapazes e 8 moças) passou nada menos que 5 dias num ônibus para, durante duas horas, mostrar as danças de seu Estado, num espetáculo de muito ritmo e cores. Já os 23 jovens do grupo Asa Branca, de Belém do Pará - percorreram ainda um percurso mais longo e chegaram a Tramandaí na tarde de sexta-feira, 13, para, poucas horas depois entrarem no palco improvisado no ginásio de esportes e encantarem com a belíssima demonstração da arte da dança na Amazônia. Também o grupo Aruanda, de Belo Horizonte, percorreu um longo caminho para mostrar as danças que cultiva há mais de 20 anos - e que, em 1987, serão levadas à Europa - numa exportação de nosso melhor folclore. A quase desconhecida música que jovens fazem na zona do pantanal mato-grossense, representada pela Vanguarda Nativista, que o compositor e violeiro Guapo (Milton Pereira de Pinho, 35 anos), da cidade de Cáceres, lidera, também representa uma visão daquela cultura musical ainda autêntica justamente pelo fato de estar desconhecida - mas, paradoxalmente, querendo chegar aos grandes veículos de divulgação através de seus produtores. Em contrapartida as manifestações coreográficas e musicais recebidas das regiões Norte-Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, Maria Lucia Brunelli, coordenadora artística do Acordo Brasileiro, montou um painel da música gaúcha, hoje representada por mais de 300 profissionais que vem movimentando o intenso catálogo de festivais nativistas e chegando também ao disco (só nos últimos anos, a produção fonográfica foi de 820 discos). Assim, ao lado de intérpretes da maior força regional, houve também oportunidade de se conhecer a nova fase do mais conhecido instrumentista da nova geração gaúcha, Renatinho Borghetti, 23 anos, apresentar-se com um conjunto de cordas, em arranjos do violonista Beto Castellari, uma seleção de músicas premiadas em festivais nativistas. Ou então a consagrada Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, fazer uma apresentação, do Concerto para Acordeon e Orquestra, que Radamés Gnatalli (81 anos, gravemente enfermo), dedicou ao seu conterrâneo e amigo Chiquinho do Acordeon (Romeu Seibel, 68 anos, gaúcho de Santa Cruz do Sul), emocionado em voltar a tocar no seu Estado. Emotivo também a presença de Telmo de Lima Freitas, 52 anos, gaúcho de Itaqui, com uma obra das mais sólidas (e até hoje apenas um elepê gravado), que o faz ter tanta importância no Rio Grande do Sul, como Elomar Figueira tem na Bahia. Ambos, entretanto, se mantêm distantes dos centros irradiadores da cultura oficial, preferindo um trabalho de raízes: Elomar sem deixar sua fazenda de criação de bodes em Vitória da Conquista. Telmo, trabalhando na reserva dos kaingangues, em Itaqui, onde também se dedica à escultura em madeira e couro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
16/12/1986

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