Acorde gaúcho para a discussão da MPB
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de dezembro de 1986
Quase cinco anos após o Brasil de Todos os Cantos, realizado em Curitiba, em maio de 1982 como último grande evento cultural do governo Ney Braga, ter proposto uma grande avaliação da música brasileira, volta a ocorrer um encontro de propósitos semelhantes (mas dimensão ampliada) em Tramandaí, Rio Grande do Sul, a partir de hoje: Acorde Brasileiro - Seminário Nacional em Defesa da Música Regional Brasileira.
Há 40 meses, quando aqui coordenamos o evento Brasil de Todos os Cantos, paralelo ao seminário Linguagens e Rumos da Canção Brasileira, procurávamos já aprofundar o debate de questões importantes relacionadas à produção, divulgação e defesa de nosso cancioneiro, em seus mais diversos segmentos - assim como na área da pesquisa, seriam realizados mais dois encontros nacionais, ambos no Rio de Janeiro, patrocinados pela Funarte (1982/86). Agora, graças ao entusiasmo de um dos mais importantes animadores culturais do Rio Grande do Sul, Edson Otto, diretor administrativo do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, acontece o Acorde Brasileiro - reunindo mais de 500 pessoas ligadas, de diferentes formas, à nossa música popular.
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Durante quatro dias, numa série de dez painéis, em que estarão compositores, instrumentistas, pesquisadores, jornalistas, especialistas em direitos autorais, produtores fonográficos etc., serão abordados, com profundidade e linguagem objetiva, questões como o colonialismo cultural da MPB (naturalmente, tendo como expositor o mais fervoroso e radical de nossos críticos, José Ramos Tinhorão), a valorização dos regionalismos, as relações da música brasileira e a indústria cultural (a ser exposta por Hermínio Bello de Carvalho e com debates conduzidos pelo produtor Pelão), divulgação da música no rádio, televisão e imprensa; influência da música regional tanto na música erudita como no turismo; o intercâmbio dos pesquisadores etc.
Ao lado de questões teóricas e informativas, o Acorde volta-se também a questões práticas, de aspectos profissionais, como a questão da formação do músico nas entidades oficiais e particulares; a organização da classe musical - com exposição do compositor Maurício Tapajós, presidente do sindicato dos Músicos Profissionais do Rio de Janeiro.
Um dos aspectos mais quentes da música popular também ocupará um painel: os direitos autorais, contando com a presença de Hildebrando Pontes Neto, vice-presidente do CNDA.
Estado que abriga hoje mais de 50 festivais nativistas e com um movimento musical consolidado, o Rio Grande do Sul também será analisado em seu regionalismo através de painéis com a participação dos diretores do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Paulo Xavier, Edson Otto e Rose Marie Reis Garcia. Paixão Cortes, ex-diretor daquele Instituto, nome dos mais respeitados (hoje internacionalmente) por suas pesquisas do folclore e música gaúcha, estará ao nosso lado - e de José Otávio Guizzo, ex-diretor da Fundação Cultural de mato Grosso e de Albino Pinheiro (atual presidente da Associação dos Pesquisadores de MPB) no painel sobre "A Pesquisa e o Intercâmbio da Música Brasileira".
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A parte da programação musical paralela será aberta amanhã com a Sinfônica de Porto Alegre, regida por Eleazar de Carvalho, com um programa que inclui peças de Nestor Wenholz, Armando Albuquerque, Villa Lobos e, no encerramento, o concerto para acordeons e orquestra de Radamés Gnatalli, tendo como solista Chiquinho do Acordeon (Romeu Steibel, gaúcho de Santa Cruz do Sul, 58 anos, desde 1950 radicado no Rio de janeiro). Do espetáculo de abertura também participará o hoje nacionalmente famoso Renato Borghetti. Na integração nacional pretendida, Maria Lúcia Brunelli, coordenadora artística do evento, programou apresentações dos grupos Aruanda de Minas Gerais e Asa Branca de Belém do Pará. A música gaúcha será aplaudida através de grupos como o Boca Nova, Lagoa Vermelha, Status e as Vozes de compositores e intérpretes surgidos nos festivais nativistas destes últimos anos - como Eraci Rocha (Rui Biriva, Maria Luiza Benitez, Vítor Hugo, Elaine Geissler, Heleno Gimenez, Fátima Gimenez, Carlos Cachoeira, Betto Bollo, Vinícius Brum, Telmo de Lima Freitas, Juarez Gomes, Ary Goulart, João Vicente, Honeide Bertussi e Leonardo.
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