Leon urra em Curitiba para que se ouça a velha guarda
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de janeiro de 1988
Hoje à tarde, na Divisão de Música Popular do Instituto Nacional de Música / Funarte, no Rio de Janeiro, Hermínio Bello de Carvalho, o incansável animador cultural reúne-se com Albino Pinheiro, presidente da Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira e outras pessoas preocupadas com a memória de nossa música para estudar a realização de um quinto encontro. Uma proposta viável é que o mesmo possa acontecer em Curitiba, onde houve o primeiro, há 13 anos (28 de fevereiro a 2 de março de 1975, Auditório Salvador de Ferrante).
O secretário René Dotti, da Cultura, quando da última passagem de Hermínio por Curitiba, em agosto, acenou com a possibilidade da Secretaria ajudar a realizar um novo encontro de estudiosos da MPB - que após a reunião de Curitiba, voltaram a encontrar-se por mais três vezes no Rio de Janeiro, e uma, extra-oficialmente, paralelamente ao seminário "Acorde Brasileiro" (Tramandaí, RS, dezembro/1986), num evento idealizado por Edson Otto, na época diretor técnico do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore.
xxx
A partir do primeiro encontro nacional de pesquisadores de MPB muito de concreto se fez pela revitalização de nossa memória sonora. Pode-se, por exemplo, completar e editar a discografia de 78 rpm (4 volumes, patrocínio da Xerox), estimularam-se as pesquisas sobre personalidades da MPB através do Projeto Lúcio Rangel, com mais de 15 trabalhos premiados já publicados e, principalmente, editaram-se discos com gravações históricas. Paralelamente as promoções da Funarte - e nisto o grande responsável tem sido Hermínio Bello de Carvalho - surgiram outras iniciativas valiosas. A bibliografia sobre nossa música não pára de crescer, como vem registrando o professor Alceu Schwaab, autor inclusive de um guia-referencial a respeito, enquanto que apaixonados por nosso passado musical, suprem a ausência de edições comerciais (ao contrário do que acontece nos EUA e Europa, onde há sempre coleções com os grandes nomes do passado) partindo para edições reservadas mas que, pouco a pouco, vão atingindo um público fiel e espalhado por todo o Brasil.
Assim, enquanto a Collector's atinge ao volume 80 da série de cassetes intitulada "Assim Era o Rádio", e lança cinco elepês com vozes famosas, e, em São Paulo, aparece uma etiqueta (Filigranas) garimpando o acervo histórico da RCA, em Curitiba acontece uma iniciativa semelhante. Leon Barg, 57 anos, proprietário de uma loja de discos (Sartori Música e Instrumentos, Rua Barão do Rio Branco, 28) e dono de um precioso acervo com mais de 40 mil títulos, decidiu democratizar suas raridades: está lançando os cinco primeiros elepês do selo Revivendo.
xxx
Pernambucano de Recife, mas há 34 anos residindo em Curitiba, Leon Barg coleciona discos desde a infância. Em sua residência, reservou duas garagens para guardar milhares de elepês e, especialmente 78 rpm, entre os quais preciosidades que só encontram rival nas coleções do paulista Miécio Café, do potiguar Grácio Barbalho e do cearense Nirez (Miguel Angelo de Azevedo), três dos colecionadores com os quais há muito mantém um proveitoso intercâmbio. Há outros grandes colecionadores, menos conhecidos, com os quais Barg vem ao longo dos anos fazendo um trabalho de intercâmbio. Um deles, José Maria Costa Manso, ex-locutor do "Repórter Esso", na Rádio Nacional dos anos gloriosos, foi o primeiro a ter a idéia de reeditar o material precioso que até agora permanece nas mãos de pouquíssimos colecionadores. Assim, contando inclusive com a ajuda de Leon Barg, Costa Manso criou a Collector's, que em menos de três anos já montou e comercializou 80 fitas cassetes, com o melhor da programação das rádios do Rio de Janeiro (Nacional, Tupi, Tamoio, entre outras), entre as décadas de 30 a 50. Artesanalmente - e com naturais falhas - as fitas vendidas pela Collector's (Cz$ 410,0 cada) vêm sendo solicitadas (Rua Visconde de Pirajá, 550, s/s 112, Ipanema, Rio de Janeiro, telefone 239-6793) por saudosistas da era do rádio. Realmente, a coleção é uma máquina do tempo da fase em que se fazia no Brasil o melhor rádio - e cuja nostalgia ultrapassa nossas barreiras, como Woody Allen provou em seu enternecedor "A Era do Rádio / Radio Days" (Cine Luz, em reprise, 5 sessões) - o melhor filme exibido no Brasil em 1987.
Em Belo Horizonte, um grupo de produtores de um programa de serestas na Rádio América chegou a bancar a prensagem de uma série de gravações que há mais de 30 anos estavam fora de catálogo. No Rio de Janeiro, a Moto Discos fez a RCA reeditar alguns volumes da série "Reminiscências", enquanto que Milton Varella, do selo Filigranas Musicais (até agora só encontrado em Curitiba na loja de Barg) também remexeu em arquivos da RCA e montou elepês com Francisco Alves, Mário Reis, Patrício Teixeira, Aracy de Almeida, Gastão Formenti, Carlos Galhardo, Gilberto Alves, Roberto Paiva, Carmen Miranda, Castro Barbosa e Odete Amaral.
Tags:
- A Era do Rádio
- Acorde Brasileiro
- Albino Pinheiro
- Alceu Schwaab
- Aracy de Almeida
- Assim Era
- Associação dos Pesquisadores da MPB
- Carlos Galhardo
- Carmen Miranda
- Castro Barbosa
- Cine Luz
- Costa Manso
- Divisão de Música Popular do Instituto Nacional
- Edson Otto
- Filigranas Musicais
- Francisco Alves
- Gastão Formenti
- Gilberto Alves
- Grácio Barbalho
- Hermínio Bello de Carvalho
- Instituto Gaúcho de Tradição
- Leon Barg
- Mário Reis
- Miécio Café
- Miguel Angelo de Azevedo
- Moto Discos
- MPB
- No Rio de Janeiro
- Odete Amaral
- Patrício Teixeira
- Pernambucano de Recife
- Projeto Lúcio Rangel
- Rádio América
- Radio Days
- René Ariel Dotti
- Repórter Esso
- Roberto Paiva
- Rua Barão do Rio Branco
- Rua Visconde de Pirajá
- Wood Allen
Enviar novo comentário