Um encontro no cinema com o notável Gurdjieff
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de agosto de 1990
George Ivanovitch Gurdjieff (Alexandropol, Cáucaso, 1872 - Paris, 1949) é um nome praticamente desconhecido fora dos círculos de iniciados que há mais de 40 anos estudam a sua obra. Recusando adjetivações como filósofo ou escritor, considerava-se apenas "um mestre de danças sagradas orientais". Teve uma vida aventurosa, percorrendo a Ásia e, a partir dos anos 30, quando se fixou em Paris, formou um grupo de discípulos ardorosos, incluindo norte-americanos, que se fascinavam com sua visão do mundo e aquilo que chamava de "buraco do equilíbrio para o homem".
Dos três livros que escreveu, o único que foi traduzido para o português é "Encontros com Homens Notáveis" (2ª edição no Brasil; Pensamento, 296 páginas, Cr$ 760,00).
Os outros dois - "Conversas de Belzebu ao seu Neto: de Tudo e de Todos" e "Eu Sou apenas Quando Sou", permanecem inéditos ("Belzebu" está sendo traduzido por um grupo do Instituto Gurdjieff, de São Paulo).
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Um dos adeptos de suas teorias é Peter Brook, 65 anos, considerado o mais importante diretor do teatro inglês nos anos 60 e que tem feito também incursões pelo cinema, com filmes como "Ao Pé do Cadafalso" (The Beggars Opera, 53, com Sammy Davis Jr. e Curt Jurgens); "Duas Almas em Suplício" (Moderato Contabile, 60, baseado em Margueritte Duras); "Lord of the Flies" (62, baseado no romance de William Golding, Nobel de Literatura) e, especialmente, "A Perseguição e Assassinato de Jean Paul Marat", conforme a representação dos internos do asilo de Cherenton, sob a direção de Marquês de Sade, da peça de Peter Weise (1966). Com exceção de "Rei Lear" (1971), seus últimos filmes - "Red, White and Zero" (1967), "Tell me Lies" (1968) e "La Tragédie de Carmen" (1983) não chegaram ao Brasil. No ano passado, após fazer uma encenação de dez horas de sua adaptação de um livro sagrado hindu - o transformou em filme e levou a Cannes.
Entretanto, para a crítica, um de seus maiores momentos como cineasta foi quando levou à tela "Meeting With Remarkable Men", da obra de Gurdjieff, que ao estrear em abril de 1979, no Surf Theater de San Francisco, provocou uma série de comentários. Desde "um filme seco de busca pela verdade" (Stanley Bichelbaum, "San Francisco Examiner") até "uma evolução linear da busca de conhecimento por um homem" (Kevin Sterr). Um filme que, pela sua condição especial, se destinaria a fracassar nas bilheterias, alcançou, em muitas cidades, grande êxito.
No Brasil, coube ao Instituto Gurdjieff importar uma única cópia que tem sido projetada apenas em sessões especiais em São Paulo. Isto não impediu, entretanto, que os (poucos) críticos que o assistiram - como Pola Vartuck, de "O Estado de São Paulo" e Edmar Pereira, do "Jornal da Tarde", os incluísse entre as mais importantes obras dos anos 70.
Apesar de sugestões feitas a Fucucu para que tentasse, já há 5 anos, convencer os dirigentes do Instituto Gurdjieff a promover a exibição do filme em Curitiba, o mesmo permanecia inédito. Agora, como o núcleo local dos adeptos de Gurdjieff acreditou haver já um número mínimo de interessados, a preciosa cópia única será apresentada em apenas 10 sessões (dias 31 de agosto a 5 de novembro, 15 e 20h, Cine Groff).
Embora tenha usado basicamente atores não profissionais - especialmente pastores afegãos, com sua fala "rude que os torna mais reais" (segundo Michael Kernan, "Washington Post"), há um nome famoso no elenco de "Encontros com Homens Notáveis": Terence Stamp, 50 anos, ator inglês, que em seu terceiro filme ("O Colecionador", 1964, de William Wyller), tornou-se um astro após premiação em Cannes. Também um ator russo, Dragan Maksimovic e o inglês Warren Mitchel estão no elenco deste filme que mereceu de "L'Express" (Paris) o seguinte comentário: "Peter Brook filmou uma viagem iniciática numa Ásia ainda em sua Idade Média, com uma sobriedade que lhe foi, talvez, imposta por seu orçamento, mas que fez milagres. A semelhança de uma busca espiritual com a caça ao tesouro é o que constitui o exotismo e o encanto do sétimo e melhor filme de Brook".
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Rob Baker, no "Soho Weekly News", escreveu a respeito deste filme raro, que numa oportunidade única poderá ser visto agora em Curitiba: "O que Gurdjieff ensinou foi o caminho da transformação dentro de si... O que Brook alcançou foi um sentido dramático desse potencial de busca, dessa descoberta, dessa possibilidade, a tal ponto que quando isto começa a ocorrer nos últimos 45 minutos do filme, a platéia foi preparada para participar de uma experiência que só pode ser descrita como extásica e eletrizante".
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