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Aramis

Um núcleo de estudos na Curitiba dos anos vinte

Para quem passa pela rua XV de Novembro, 1050, logo após a esquina com a Rua Tibagi e menos de cem metros do Teatro Guaíra, o edifício de três andares, colunas gregas e uma arquitetura que, no mínimo, pode ser definida como "eclética", sempre foi um mistério. Quase sempre fechado, com pouquíssimas pessoas procurando-o, o nome inscrito sobre a porta pouco diz a população, especialmente aos mais jovens. Entretanto, sua história é diretamene ligada as idéias e a inteligência curitibana dos anos 20/30, pois ao ser fundado, em 12 de setembro de 1929, tendo como orientador o padre Luiz Gonzaga Miele, o Círculo de Estudos Bandeirantes surgia como uma reação organizada contra o clima de anticlericalismo que muitos intelectuais (inclusive o professor Dario Velloso) lideravam na Curitiba do início do século. Tanto é que o núcleo "fundado por doze bandeirantes", nasceu para transformar-se em "baluarte intelectual católico", reagindo contra o clima de "preponderância agnóstica do meio cultural curitibano, nos primeiros decênios do século XX". Sua organização centrava as decisões no Conselho Diretor, considerado órgão dirigente por excelência e responsável pelos cumprimentos de suas finalidades e de seu futuro. xxx Seus Estatutos só foram aprovados em 1935 e devidamente registrados, o que permitiu o reconhecimento da entidade como de "utilidade pública" em dezembro de 1938. O artigo 1º do Estatuto, declarava o Círculo como "uma associação civil, científica e literária de duração ilimitada que visa produzir trabalhos, especialmente de cultura nacional por meio de estudos, investigações, conferências, palestras e publicações. E durante mais de trinta anos o Círculo teve uma atividade intensa. José Loureiro Fernandes (Lisboa, 12/5/1903 - Curitiba, 16/2/1977), antropólogo e professor universitário, foi o grande dirigente da instituição - e graças a seus esforços o interventor Manoel Ribas fez a doação do terreno para a construção da sede própria, cuja pedra fundamental foi lançada em 29 de março de 1943. Na "Festa da cumieira" do prédio, Loureiro discursava resumindo o que considerava a "vitória bandeirante" para resumir os ciclos de vida da entidade em seus 15 primeiros anos. Recorrendo à comparação de Lacerda Pinto, caracterizava os anos iniciais como semelhantes o que se denominou de "homens de convicção". O edifício-sede do Círculo - possivelmente projetado pelo arquiteto João de Mio - foi inaugurado em 12 de setembro de 1945. Reunindo professores e intelectuais importantes, o Círculo de Estudos Bandeirantes seria o núcleo-base de onde nasceriam as duas faculdades de Filosofia - a Federal e, depois, a Católica, como recorda o professor Euro Brandão: "Assim, a identificação do Círculo com a vida universitária sempre foi clara". Loureiro Fernandes, o mais importante antropólogo do Paraná, também desempenhou importantíssimo trabalho junto ao Museu Paranaense e sua preocupação intelectual o levaria a franquear a biblioteca do Círculo a população, quando da inauguração da sede, pois, conforme suas palavras "Curitiba dá triste exemplo no que diz respeito as bibliotecas". O entendimento do Círculo de Estudos Bandeirantes na vida intelectual de Curitiba - e com reflexos no Estado - comporta pesquisas aprofundadas. O professor Euro Brandão tem projetos de realizar congressos, seminários e palestras fazendo a instituição retomar sua importância cultural do passado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
25/02/1987

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