Um núcleo de estudos na Curitiba dos anos vinte
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de fevereiro de 1987
Para quem passa pela rua XV de Novembro, 1050, logo após a esquina com a Rua Tibagi e menos de cem metros do Teatro Guaíra, o edifício de três andares, colunas gregas e uma arquitetura que, no mínimo, pode ser definida como "eclética", sempre foi um mistério. Quase sempre fechado, com pouquíssimas pessoas procurando-o, o nome inscrito sobre a porta pouco diz a população, especialmente aos mais jovens.
Entretanto, sua história é diretamene ligada as idéias e a inteligência curitibana dos anos 20/30, pois ao ser fundado, em 12 de setembro de 1929, tendo como orientador o padre Luiz Gonzaga Miele, o Círculo de Estudos Bandeirantes surgia como uma reação organizada contra o clima de anticlericalismo que muitos intelectuais (inclusive o professor Dario Velloso) lideravam na Curitiba do início do século.
Tanto é que o núcleo "fundado por doze bandeirantes", nasceu para transformar-se em "baluarte intelectual católico", reagindo contra o clima de "preponderância agnóstica do meio cultural curitibano, nos primeiros decênios do século XX".
Sua organização centrava as decisões no Conselho Diretor, considerado órgão dirigente por excelência e responsável pelos cumprimentos de suas finalidades e de seu futuro.
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Seus Estatutos só foram aprovados em 1935 e devidamente registrados, o que permitiu o reconhecimento da entidade como de "utilidade pública" em dezembro de 1938. O artigo 1º do Estatuto, declarava o Círculo como "uma associação civil, científica e literária de duração ilimitada que visa produzir trabalhos, especialmente de cultura nacional por meio de estudos, investigações, conferências, palestras e publicações.
E durante mais de trinta anos o Círculo teve uma atividade intensa.
José Loureiro Fernandes (Lisboa, 12/5/1903 - Curitiba, 16/2/1977), antropólogo e professor universitário, foi o grande dirigente da instituição - e graças a seus esforços o interventor Manoel Ribas fez a doação do terreno para a construção da sede própria, cuja pedra fundamental foi lançada em 29 de março de 1943. Na "Festa da cumieira" do prédio, Loureiro discursava resumindo o que considerava a "vitória bandeirante" para resumir os ciclos de vida da entidade em seus 15 primeiros anos.
Recorrendo à comparação de Lacerda Pinto, caracterizava os anos iniciais como semelhantes o que se denominou de "homens de convicção".
O edifício-sede do Círculo - possivelmente projetado pelo arquiteto João de Mio - foi inaugurado em 12 de setembro de 1945. Reunindo professores e intelectuais importantes, o Círculo de Estudos Bandeirantes seria o núcleo-base de onde nasceriam as duas faculdades de Filosofia - a Federal e, depois, a Católica, como recorda o professor Euro Brandão: "Assim, a identificação do Círculo com a vida universitária sempre foi clara". Loureiro Fernandes, o mais importante antropólogo do Paraná, também desempenhou importantíssimo trabalho junto ao Museu Paranaense e sua preocupação intelectual o levaria a franquear a biblioteca do Círculo a população, quando da inauguração da sede, pois, conforme suas palavras "Curitiba dá triste exemplo no que diz respeito as bibliotecas".
O entendimento do Círculo de Estudos Bandeirantes na vida intelectual de Curitiba - e com reflexos no Estado - comporta pesquisas aprofundadas. O professor Euro Brandão tem projetos de realizar congressos, seminários e palestras fazendo a instituição retomar sua importância cultural do passado.
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