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Aramis

Um western nota 10

Lamentável que "O Cavaleiro Solitário" (Cine Vitória, 4 sessões) tenha hoje suas últimas sessões. Há muitos anos que não se via um western tão vigoroso como este filme dirigido e interpretado por Clint Eastwood, 52 anos, que de uma carreira iniciada nos bang-bang spaghetti se transformaria num dos mais cáusticos realizadores americanos. Deixando o universo urbano, no qual tem realizado contundentes denúncias do submundo policial americano, Eastwood retoma o filão que com toda razão foi definido de "o cinema americano por excelência". Da abertura de "The Pale Rider" - com um bando de cavaleiros em disparada para atacar um acampamento dos garimpeiros - a seqüência final, com o misterioso pastor-pistoleiro (Clint), cumprida sua missão, desaparecendo no horizonte, este filme tem todas as condicionantes básicas dos mais legítimos westerns. A colocação maniqueísta dos personagens - de um lado, a ganância do bilionário pioneiro que não deseja a presença dos garimpeiros bóias-frias na área mais valorizada da região; de outro, a comunidade de bateeiros, buscando a esperança de encontrar o ouro; a violência que vai num crescendo - no início apenas a destruição de casa e mortes de animais, depois assassinatos. A chegada de um cavaleiro solitário, misterioso, sem passado e sem futuro - como tantos personagens inesquecíveis de westerns clássicos e que, generosamente, se dispõe a ajudar aos garimpeiros. Um personagem que em muitos pontos lembra Shane, o maior de todos os mitos do western cinematográfico, que Alan Ladd (1913-1964) imortalizou no filme "Os Brutos Também Amam", de George Stevens (1904-1974). Como Shane, o pastor-pistoleiro de "O Cavaleiro Solitário" é uma presença mágica, "um milagre" - como diz a adolescente que por ele se apaixona (uma versão feminina do garoto que Brandon de Wilde interpretou no filme de Stevens). Obviamente que "The Pale Rider" não chega a ter o mesmo nível de poesia e ternura de "Shane", mas dentro de uma filmografia do western, afigura-se como uma obra capaz de revitalizar este gênero. Eastwood, que já no fantasmagórico "O Estranho Sem Nome" (High Plains Drifter, 72) havia demonstrado ter absorvido as características do gênero, realizou um filme belíssimo, de grande comunicação e que, estranhamente, sai hoje de cartaz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
13
08/01/1986

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