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Aramis

Uma longa espera para o Mico chegar à tela

Ipojuca Pontes telefonou na segunda-feira para o atencioso Levi Salgado - gerente do escritório da Embrafilme, avisando que não poderá estar na cidade nesta semana, para ajudar a caitituar o lançamento de "Pedro Mico" (Lido II, 5 sessões, a partir de amanhã). Quem está lamentando é seu amigo Sebastião França, ex-assessor da Embrafilme e agora um dos assessores especiais dos secretários René Dotti; é que ele já estava organizando uma tarde de autógrafos, no bar do próprio cine Lido, para o lançamento de "Cinema Cativo" (EMW Editores, 132 páginas, 1987), o flamejante volume no qual o diretor de "Canudos" reuniu artigos publicados na imprensa nacional, nos últimos anos, denunciando erros, falcatruas e desonestidades de nosso cinema. xxx Ipojuca poderia incluir um capítulo extra em seu "Cinema Cativo" para contar o calvário que há três anos sofre "Pedro Mico", mantido nas prateleiras da Embrafilme - depois retirado da empresa e, agora, novamente a cargo da estatal para ter sua comercialização, o que começa a acontecer. Paraibano brabo, Ipojuca brigou com meio mundo cinematográfico e, particularmente, com Marco Aurélio Marcondes, na época diretor de comercialização da Embrafilme, teve feios arranca-rabos para a estréia de seu filme, rodado entre 1985/86, que concorreu no Rio Cine Festival, mas que até agora permanece inédito. No final de maio foi lançado em São Paulo e chega a Curitiba porque a CIC está com as barbas de molho: na semana passada, o Concine lacrou por 24 horas o Condor pelo descumprimento da lei de proteção ao cinema nacional e, nestas alturas, o poderoso tycoon Paulo Fucs já determinou ao executivo local da empresa, o elegante Egom Prim, que a exibição de filmes nacionais passa a ser prioridade um, até que os cinemas estejam em dia com a lei de reserva de mercado. Também o nervoso Alex Adamiu, da Paris Filmes, retardou os novos lançamentos estrangeiros de sua distribuidora e queria estrear amanhã no Palace Itália o mitológico "Sonho de Valsa", de Ana Carolina. Só que a diretora-produtora não concordou: como no Rio-São Paulo, seu badalado filme teve uma superpromoção (graças a competência de Rose Carvalho, especialista na divulgação do cinema nacional), exigiu que sua estréia seja adiada por três semanas. xxx "Pedro Mico" é um filme que tinha tudo para ter feito boa carreira em 1986, quando ficou pronto: foi estrelado por Pelé como o malandro que executa um roubo para uma quadrilha e resolve ficar com o dinheiro, passando a ser perseguido pelos bandidos, pela polícia e tendo que sobreviver no morro de Cantagalo, sendo traído por uma jovem que o ama, mas que tem ciúmes de sua relação com uma prostituta (Teresa Raquel). Com fortes conotações sociais - estabelecendo inclusive ligações com Zumbi dos Palmares, "Pedro Mico" entusiasmou Pelé (até hoje frustrado nos vários filmes que fez, inclusive em "Fuga para a vitória", de John Huston) que, no início, temia por sua imagem ao interpretar um marginal. Antônio Callado, autor da peça que, em 1957, teve sua primeira montagem, dirigida por Paulo Francis com Milton Moraes (posteriormente, Paulo Goulart, Armando Bogus e Jece Valadão também viveram o personagem), gostou da interpretação de Pelé. Oscar Niemeyer fez a cenografia desta produção que, desde o seu planejamento, se estendeu por cinco anos. A produção foi barata: apenas US$ 150 mil, porque o elenco concordou em trabalhar na base da porcentagem das rendas. Só que estas só começaram a fluir agora, com a estréia do filme. xxx Aos 45 anos, vários prêmios como documentarista ("O Homem do Caranguejo", "Canudos") e que estreou na ficção com "A Volta do Filho Pródigo" (também praticamente inédito em Curitiba, exibido apenas uma semana no Groff, Ipojuca, em "O Cinema Dilacerado" faz corajosas críticas a vários aspectos do cinema brasileiro. Em entrevista, Ipojuca criticou poderosos produtores, como Luís Carlos Barreto, e tem sido implacável em suas análises em relação a Embrafilme. Tudo isto, naturalmente, teve o seu preço - representado pelo boicote a "Pedro Mico", um filme brasileiro inquieto, criativo - partindo de uma notável peça de Antônio Callado e que merece ser visto. LEGENDA FOTO - Pelé e Teresa Raquel em "Pedro Mico", filme de Ipojuca Pontes, pronto há 3 anos e só agora sendo exibido. Estréia amanhã no Lido II.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/06/1988

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