Uma nova safra com os talentos alemães
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de novembro de 1991
Um dos eventos cinematográficos mais importantes está acontecendo praticamente sem maior divulgação, com reduzidíssimo público, no Goethe Institut, desde o dia 11 do corrente. Trata-se de uma mostra de oito longa-metragens e um média - que comprovam, antes de tudo, a qualidade técnica/profissional dos realizadores alemães. Realizados por cineastas na faixa dos 30/45 anos, formados em escolas de cinema daquele país e que encontram junto as redes nacionais de televisão condições de desenvolverem projetos dos mais interessantes, esta mostra - que futuramente merece ser reprisada - traz realizadores ainda desconhecidos no Brasil, mas tão vigorosos quanto foram Fassbinder, Schlodorff, Herzog, Wenders e tantos outros que também devem ao Goethe, a partir dos anos 70, a divulgação de seus primeiros filmes em nosso país.
Do pacote agora traduzido pelo Goethe, cinco são longa-metragens de ficção, produzidos para a televisão, que poderiam merecer lançamento em circuitos especiais e, competindo em festivais, obteriam destaque.
"O Voador" (Der Flieger), 1986, 102', de Rolf Huettner, 37 anos, é um filme delicioso sobre um jovem praticante de asa delta que sonha em quebrar o record em saltar do ponto mais alto dos Andes. Um relacionamento com uma jornalista, de quem se torna amante e o apoio da comunidade, proporcionam que realize o seu projeto - mas com um final em aberto. Bem humorado, capturando com suavidade as paisagens naturais, "Der Flieger" - que abriu a mostra, no dia 11 - merece retornar para uma exibição promovida especialmente junto aos adeptos da asa delta.
"O Benjamin - Tomada Dupla" (Doppeslstecker), 86, de Richard Blank, é uma comédia de toques surrealistas, enquanto "A Maldição" (Der Fluch), 88, do mesmo Rolf Huettner (de "O Voador") é um thriller psicológico, digno de um admirador de Hitchcok. Fotografado num parque nacional da Alemanha, utilizando o componente psicológico, um filme que resiste a um exame rigoroso. "O Ocidente Brilha" (Der Werstern Leuchtet), 1981/82 - o mais antigo dos filmes deste lote - tendo por fundo um agente secreto da RDA, procura mostrar o lado conflitante da sociedade alemã dividida até 1989. Para os admiradores da obra de Julio Cortazar, "Céu de Vidro" (Der Gçaserne Glalserne Himmel), que será apresentado hoje, terça-feira, se constitui em obra imperdível. Nina Grosse, de Munique, 33 anos, nesta sua obra de estréia, procurou o gênero "noir", a partir de uma história sobre um estrangulador de beldades, "mais existencial que detetivesco".
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