Uma tese na Inglaterra sobre a nossa educação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de novembro de 1985
Uma experiência inédita em termos de educação do primeiro grau, iniciada no município de Campo Largo há três anos - e posteriormente ampliada para 39 outras unidades em 28 municípios paranaenses - sofreu desativação - e mesmo boicote - da ex-superintendente da Fundepar, a sra. Lilian Anna Wachowicz, que ao assumir o cargo (da qual seria demitida no ano passado) não entendeu a sua importância e, com isto, retardou sua implantação em outras comunidades.
Agora, o professor que idealizou o projeto - denominado de Escolas Consolidadas - Roberval Eloy Pereira, 44 anos, quatro cursos de especialização em Educação no Exterior, funcionário por 20 anos da Fundepar - 11 dos quais na chefia do Serviço de Planejamento (injustamente demitido logo no início do governo José Richa), embarcou para a Inglaterra, onde fará o curso de Doutorado no Institution of Education na University of London.
Justamente o tema de sua tese será sobre até que ponto uma mudança político-administrativa pode interferir numa alternativa de soluções para a melhoria do ensino para a clientela residente na zona rural e a resposta destas comunidades a proposta em si.
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Foi baseado no "movimento de Consolidação das Escolas Rurais", surgido na segunda metade do século passado, nos Estados Unidos, que Roberval Eloy Pereira desenvolveu sua tese de Mestrado em Pesquisa Educacional na San Digo Seta University, entre 1971/72, pensando já numa adequação da experiência americana para a realidade brasileira.
Como resultado propôs as Escolas Consolidadas. que embora com um desenvolvimento acadêmico em sua formulação é de uma praticabilidade obvia. Dentro das características de cada região - e num trabalho integrado especialmente ao sistema de transporte - trata-se de concentrar as escolas do primeiro grau, de forma a permitir melhor qualidade de ensino, maior [freqüência] dos alunos e menor taxa de repetição.
Assim a economia proporcionada com a desativação de escolas isoladas (nas quais é das maiores as taxas de evasão, repetência e retenção dos alunos) de transporte dos escolares, os quais concentrados em escolas menores, passam a receber um ensino de melhor qualidade.
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Agora, ao viajar para Londres (onde permanecerá dois anos, com bolsa da Capes), Roberval levou amplo material mostrando os (bons) resultados obtidos no Paraná. Além dos números positivos comprovados na Escola Consolidada Augusto Pires de Paula, no distrito de Três Corregos, em Campo Largo (onde o projeto foi pioneiramente implantado a partir de 15/5/1982), Roberval percorreu mais de seis mil quilômetros para gravar em video-tape 16 horas de depoimentos sobre os resultados em 35 outras Escolas Consolidadas em 28 municípios onde o projeto foi implantado, apesar de ter sofrido, entre 83/84, a má vontade e intolerância da ex-superintendente da Fundepar (posteriormente, a própria secretária Gilda Poli, da Educação, veio a apoiar o projeto). O programa se integraria ao Pró-Rural, parcialmente financiado pelo BID, com envolvimento de sete Secretarias de Estado, numa execução prevista para um período de 5 anos - o que, de fato, não chegou a acontecer inteiramente.
A polêmica que se seguiu a posse do governo Richa em relação ao projeto fez reduzir seu aproveitamento, mas apesar disto, em vários municípios, os resultados são positivos (Campo Largo, Bituruna, Tijucas do Sul, Irati, Arapoti, Ponta Grossa, etc.), conforme testemunhos colhidos por Roberval em seu video-tape.
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Roberval Eloy Pereira, que é professor da Universidade Federal do Paraná, idealizador e responsável pela introdução deste projeto, se propôs agora a aprofundar o estudo nas quase 400 escolas que deveriam ter sua desativação total ou parcial com vistas as "Escolas Consolidadas", abordando os aspectos evasão, repetência, reprovação, defasagem, idade/séries, no período 1976/85, dentro da ótica dos prejuízos que a [interrupção] - mesmo que temporária - do programa, causou a educação de primeiro grau no Paraná.
Como o Institut of Education, em Londres, tem grande preocupação com projetos de educação comparada e análise de conteúdo (e para tanto ali há mestres como Widdowosn, Wilkons, Torian, entre outros), o professor Pereira mereceu a bolsa de estudos para, entre 1985/86, desenvolver uma tese de Doutoramento, tendo por base, justamente, o projeto iniciado no Paraná e que, se não fosse a intolerância da ex-superintendente da Fundepar, já estaria bem mais desenvolvido.
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