Waldir, um cavaquinho mineiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de abril de 1985
Entre as gravadoras fora do eixo Rio - São Paulo, a Bemol de Belo Horizonte, é uma das que tem maior - e melhor - atividade. Dirigida pela produtora Esther M. Xavier, a etiqueta mineira tem um catalágo primoroso ao qual regularmente se acresentam novos discos - muitos dos quais têm distribuição nacional através da Barclay ( ex-Ariola ).
Abrigando compositores e intérpretes de várias tendências, a Bemol possibilita que se conheça melhor a rica música das Alterosas, com tantos talentos ainda inéditos - ao lado dos já consagrados, especialmente a chamada " Turma da Esquina " que Milton Nascimento soube promover nacionalmente.
Tavinho Moura, um dos mais premiados compositores de trilhas sonoras o sinema brasileiro, violonista, compositor e cantor de rara inspiração, fez agora uma edição de belissima trilha do filme "Noites do Setão ", que inspirado no romance de Guimarães Rosa, se tranformou na grande surpresa do Festival de Gramado, no ano passado. Patrocinado inicialmente como discobrinde, o elepê de Tavinho tem agora uma distribução comercial, embora ainda não seja um lançamento nacional - o que deverá acontecer através da associação com a Barclay.
Já a própria Bemol, entre outros discos recentes trouxe um interessante elepê com Solange Borges ( " Bom dia Universo ") ,mais uma talentosa voz da musical familia de Montes Claros. Além de duas esplêndidas revelações masculinas : Rubinho do Vale ( " Violas e Tambores " ) e Márcio Galvão, artistas que, por sua importância, merecerao registro posterior. Waldir Silva, veterano executante de cavaquinho, que durante muitos anos foi telgrafista do antigo DCT e da Varig, em Belo Horizonte, chega agora ao seu 12º elepê, cuidadosa produção de Esther Xavier, com participações de outros bons músicos mineiros : Reinaldo Rocha na Clarineta; Cícero no acordeon; Hélio Pereira e Chiquinho nos violões de 6 e 7 cordas, respectivamente; Dodô do cavaquinho no cavaquinho base; Ezequiel Lima no baixo; Lincoln e Beléu na bateria e mais três percussionistas - Affonso Maluf e Isaias e Pedrão. Também a se destacar a participação especial de Célio Balona ( excelente tecladista, já com elepês solos e que no ano passado fez execursão de orgão e "Crummar" em cinco faixas.
O único ponto dispensável do disco, nos parece, é a declamação do locutor Luziário Pinto na sempre enternecedora "Eu Sei Que Vou Te Amar " ( Tom / Vinicius ), que dispensa qualquer texto - só justificável na gravação do próprio Vinicius. O repertório de Waldir Silva é eclético, misturando mambo ( "Um Cavaquinho no Mambo", parceria com Wagner Saraiva), uma curiosa "canção" atribuida a Gilberto Freire ( que não deve ser o Mestre de Apipicos ) - "Judaiba ", Despertar da Montanha " de Eduardo Souto, "Terra Seca" de Ari Barroco, " standards" internacionais como "Torna a Sorriento", "I Can't Stop Loving You " e " The End ". Ao menos um choro inédito, para encerrar o disco : " Vidalizando " de Dodô do Cavaquinho.
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