O esvaziamento da Funarte com as demissões previstas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de fevereiro de 1989
Num telex de mais de 300 linhas, a Associação dos Funcionários da Fundação Nacional de Artes analisa profundamente a questão das demissões e mostra o impacto que a perda de 102 dos atuais 420 funcionários terá nos programas desenvolvidos pelos diversos Institutos e Centros que compõem a Fundação.
Em dez anos, a Funarte teve um crescimento de funcionários de apenas 14,4%, embora neste período várias unidades tenham se desenvolvido realizando um trabalho realmente produtivo.
Na parte inicial do texto, é feita uma interessante observação.
"Não somente devem ser consideradas as conseqüências diretas, institucionais, mas também as perdas indiretas, bem mais amplas, uma vez que a Funarte aciona continuamente um grande número de profissionais em função de suas programações e de seus eventos, ampliando assim consideravelmente o universo real de sua atuação. O mesmo se aplica aos vínculos criados junto a outras entidades parceiras que por extensão veriam igualmente inviabilizadas as suas opções específicas. Do ponto de vista do público e das clientelas atingidas, há que considerar-se sua imensa e inevitável redução dadas as restrições mais uma vez impostas à Fundação".
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Em números e atividades, eis algumas conseqüências caso se concretizem os cortes na Funarte.
O Instituto Nacional de Fotografia, criado em 1984, perderá 15 de seus 35 funcionários (42,8%) e vários projetos importantes, além do próprio laboratório de fotografia, serão desativados.
Criado em 1987, o Instituto Nacional de Artes Gráficas - primeiro órgão do setor público brasileiro destinado a valorizar a questão gráfica - perderá dois de seus técnicos e três funcionários administrativos, o que inviabilizará uma dezena de projetos iniciados.
No Instituto Nacional de Folclore, 12 dos 41 funcionários estão ameaçados. Conseqüência: o Museu de Folclore Edson Carneiro perderá sua unidade de conservação, reponsável pela manutenção de um acervo de 10 mil peças; a unidade de antropologia encerrará suas atividades, extiguindo-se também o projeto do artista popular e seus meios. Vários outros setores - como a Biblioteca Amadeu Amaral, a Coordenadoria de Projetos, o Núcleo de Edições etc, também estarão esvaziados a partir das demissões.
O Instituto Nacional de Artes Plásticas perderá 6 de seus técnicos, especializados pela produção de programas, como o Projeto Macunaíma, as exposições da Galeria Funarte e o Salão Nacional de Artes Plásticas.
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Perda maior haverá no Instituto Nacional de Música, cujo universo imediato de trabalho beneficia cerca de 74 mil músicos e intérpretes, 200 compositores, 270 pesquisadores, 54 orquestras, 650 escolas (as quais abrangem, aproximadamente 32 mil alunos e 3250 professores), além de cerca de 200 artesãos e técnicos em instrumentos musicais.
O corte de 25% na área de recursos humanos na Divisão de Música Popular a inviabilizará no seu todo. O universo do programa da DMP poderia ser resumido num só projeto, o Pixinguinha, que já chegou a realizar, num só ano, 740 concertos de música popular em 14 cidades de 14 estados brasileiros.
Administrou elencos de artistas e profissionais de música na ordem de 300 pessoas, abrangendo quase um milhão de espectadores.
Concretizados os cortes, sem critérios, atingir-se-á também a administração de outros projetos importantes como o Lúcio Rangel (único na área de edição de livros sobre MPB) e o Radamés Gnatalli (único também na área de edição de discos didáticos).
As salas da Funarte do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília - que se constituem em espaços alternativos para músicos emergentes, valores tradicionais e da música experimental, também serão praticamente desativados. O Projeto Ayrton Barbosa (edição de partituras) também sofrerá cortes.
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Duas outras unidades que serão atingidas: a assessoria técnica, que edita o boletim "Fazendo Artes" (única publicação na área de arte-educação) e o Núcleo de Estudos e Pesquisas, que terá um corte de 75% em seu pessoal técnico. Esse núcleo foi quem viabilizou os cursos "Os Sentidos da Paixão" e "Olhar", que se tornaram sucessos em vários estados (em Curitiba, apresentados no Sesc da Esquina) e que tiveram as palestras dos professores que deles participaram editadas em livros.
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