20 anos depois, com a magia das emoções
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de setembro de 1986
Para muitos, "Um homem, um mulher" foi o mais belo filme publicitário da história. Parecia até um comercial de mustang. Lelouch nega que a Ford tenha dado qualquer ajuda a não ser o empréstimo dos veículos. Como agora, a Lancia e a Suzuki cederam os carros e os barcos para "Um homem, uma mulher: 20 anos depois". Mas o fato é que as imagens do filme que arrebatou prêmios e emocionou mulhões de espectadores entre 1966/68 (quando foi lançado no Brasil) permanecem na retina dos espectadores. Assim como a trilha sonora de Francis Lai - com algumas canções de Pierre Barrouh (e até a apropriação, sem creditar Vinícius e Baden, de "Água de Beber") está entre as 10 melhores sound tracks da história do cinema.
Duas décadas depois, "Um homem, uma mulher" é também emoção em estado puro. Para os críticos que sempre reduziram o esteticismo e a beleza das imagens de Lelouch, o filme é um prato cheio para ser reduzido a pó. Mas quem vê beleza e a emoção, vai adorar este reencontro de duas pessoas - Jean Louis (Trintignant) e Anne (Anouk Aimée), que tinham um belo e sofrido caso de amor: ele um destemido piloto, ela uma jovem viúva, que se conhecem na escola onde seus filhos estudam. Um caso obscurecido por sombras do passado, que, a princípio, os unem, depois, criam dúvidas e, finalmente, terminam sua relação.
Lelouch explica que este novo filme é original e não uma seqüência - "As pessoas mudam. Nós não estamos criando as vidas das mesmas pessoas depois de 20 anos. Eu quis também demonstrar que nossas vidas são entrecruzadas por uma infinidade de outras vidas."
Eles se reencontram 20 anos depois. Anne é agora produtora de cinema. Jean louis ainda está ligado às corridas, organizando um desafiado rali Paris-Dakar. Ela não voltou a casar e ele está envolvido com uma jovem 20 anos mais moça (Marie Sophie Pochat). E o cinema dentro do cinema faz o fascínio do reencontro. Verdades ou mentiras numa maçaroca de emoções, tudo visualmente projetado com as mais belas imagens de Paris, de Deauville ou do deserto do Saara - numa ação intensa, que faz com que se desfrute do filme com um sabor único.
"Um homem, uma mulher: 20 anos depois" é daqueles momentos de encantamentos, no qual realidade & ficção, nostalgia, passado e presente se argamassam numa construção belíssima. Como diz Jean Louis, ao contemplar uma sala de montagem num estúdio de cinema:
- É a magia. É mágico. Lelouch é um cineasta mágico na beleza de suas imagens. E traduz sentimentos que nos fazem chorar. Hoje, como há 20 anos passados.
Enviar novo comentário