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Aramis

Almir, Eliane, Zeca, Pérola... (é a nova geração de vigor)

Há oito anos, Beth Carvalho já havia percebido que nem só de Cartola, Nelson Cavaquinho e outros eternos compositores populares poderia sobreviver artisticamente com elepês de primeira categoria. E assim, junto ao Cacique de Ramos descobriu coisas como o banjo de Almir Guineto, e repique de Ubirany e o tam-tam do Sereno e do Mauro, estes últimos de percussão tocados com a mão ao invés de baquetas. Uma das características do pagode - como observa Ney Lopes - é a instrumentação diferente, com a marcação feita pelo tantã - instrumento muito popular nos anos 50 entre os chamados "conjuntos de rumbeiros" e entre os trios vocais-instrumentais estilo Irakitã e Nagô. Mas não é uma marcação pura e simples, já que, enquanto a mão direita do instrumentista percute o couro, a mão esquerda contraponteia no corpo, geralmente de madeira, do instrumento. o mesmo acontece no "repique", um tambor bem menor, onde a importância da batida - criada pelo saudoso percusionista Doutor e registrada por ele em inúmeras gravações de samba dos anos 70 - está mais em sincopação conseguida com a mão esquerda percutindo o corpo, quase sempre metálico do instrumento. Um outro dado importante é a utilização do banjo, que, harmonizando e percutindo, dá um balanço todo especial ao ritmo do novo samba. Estas observações são importantes para se entender e dar a devida apreciação a grupos como o Fundo de Quintal, que em cinco elepês trouxe músicas marcantes, quase sempre de seus integrantes - embora vez por outra, homenageiam grandes mestres - como fazem em "Divina Luz", ao interpretar "Amor Proibido" de Cartola e "Chega de padecer", de Mijinha. Almir Guineto, ex-integrante do Fundo de Quintal, que ajudou a se desenvolver em 1971, tem profundas raízes no samba. Carioca do Salgueiro, filho de pais compositores, foi diretor da bateria da Escola de Samba e, em São Paulo, teve três sambas-enredo de sua autoria levados para a avenida pela Escola de Samba Vai-Vai. Ainda em São Paulo, Almir foi integrante do grupo Originais do Samba. Em 1981, no MPB-Shell classificou "Mordomias" em terceiro lugar. Bem mais jovem do que Almir, Zeca Pagodinho (Jessé Gomes da Silva Filho), 27 anos, aos 13 anos já se embrenhava em batucadas nos Boêmios de Irajá. Magro, descuidado - ao ponto de nem ter documentos - Pagodinho é entretanto um compositor fino e observador, como mostra, por exemplo em "S.P.C", um de seus sambas mais divulgados, em que conta a história de um amor mal sucedido que acaba no Serviço de Proteção ao Crédito. Trabalhando com muitos parceiros - Beto Sem Braço, Wilson Moreira, Arlindo Cruz - Zeca Pagodinho tem uma presença jovem neste movimento de revalorização do samba, com sua voz gostosa e jeito malandro de cantar que, como diz Rachel Valença, tem muito a ver com a brejeirice das letras inspiradas no cotidiano do frequentador habitual de pagodes. AS MULHERES - Duas pagodeiras surgiram até agora com força: Eliane Tavares de Machado e Jovelina Pérola Negra, ambas já com discos individuais na praça. Carioca do Morro dos Afonsos, na Tijuca, filha da sambista Lidia - que era a pastora da Unidos da Tijuca e do pai Manoel "Gambá", fã de Elsa Soares e Nubia Lafayette, Elaine canta gostoso e suave, com um repertório de primeiro nível, com músicas marcantes como "Moenda" (Ney Lopes), "Até o Tempo Pára" (Zé Catimba/ Ratinho) e "Vinho Veneno" (Beto Sem Braço/ Carlito Cavalcanti). Casada com o presidente da E.S. Engenho da Rainha, 4 filhos, Eliane tem uma voz diferente, caindo pro agudo - o que já revelava no disco "Raça Brasileira" - um pau-de-sebo com vários pagodeiros, e confirma agora, em seu elepê solo. Já Jovelina Pérola Negra, carioca de Botafogo, mas residente (ou seria melor dizer, sobrevivente?) da Baixada Fluminense há alguns anos começou a se profissionalizar no Vegas Sport Clube, em Coelho Neto. Apesar de ser uma pagodeira tarimbada, sá no ano passado gravou as faixas "Pomba-Rolou", "Feirinha na Pavuna" e "Bagaça da Laranja" no lp "Raça Brasileira". As vezes sua voz lembra uma Clementina de Jesus mais jovem, mas tem personalidade muito própria - o que a faz ser observada com toda atenção, neste salutar momento do pagode em alta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
21/09/1986

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