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Aramis

O melhor pagode com os mestres do samba

Uma das características do samba para obter comunicação é mesclar em sua linguagem popular as pitadas do humor bem brasileiro - tradicionalmente carioca. Esta fórmula, desde que não seja explorada à exaustão (como faz, por exemplo, Dicró) pode resultar em pequenos clássicos da sabedoria popular - como já nos ensinava o maior de todos os sambistas, Noel Rosa (1910-1937). A dupla Wilson Moreira e Nei Lopes está entre as que têm maior equilíbrio no uso do humor nas suas composições. Nei, advogado, pesquisador de cultura popular, dois livros publicados, uma voz doce e suave que lembra Elton Medeiros, encontrou em Wilson Moreira, guarda carcerário, o parceiro mais identificado com seu estilo musical. Juntos vêm criando músicas de grande comunicação e fazem agora um novo elepê ("O Partido Muito! Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes", Odeon), com 13 excelentes composições. Embora trabalhando normalmente juntos, Wilson e Nei também fazem músicas isoladas ou com outros parceiros. Nei gravou, inclusive, um bonito lp pela Lira Paulistana/ Continental, há 2 anos e, no ano passado produziu o esplêndido álbum com sambas ligados ao Natal, numa edição patrocinada pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Coca-Cola. Aqui, além de seis aparceiras com Wilson Moreira, Nei comparece com os líricos "Jardim do Coração" e "Tereza Firmeza" (somente de sua autoria) e as parcerias com Zé Luiz ("Caído com Elegância") é Mauro do salgueiro ("Raio de Luar"). Wilson também mostra ser letrista e compositor em "Aquele Quê e "O Mais Belo Requinte ", além de dividir uma outra parceria com Jurandir Cândido: "Eu Já Pedi". São sambas esplêndidos, nos quais Nei e Wilson caminham por vários temas, com resultado dos mais positivos. xxx Como acompanhantes da cantora Clara Nunes (1943-1983), o conjunto Nosso Samba tornou-se conhecido nacionalmente. Mas antes do encontro com aquela cantora - o que aconteceu em 1971 - o Nosso Samba, grupo lançado por salvador Batista no programa "Voz do Morro" ( Rádio Tupi, Rio, 1967), vinha já gravando seus elepês. Requisitados para acompanhar grandes nomes da MPB (de Chico Buarque a Bezerra da Silva), o Nosso Samba havia interrompido, em termos fonográficos, sua carreira a partir de 1980. Felizmente, o grupo retorna ("Andanças pelo Mundo", Continental), com um disco animado e bem produzido (Carvalho), nos quais Genaro (ganza), Carlinhos (cavaquinho), Gordinho (surdo), Stênio (tamborim), Barbosa (reco-reco) e Cabelinho (agogô), mostram estar em plena forma. O disco é basicamente uma homenagem a Clara Nunes, com uma coletânea dos grandes sucessos da cantora mineira. Mas há também composições novas, como "Andanças pelo mundo "(Balinha/ Hercules / Marquinhos Lessa) ao lado das belíssimas "Louca" (Wilson Moreira/ Nei Lopes) e "Eu Já Pedi" ( Wilson Moreira/ Jurandyr Cândido). xxx Há algumas semanas já havíamos registrado o disc-mix de Alcione, com "Mesa de Bar", de Gonzaguinha, trailer de seu novo lp. Agora, ouvindo-se o elepê "Fogo da Vida", (RCA) temos um prazer imenso ao encontrarmos uma cantora que, cada vez mais, procura solidificar sua carreira e repertório. Alcione Nazaré, 38 anos, maranhense de São Luiz, sem deixar de, como sempre faz, saudar o seu Estado (em "Ixê, Maninha" de Nei Lopes/ Cláudio Jorge) e mergulhar em sambas gostosos - mostrar também o seu lado romântico, numa surpreendente parceria de Michael Sullivan/ Paulo Massadas - "Nem Morta", ou na já conhecia "Mesa de Bar", com a presença do autor Gonzaguinha. Há ótimas faixas, como "Do Jeito que Tocar Eu Danço" (Guilherme Nascimento/ Roberto Serrão), gravada ao vivo com a Banda da PM do Rio de Janeiro. De Franco Lattari, médico e compositor, autor do sucesso de seu disco anterior "Tá que tá"), Alcione gravou dois novos sambas: "Faz Corpo Mole" e "Coco Partido". Além das esplêndidas músicas, um presente extra no disco: o belo encarte com inteligente e amoroso texto de Nei Lopes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
38
15/09/1985

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