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Aramis

As flores em vida para mestre Nelson

"Se alguém quiser fazer por mim que faça agora/ Me dê as flores em vida e carinho, a mão amiga para aliviar meus ais depois que eu me chamar saudade não preciso de vaidade quero preces e nada mais." Os amigos de Nelson Cavaquinho (Nelson Antonio da Silva, RJ, 28/10/1910) entenderam o seu pedido. E lhe deram um disco realmente à altura de seu talento: "As Flores em Vida" (Estúdio Eldorado, março/85). Muitos merecem os cumprimentos por essa realização. Aluízio Falcão, diretor artístico do Eldorado, sempre preocupado em valorizar a nossa melhor (e mais esquecida) MPB, deu força a Carlinhos Vergueiro, Christina Buarque e Mauro Duarte pudessem realizar um belíssimo documento em homenagem a um dos maiores poetas populares do País. Edson José Alves fez os arranjos e intérpretes dos mais significativos se [encontrarem] para valorizar as músicas do mestre Cavaquinho. O próprio Nelson sabe-se muito bem nunca foi cantor - e os quatro elepês que gravou até hoje - e mais participações avulsas em uma dezena de outros discos valem mais pelo registro histórico de sua voz anasalada, quase difícil de ser entendida em certos momentos. Em compensação, quanta beleza e sabedoria ele tem espalhado em seus sambas - comparáveis ao que de melhor o inesquecível Cartola produziu. A voz de Nelson Cavaquinho está presente, em cinco faixas: "Devia Ser Condenada" (parceria com Cartola), "Ninho Desfeito" (parceria com Wilson Canegal). "Não te Dói a Consciência" (com Ary Monteiro/Augusto Garcez) e duas parcerias com Guilherme de Brito: "Quem Chora Sempre Tem Razão" (nesta com a presença de Paulinho da Viola) e "Minha Honestidade Vale Ouro". As demais faixas ficaram por conta de seus admiradores e amigos, que com muito prazer aceitaram participar: Chico Buarque interpreta com sinceridade "Dona Carola (parceria com Norival Bahia/ Walto Feitosa); Christina Buarque em "Aquele Bilhetinho" (parceria com Garcez/Canegal); Beth, Vergueiro, Chico, Bosco, Paulinho da Viola, Paulo Cesar Pinheiro, mais Mauro Duarte, Bebel e Bee. Um documento emocionante. Um grande disco para um compositor maior. xxx A Nelson do Cavaquinho todas as homenagens merecidas. Mas é importante também conhecer novos sambistas. Novos que, na verdade, já são veteranos nas quadras das escolas de samba do Rio como Silas de Andrade, puxador de samba do [Império] Serrano entre 1966/70 e que há 10 anos vem buscando seu espaço. Carioca do Morro da Serrinha, Silas chegou a gravar dois compactos independentes, mas só após participar do elepê "Samba de Pagode no Botequim do Império" ganhou condições para fazer seu primeiro elepê-solo. E isto acontece neste absorvente "Fruto da Raiz" (Continental, 1985). A vivência com sambistas de valor, lhe facilitou a escolha de um bom repertório, especialmente valorizando a ala da Portela: Monarco e Radinho em "Minha Adoração"; Carlinhos Madureira, Iran Silva e Neném do Cavaco em "Minha Cigana", deliciosa letra que fala de um cliente que se apaixona pela cigana sortista. Wilson Moreira e Nei Lopes, dupla das mais fortes, comparece com "Mironga do Mato", enquanto o próprio Silas divide três parcerias com o sambista Café: "Versos da Verdade", "Dilema" e "Fruto da Raiz". Um disco vigoroso e de um talento sincero. Vale a pena conhecê-lo. LEGENDA FOTO - Nelson Cavaquinho: um belo disco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
16/06/1985

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